Seca do rio revela artefatos arqueológicos indígenas no Marajó
Peças ancestrais de cerâmica foram encontradas por comunidades do Pará
Peças ancestrais de cerâmica marajoara foram encontradas por comunidades no Pará após a seca que afetou o nível da água no Alto Rio Anajás. Ao todo, os achados formam quatro sítios arqueológicos: dois na comunidade da Pedra e dois na comunidade Laranjal. As peças foram catalogadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG).
"Nós fomos procurados por um grupo de gestores do município de Anajás com imagens impactantes, de muitas cerâmicas aflorando na superfície das águas e uma preocupação em relação à integridade desses objetos", conta a curadora da coleção arqueológica do Museu Goeldi, Helena Pinto Lima.
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A cerâmica marajoara sempre esteve no centro dos debates sobre complexidade social na Amazônia. Esse patrimônio tem sido pesquisado desde o século XIX, sobretudo na região chamada “Marajó dos Campos”, onde predominam as planícies alagadas. Os estudos indicam que essa área já era habitada a cerca de 3.500 anos por grupos que tinham como principais atividades a caça, a pesca, a coleta e o cultivo da mandioca. Pesquisas arqueológicas mostram, ainda, que essas sociedades foram responsáveis pela produção em cerâmica de uso principalmente doméstico, além do manejo ecológico dos recursos naturais expresso nos tesos, por exemplo.
Helena Lima lembra que a região do Marajó já foi alvo de pesquisas científicas nas últimas décadas. Ela e o arqueólogo Carlos Barbosa integraram a equipe do projeto de doutorado da antropóloga Denise Pahl Schaan (1962-2018), que atuou tanto no Museu Goeldi quanto na Universidade Federal do Pará, e deixou uma coleção arqueológica sob cuidados da secretaria de cultura do município.
A missão emergencial em Anajás é classificada como um “reencontro com emoções” pelos pesquisadores ao mesmo tempo em que instiga e indica novos desafios para a pesquisa relacionada aos povos marajoaras.
“Os novos achados são importantes para a arqueologia amazônica. Encontramos nesta breve visita um padrão de ocorrência de tesos (aterros construídos pelos povos do Marajó) que aparentemente se replica ao longo do Anajás e outras regiões a leste do Marajó. Talvez aqui estejamos no que foi o início de organização regional de uma sociedade com altíssimo conhecimento do ambiente, que criou e replicou sistemas de assentamentos altamente interconectados. Trata-se de um verdadeiro urbanismo amazônico muito antigo”, explica a pesquisadora.
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