Pirarucu ao molho de castanha-do-Pará; receita carregada de tradição e memória afetiva
O alimento pode ser um ponto de partida para entender os costumes de um povo, de uma região ou de uma família, porque a comida revela muito sobre a identidade das pessoas e está diretamente ligada a emoções e a memórias afetivas
O alimento pode ser um ponto de partida para entender os costumes de um povo, de uma região ou de uma família, porque a comida revela muito sobre a identidade das pessoas e está diretamente ligada a emoções e a memórias afetivas. A receita de um pirarucu ao molho de castanha-do-Pará, originário da comunidade quilombola de Macapazinho, em Castanhal, é um exemplo disto.
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“Costumamos dizer que estamos revisitando a nossa culinária ancestral. E todas as vezes que vamos preparar esses pratos lembramos das histórias contadas por nossos pais e avós”, disse a servidora pública, Léa Oliveira, que pertence a uma família da comunidade de Macapazinho.
Uma das histórias é sobre como a castanha-do-Pará foi introduzida na culinária da comunidade, que possui 128 anos. A fruta oleaginosa era farta na região.
O nome da cidade já vem por conta das castanheiras que existiam em abundância dentro da nossa região, lá na nossa comunidade tinha também muitas castanheiras e ainda temos um pequeno castanhal com aproximadamente vinte árvores preservadas. Por isso as pessoas aprenderam a usar a castanha de todas as formas, principalmente na comida”, contou a irmã de Léa Oliveira, Janete Oliveira.
Naquela época as famílias eram muito grandes com muitas crianças e a comida tinha que render e a castanha também era utilizada com esta finalidade. “Era muita criança e a carne ou o peixe era pouco e não dava para dar para todo mundo e o molho da castanha e os pedacinho desfiados de peixe misturados aos legumes aumentava e ainda dava um gostinho todo especial que as crianças adoravam. Tinha também um pirãozinho feito com o leite da castanha, porque nem sempre tinha arroz e todo mundo se fartava”, contou Léa Oliveira.
A castanha representava multiplicação e gerava fartura nas refeições. Na época do roçado, quando as famílias recebiam muitas pessoas para ajudar no trabalho da colheita, mais uma vez a comida precisava alimentar a todos. “Logo de manhã quando eles estavam se preparando para sair para o roçado era servido o quebra jejum, que era um mingau. A minha vó fazia e levava. Era um mingua com farinha, sal e castanha. E sem açúcar porque naquela época era raro ter açúcar”, explicou Léa Oliveira.
Prazer de comer e a memória afetiva
Os pratos com a castanha do Pará continuam na família, mas não mais com o objetivo de antes, hoje tem um gostinho especial de tradição. “A minha mãe e minhas tias faziam e nós filhas também e fomos gostando. É o prazer de comer e a memória afetiva são muito importantes para nós. E nossa família gosta muito de se reunir para comer e nada melhor do que manter esta tradição”, disse Léa Oliveira.
As irmãs tem a preocupação em manter viva a história e a tradição do alimento ancestral na comunidade de Macapazinho. “Dentro da nossa família, principalmente em toda a nossa ramificação que está na comunidade, esta tradição vai permanecer porque sabemos da importância que ela tem. Conta sobra a nossa história, mas percebemos que os mais novos não tem essa preocupação. E é tão bom a gente se reunir para comer em família”, observou Janete Oliveira.
A receita do pirarucu cozido ao molho de castanha-do-Pará
Para o preparo do prato você vai precisar de 1kg de pirarucu, um maço de jambu, um maço de cariruzunho, um jerimum pequeno, um punhado de maxixe (dez unidade), um punhado de quiabo (dez unidades), um maço de cheiro verde, um tomate, uma cebola, três dentes de alho e 1/2kg de castanha do Pará.
Essa quantidade serve até cinco pessoas.
Preparo
Coloque o peixe de molho de um dia para o outro com bastante agua. Nos dia seguinte ferva e escorra. Em uma panela coloque o óleo, a cebola cortada em cubos e os dentes de alho amassados e deixe doura. Acrescente o tomate e o pirarucu já dessalgado e cubra com água. Enquanto isso separe as verduras, corte os maxixes ao meio e o jerimum em pedaços médios e deixe ferver por cinco minutos e adicione os outros ingredientes. Quando estiverem cozidos coloque o cheiro verde e apague o fogo. Sirva com arroz branco e farinha.
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