Sairé 2022: Tudo pronto para a disputa entre os botos Cor de Rosa e Tucuxi
O festival une o profano e o religioso em um festejo de cinco dias que leva a população local e turistas até a vila de Alter do Chão
A vila balneária de Alter do Chão, localizada a 37 km da zona urbana do município de Santarém, vive a expectativa para a realização da maior manifestação cultural do oeste do Pará - o Çairé. O festival une o profano e o religioso em um festejo de cinco dias que leva a população local e turistas até a vila. A expectativa é que do dia 15 ao dia 19 de setembro a movimentação financeira seja de cerca de 30 milhões de reais, com as atividades culturais e turísticas que envolvem direta e indiretamente o evento, de acordo com a secretaria de turismo do município.
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O secretário de turismo, Alaércio Cardoso, detalhou que o público esperado para a edição deste ano é de aproximadamente 100 mil pessoas, sendo 40 mil turistas de todos os lugares do Brasil. “Esse público deve gerar um incremento de R$20 a R$30 milhões na economia local de Santarém”, relatou.
A programação presencial do Çairé ficou paralisada por dois anos, devido a pandemia da covid-19. O retorno das apresentações no lago dos botos e o rito religioso nas ruas de Alter tem levado ao aos comerciantes de Santarém a sensação positiva de crescimento exponencial nas vendas. Muitos já estão se organizando para atuarem nas pequenas barracas disponibilizadas dentro da estrutura da festa.
O guia turístico André Ferreira Pinho, da Associação de Turismo Fluvial de Alter do Chão (ATUFA), já está na expectativa para receber os turistas. “ Com as praias começando a aparecer está tendo muita procura de passeios, muitas reservas para o mês de setembro”, contou.
Para ele, esta é a oportunidade para se recuperar do período do inverno, quando a cheia do rio cobriu todas as praias de Alter do Chão e os trabalhadores do ramo do turismo passaram por maus momentos.
“Pretendo fazer de 20 a 25 passeios no mês de setembro, isso vai representar um ganho bruto em torno de 20 mil reais”, animou-se.
Festa acontece há cerca de 300 anos
O historiador Sidney Canto relata que o Çairé data de existência há mais ou menos 300 anos, tendo origem nas missões evangelizadoras dos padres jesuítas com os índios na Amazônia, sendo a mais antiga manifestação da cultura do norte do Brasil.
Ainda segundo o pesquisador, a parte religiosa do Çairé também já foi realizada em outros municípios, como Monte Alegre e até mesmo em Belém, desde o século XVII.
Até meados do século passado, o evento cultural era puramente religioso. Hoje, a comemoração une o rito religioso, com suas ladainhas e rezas, ao profano, com shows e apresentações artísticas, danças típicas e a disputa dos boos Tucuxi e Cor de Rosa, que foram agregados em 1997.
Festival dos botos
A disputa entre o Tucuxi e Cor de Rosa destaca na essência uma lenda secular onde o boto vira homem nas noites de lua cheia para seduzir donzelas.
O boto Cor de Rosa trará o enredo intitulado "Macucauá: Celebrar a vida" e o Tucuxi levará ao centro do Sairódromo o tema “Amor que faz a tradição”. Outra novidade deste ano é que cada apresentação será em dias alternados.
No galpão do Boto Tucuxi, a equipe de artistas trabalha na montagem das alegorias.
“A diretoria está muito focada nos trabalhos em busca do título de campeão. Para isso, vamos contar com artistas de Parintins e Juruti, somando com nossa equipe. A torcida do Tucuxi pode esperar um grande espetáculo no dia 17 de setembro”, enfatizou o vice-presidente do Boto Tucuxi, Paulo Genaro.
Para o presidente do Boto Cor de Rosa, Miguel Wanghan, a animação toma conta para finalizar o trabalho e levar ao público um enredo surpreendente. “Estamos trabalhando com a comissão de arte e fechando todo roteiro de apresentação. A equipe está empenhada em mostrar para nossa torcida uma grande apresentação, que será na sexta-feira, dia 16 de setembro”, destacou o presidente.
Montagem do Barracão para o Rito religioso
O barracão onde será realizado o Rito Religioso, com programação durante os 5 dias de Çairé, já está com mais de 50% da montagem realizada. O trabalho teve início no final do mês de julho, onde houve a busca da palha e madeira para a construção. “O barracão é grande, então a construção é realizada por etapas, porque todos que trabalham são voluntários. Após a finalização do barracão, prevista para os próximos dias, iniciaremos a montagem das barracas que serão utilizadas para vendas durante o Çairé”, explicou o coordenador, Cleuton Von.
Ainda segundo o coordenador, o espaço conta com 71 barracas, que serão sorteadas entres as pessoas que moram na Vila de Alter do Chão.
O Çairé está sob a responsabilidade da Lei Federal de Incentivo à Cultura, Na Amazônia e Prefeitura de Santarém.
Sairé ou Çairé?
A escrita da palavra gera curiosidade das pessoas que encontraram a grafia com “Ç” e com “S”. O historiador Sidney Canto explica que a palavra ''Çairé'' com “Ç “vem da origem Tupi, e com o passar dos anos foi usado com 'S' por adaptação por conta da língua portuguesa.
No final das contas, o Sairé seja ele escrito com 'S' ou 'Ç' é um dos maiores e mais antigos espetáculos da Amazônia, com todas as belezas e encantos encontrados em um cenário paradisíaco da praia que já foi eleita a mais bonita do mundo.
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