Seis estados da Amazônia têm peixes contaminados por mercúrio, aponta estudo
A concentração do metal chega a ser 21,3% acima do permitido
Em seis estados da Amazônia brasileira, os peixes consumidos pela população estão contaminados por mercúrio, com concentração do metal 21,3% acima do estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A lista inclui Roraima, Acre, Rondônia, Amazonas Pará, Amapá e Roraima. Os dados fazem parte de uma pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio, da Fundação Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz), da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), Greenpeace, Iepé, Instituto Socioambiental e WWF-Brasil, divulgados nesta terça-feira, 30.
Roraima tem o maior índice de contaminação: 40% dos peixes analisados possuem índices do metal pesado altamente tóxico superior ao limite recomendado pelas regras sanitárias e de saúde. No estado, a análise foi feita em Boa Vista. Os menores indicadores estão no Pará, com 15,8%, e no Amapá, com 11,4%. No Pará, os municípios analisados foram: Altamira, Belém, Itaituba, Oriximiná, Santarém e São Félix do Xingu.
No Acre, em Rio Branco, a potencial ingestão de mercúrio ultrapassou de 6,9 a 31,5 vezes a dose de referência indicada pela Agência de Proteção Ambiental do governo norteamericano (EPA). Entre os grupos mais vulneráveis estão as mulheres em idade fértil - ingerindo até 9 vezes mais mercúrio do que a dose preconizada - e crianças de 2 a 4 anos - até 31 vezes mais do que o aconselhado.
“Estamos diante de um problema de saúde pública. Sabemos que a contaminação é mais grave para as mulheres grávidas, já que o feto pode sofrer distúrbios neurológicos, danos aos rins e ao sistema cardiovascular. Já as crianças podem apresentar dificuldades motoras e cognitivas, incluindo problemas na fala e no processo de aprendizagem. De forma geral, os efeitos são perigosos, muitas vezes irreversíveis, os sintomas podem aparecer após meses ou anos seguidos de exposição. É urgente a criação de políticas públicas para atender as pessoas já afetadas pela contaminação por mercúrio e medidas preventivas, de controle de uso”, alerta Paulo Basta, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz.
O estudo analisa que, apesar dos inúmeros benefícios associados ao consumo regular de peixes - principal fonte de proteína para uma boa parcela da população amazônida - que incluem a redução dos níveis de colesterol no sangue, a diminuição do risco de infarto do miocárdio e a melhoria do desenvolvimento cognitivo -, a crescente contaminação do pescado representa um alerta crítico para saúde pública na Amazônia e sugerem que os dados da pesquisa devem subsidiar ações estratégicas das autoridades.
As coletas de amostras de peixes foram realizadas em 17 municípios amazônicos, totalizando seis estados amostrados, no período de março/2021 a setembro/2022. Os peixes foram adquiridos em mercados públicos, feiras-livres ou com pescadores nos pontos de desembarque pesqueiro. Sempre que possível foram amostradas ao menos três diferentes espécies em cada guilda trófica (carnívoro, onívoro, detritívoro e herbívoro) e no mínimo três indivíduos de cada espécie, com diferentes tamanhos.
Causa e solução
Para os pesquisadores, o problema da contaminação tem relação com o avanço de garimpos de ouro: "o avanço das atividades ilegais de garimpo demonstra uma forte associação com os elevados níveis de mercúrio detectados nos pescados da região, e evidencia a grande interdependência regional". Portanto, o combate ao problema partiria justamente deste ponto, na visão dos autores:
"A recomendação principal deve ser enfocada na garantia da segurança sobre os territórios da Amazônia e na erradicação de garimpos ilegais de ouro, bem como de outras atividades humanas ilegais que aumentam a disponibilidade de mercúrio para o ambiente, tais como
desmatamento e queimadas", afirma o estudo.
Além disso, o estudo pontua a valorização da cadeia produtiva do pescado devidamente regulada e fiscalizada: "Atualmente existem mais de 350 mil pescadores profissionais cadastrados no país, com uma produção pesqueira estimada em aproximadamente 200.000 toneladas anuais, gerando uma movimentação econômica para a pesca continental estimada em U$D 828 milhões. Vale lembrar que a maior parte das pescarias continentais são oriundas da região Amazônica. Pescadores afetados por eventuais controles e reduções de comercialização e consumo de pescados devem ser amparados por programas sociais, gerenciados por estados e pelo governo federal, afinal estes profissionais também são vítimas desse processo de contaminação por mercúrio na Amazônia", afirma.
Média de peixes contaminados por estado
Roraima: 40%
Acre: 35,90%
Rondônia: 26,10%
Amazonas: 22,50%
Pará: 15,80%
Amapá: 11,40%
Níveis de mercúrio detectados em amostras de pescado consumidos em municípios do Pará
Município / % acima ou igual ao limite aceitável da OMS (0,5 μg/g)
São Félix do Xingu - 29,41
Itaituba - 21,13
Oriximiná - 14,08
Altamira - 13,95
Belém - 8,57
Santarém - 7,14
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