Quase 1/4 do território brasileiro pegou fogo em 40 anos; MA, MT e PA foram os mais afetados
O levantamento inclui incêndios naturais e também os causados pelo homem
Cerca de 199,1 milhões de hectares, equivalente a quase um quarto do território brasileiro pegou fogo, ao menos uma vez, no período entre 1985 e 2023. Os dados foram divulgados nesta terça-feira (18/06) pelo MapBiomas Fogo, rede que envolve universidades, organizações não governamentais (ONGs) e empresas de tecnologia. O Cerrado e a Amazônia são os principais biomas vítimas da ação do fogo, seja de origem natural ou provocada pelo homem. Juntos, são 86% da área queimada. Mato Grosso, Pará e Maranhão são os estados onde a maioria das queimadas estão concentradas.
Segundo os dados, da área atingida por incêndio, aproximadamente 68,4% eram vegetação nativa, enquanto 31,6% tinham presença da atividade humana, notadamente a agropecuária. Para realizar a pesquisa, os especialistas compararam imagens de satélite, onde foi possível analisar o tamanho e o padrão histórico das áreas incendiadas. No entanto, não é possível apontar com certeza o que iniciou o fogo.
A coordenadora do MapBiomas Fogo e diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Ane Alencar, explicou à Agência Brasil que é possível chegar ao entendimento de que a maior parte das queimadas não tem origem natural, quando raios, principalmente, são iniciadores do fogo. Isso devido ao período em que acontece grande parte dos incêndios, que são concentrados em agosto e setembro.
“A gente pode inferir que a grande maioria é incêndio causado ou iniciado pela atividade humana. Onde queima mais, Cerrado, Amazônia, e, agora, infelizmente, no Pantanal, é período seco, período em que, provavelmente, é bastante difícil de acontecerem as descargas elétricas das tempestades”, aponta a geógrafa.
A estação seca, entre julho e outubro, concentra 79% das ocorrências de área queimada no Brasil, sendo que setembro responde por um terço do total. Ane Alencar afirma que a maior parte da vegetação nativa incendiada continua sem ocupação humana. “Um pequeno percentual das áreas que foram afetadas se torna, principalmente, área de pastagem.”
Queimadas
Quase metade (46%) da área queimada está no Mato Grosso, Pará e Maranhão. De cada 100 hectares queimados, 60 são em territórios particulares. Os três municípios que mais queimaram entre 1985 e 2023 foram Corumbá (MS), no Pantanal, seguido por São Felix do Xingu (PA), na Amazônia, e Formosa do Rio Preto (BA), no Cerrado.
O levantamento ainda mostra que cerca de 65% da área afetada pelo fogo foi queimada mais de uma vez entre 1985 e 2023. Nesse período, a cada ano, em média 18,3 milhões de hectares são afetados pelo fogo.
Maiores perdas
Do total da área queimada ao menos uma vez no país, 44% ficam no Cerrado. São 88,5 milhões de hectares, quase metade (44%) da extensão territorial do bioma. É quase o tamanho de Mato Grosso.
Segundo bioma mais afetado, a Amazônia teve 82,7 milhões de hectares queimados ao menos uma vez. A extensão representa um quinto (19,6%) do bioma amazônico. Nascida no Pará e especialista em região amazônica, Ane Alencar alerta para o grande perigo que incêndios oferecem a florestas.
“Formações florestais não são adaptadas ao fogo, elas são sensíveis”, avalia. “Uma vez queimadas, o processo de recuperação é muito lento e deixa essas áreas superinflamáveis para que haja um segundo incêndio. Leva a um processo de degradação”, explica.
O bioma que mais queimou proporcionalmente a sua área foi o Pantanal, com 9 milhões de hectares. Embora seja apenas 4,5% do total nacional, essa extensão representa 59,2% do bioma. Por mais que seja adaptado ao fogo, o Pantanal enfrenta incêndios intensos principalmente devido às secas prolongadas.
Além de danificar a cobertura vegetal que, entre outras consequências, altera o equilíbrio ambiental, as queimadas são importantes fontes contribuidoras para o efeito estufa, uma vez que liberam o carbono armazenado na biomassa para a atmosfera na forma de gás carbônico (CO²).
Corpo de Bombeiros
Por nota, o Corpo de Bombeiros Militar do Pará informou que coordena, todos os anos, a Operação Fênix, destinada ao combate a incêndios florestais e desmatamento ilegal no Pará. “A ação conta com monitoramento ambiental, campanhas educativas e ações preventivas. Em 2024, com o emprego de 70 militares, a operação adotou novas estratégias de prevenção e redução de danos, como monitoramento ambiental, campanhas educativas e ações preventivas, que visam minimizar queimadas naturais e provocadas”.
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