Relembre o 'Massacre da Ponte', que resultou em mais de 90 garimpeiros desaparecidos, em Marabá
No mês em que a chacina completa 34 anos, o Ministério Público promoveu um seminário para homenagear os trabalhadores assassinados, com palestra do jornalista Paulo Roberto Ferreira, autor de livro que conta a história da tragédia
No próximo dia 29 de dezembro, o "Massacre da Ponte", ocorrido em Marabá, em 1987, completa 34 anos. Em homenagem aos garimpeiros que foram mortos por policiais militares na chacina, servidores do Ministério Público do Estado do Pará (MPPA), pesquisadores e representantes de movimentos sociais participaram, na manhã desta quinta-feira (9), do seminário "Violação dos Direitos Humanos na Amazônia Paraense". Palestras, painéis, debates e apresentação de projetos foram realizados no auditório da Unidade III da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), no bairro Cidade Jardim.
A palestra de abertura, intitulada "Encurralados na ponte: o massacre dos garimpeiros de serra pelada", foi proferida pelo escritor e jornalista Paulo Roberto Ferreira, autor de livro homônimo. "O massacre durou 15 minutos. Provocou mortes, ferimentos e o desaparecimento de dezenas de garimpeiros. O episódio teve pouca repercussão na época, por conta dos festejos de final de ano e da ausência de boa parte dos trabalhadores de mina, que já haviam se deslocado para suas cidades de origem. Mas as feridas nunca cicatrizaram para quem viveu o drama da extração mineral manual, organizada pelo Estado brasileiro, que chegou a reunir mais de 80 mil homens", declarou o escritor.
Representando os movimentos sociais, Charles Trocatti, do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), disse que o evento marca o encontro com a história dos trabalhadores, que não podem cair no esquecimento. "Quando a gente faz um seminário como esse, sobre algo do passado, a gente reatualiza, no presente, as consequências do que isso significa para o conjunto de habitantes dessa terra", disse. "Certamente o massacre contra os garimpeiros ainda terá muitos capítulos, ainda que pareça esquecimento generalizado, ou esquecimento provocado".
O evento, promovido pelo MPPA, também debateu ações de fortalecimento dos direitos humanos realizadas pela instituição. Representando o órgão, o promotor de Justiça Dr. José Edvaldo Pereira Sales, destacou a criação do Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos, encarregado de conduzir a política institucional, sobretudo nas relações externas com a comunidade, sob a pauta dos direitos humanos.
"Este centro hoje congrega alguns núcleos e grupos de trabalho que têm uma especificidade própria na pauta dos direitos humanos. Exemplo disso é o Núcleo Agrário e Fundiário, que lida com as questões de conflito de terra, e o Núcleo de Proteção à Mulher, que trata da violência de gênero. Também temos o Núcleo de Promoção da Igualdade Étnico-racial, instalado em Santarém no mês de novembro, além do Núcleo da Pessoa com Deficiência, que deverá ser instalado em breve, aqui em Marabá", explicou o promotor de Justiça.
Relembre o caso
Era uma terça-feira, por volta das 18h30, quando 300 pessoas que protestavam pedindo por melhores condições de trabalho e pela manutenção da extração manual de ouro no garimpo de Serra Pelada, distrito de Curionópolis, sudeste do Pará, foram encurraladas por policiais militares na ponte sobre o Rio Tocantins, em Marabá. Com fuzis e metralhadoras, os militares alvejaram a multidão. Alguns morreram no local, outros saltaram no rio, de uma altura de mais de 70 metros.
Até hoje ainda não se sabe o número correto de mortos. Na época, o governo falou em dois óbitos, número que depois subiu para nove. No entanto, os trabalhadores apontam que há mais de 90 desaparecidos. De acordo com Paulo Roberto Ferreira, há denúncias de que os corpos de muitos desses trabalhadores que desapareceram teriam sido colocados em alguns ônibus de uma empresa que prestava serviço para a Polícia Militar. Até hoje as famílias procuram por seus entes queridos, e ninguém foi investigado ou condenado pelos crimes.
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