Poder de cicatrização das sementes da Amazônia é estudado por pesquisadores de Belém

Estudo explora alternativas naturais para tratamentos médicos e preservação ambiental

Jamille Marques | Especial em O Liberal
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As sementes da Amazônia carregam em si mais do que a promessa de regeneração das florestas, elas têm potencial para regenerar vidas. O uso de óleos e extratos extraídos dessas sementes para fins medicinais não é novidade para as populações tradicionais da região, mas agora o conhecimento popular ganha força científica. Em Belém, pesquisadores da Universidade do Estado do Pará (Uepa) estão liderando estudos para comprovar e ampliar os benefícios terapêuticos de plantas como a andiroba, copaíba e, mais recentemente, a ocuba.

Com propriedades que vão da ação anti-inflamatória à aceleração do processo de cicatrização, o trabalho com essas sementes é um exemplo de como a biodiversidade amazônica pode ser explorada de forma sustentável e com impactos positivos para a saúde.

image Pesquisadores estudam sementes da Amazônia para cicatrização (Foto: Carmem Helena | O Liberal)

A ciência por trás das sementes

O professor Tiago Santos Silveira, da Uepa, detalha o trabalho realizado com a ocuba, árvore típica da Amazônia, explicando que o óleo de suas sementes tem sido testado no tratamento de feridas crônicas. “O óleo essencial da ocuba possui características muito específicas. Ele não apenas estimula a formação de tecido cicatricial, mas também promove a vascularização nas bordas das lesões. Esse aumento na vascularização acelera o processo de recuperação, ajudando a melhorar a qualidade do reparo”, explica o professor.

image Professor e Pesquisador Tiago Silveira (Foto: Carmem Helena | O Liberal)

Ele destaca que o estudo se baseia em anos de pesquisas desenvolvidas pela universidade, mas ressalta que ainda há etapas a serem cumpridas antes que o óleo possa ser usado por seres humanos. “Estamos em um estágio animador com os resultados pré-clínicos, mas precisamos de mais testes e validações antes de avançar para a aplicação em humanos. É um processo cuidadoso e necessário para garantir a segurança e eficácia do produto”, acrescenta.

Da Amazônia ao laboratório

Anderson Bentes, coordenador do laboratório de farmacologia da universidade, explica que a pesquisa com a ocuba se soma a uma linha contínua de estudos voltados para o potencial terapêutico de espécies como o pau-rosa e a nova Marajó. “Nosso foco é entender as propriedades dessas plantas e transformar esse conhecimento em soluções farmacêuticas reais. Já conseguimos registrar patentes, e o óleo da ocuba tem tudo para ser uma das próximas inovações, dado o impacto positivo que observamos até agora”, afirma Anderson.

image Professor Anderson Bentes, coordenador do laboratório de farmacologia da Uepa (Foto: Carmem Helena | O Liberal)

Ele também ressalta a importância de associar a exploração sustentável dos recursos naturais à valorização econômica e social das comunidades locais. “A coleta dessas sementes pode ser feita de forma que beneficie as pessoas que vivem na região. Isso cria um incentivo direto para manter as árvores em pé e ainda contribui para gerar renda sustentável”, completa o pesquisador.

Sabedoria popular como base científica

A dona de casa e estudante de história, Elzamar Oliveira, de 69 anos, utiliza óleos como os de andiroba e copaíba há anos, acredita que a ciência está apenas confirmando algo que as populações locais já sabem. “Minha avó sempre usou andiroba para tratar dor e inflamação. É um óleo que serve para tudo: dor de cabeça, dores no corpo, até para feridas pequenas. É bom ver a ciência mostrando que isso é real e não só história de gente antiga”, comenta Elzamar, que também utiliza folhas de pitanga para tratar gordura no fígado.

Para ela, o uso da natureza é uma tradição familiar que sempre trouxe bons resultados. “Eu uso óleo de canela de velho para as dores nas articulações, principalmente quando começam as chuvas e as dores aumentam. É uma coisa que sempre deu certo pra mim.”

Dona Elzamar Oliverira acredita no poder dos produtos naturais para a saúde

Esse tipo de conhecimento popular, segundo os pesquisadores, é frequentemente o ponto de partida para novos estudos. A validação científica não apenas reforça os efeitos medicinais das plantas, mas também resgata o valor cultural e histórico das práticas tradicionais da Amazônia.

Impactos para a saúde e sustentabilidade

Os pesquisadores da UEPA destacam que o trabalho com sementes amazônicas tem implicações que vão além da saúde, impactando também a preservação ambiental. O pesquisador Tiago Santos Silveira acredita que iniciativas como essa podem transformar a maneira como vemos a biodiversidade da região. “Estamos falando de soluções que integram ciência, sustentabilidade e saúde. É uma oportunidade de mostrar que a floresta viva vale muito mais do que derrubada. Além disso, abre caminhos para investimentos em biotecnologia que tragam benefícios diretos para quem vive aqui”, reflete Tiago.

Para Anderson Bentes, o próximo passo será buscar apoio para levar as descobertas ao mercado. “A ideia é avançar no registro de patentes e buscar parcerias com a indústria farmacêutica. Queremos garantir que esse conhecimento gere produtos acessíveis e seguros, que possam ser utilizados por quem mais precisa”, afirma.

Enquanto isso, segundo os pesquisadores, o trabalho em laboratório continua, com a promessa de transformar as riquezas naturais da Amazônia em soluções inovadoras para problemas globais.

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