Pesquisador da Ufopa desenvolve estudo que pode tratar o AVC a partir de células-tronco neurais

Terapia em desenvolvimento tem colaboração de um pesquisador da Universidade da Califórnia e pode ser testada em humanos em até três

Ândria Almeida

Uma pesquisa com células-tronco para tratamento do Acidente Vascular Cerebral (AVC), iniciada na Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), que tem sede em Santarém, está em fase de teste e caso tenha resultados positivos pode ser a esperança para milhões de pessoas. O estudo é desenvolvido pelo Dr. em neurociência, Walace Gomes Leal em parceria com o pesquisador Paul Lu da Universidade da Califórnia em San Diego.

De acordo com o pesquisador, as pessoas que são acometidas pelo AVC perdem milhões de neurônios durante a lesão. A intenção da pesquisa é realizar o transplante de um enxerto de fibrina com células-tronco neurais para que novos neurônios sejam formados e possam substituir os que foram perdidos, formando novos circuitos cerebrais.

“Esperamos que com isso, ocorra a recuperação sensorial e motora, que inicialmente será testada em animais. Caso a pesquisa seja eficaz, futuramente podemos pedir autorização da Anvisa e da FDA (food and drug administration) americana para fazer cirurgias em humanos, transplantando o novo circuito no cérebro de pessoas com AVC”, explicou.

Para alcançar o resultado esperado, o estudo vai usar a metodologia de realização de microcirurgia em ratos adultos, onde será implantado um enxerto de fibrina com células-tronco neurais e fatores tróficos, substâncias que garantem a sobrevivência das células.

A pesquisa ainda tem um longo tempo de testes pela frente, mas o pesquisador está otimista e acredita que caso tenha bons resultados. No prazo de 3 anos poderá ser testada em humanos. “Então, nesse caso, o produto final é uma terapia celular que possa ser aplicada em humanos que sofreram lesões antigas e recentes”, explicou.

De acordo com o pesquisador, o estudo se baseia em um relé neuronal, ou seja, as células são transplantadas dentro de um arcabouço de fibrina que tem fatores tróficos dentro. São substâncias que ajudam na sobrevivência dos neurônios.

image A pesquisa, em três anos, já poderá ser testada em humanos e pode revolucionar o tratamento de AVCs (Ândria Almeida / O Liberal)

AVC é um problema de saúde pública no Brasil

“Em algumas cidades como São Paulo a doença mata mais do que problemas no coração, inclusive do que câncer, e não existe uma terapia aprovada que seja eficaz para o AVC, com exceção do trombolítico Alteplase, o qual beneficia poucas pessoas, pois tem uma janela terapêutica muito estreita”, relatou.

Ele enfatiza que para que haja eficácia dos tratamentos disponibilizados hoje, o primeiro atendimento deve ser realizado com urgência. “As pessoas tem que chegar no hospital até 4h30, 5 horas após o início dos sintomas. Hoje não temos uma abordagem adequada. Seja a terapia celular que eu expliquei anteriormente, seja a terapia farmacológica”, destacou.

As células que serão usadas na pesquisa são derivadas de células adultas, de humanos que serão compradas de empresas americanas que desenvolvem o produto. “Em 2012 os pesquisadores John Gurdon e Shynia Yamanaka, ganharam o prêmio Nobel da Universidade de Kyoto por criar essa técnica”, contou.

O pesquisador explica que essas células são chamadas pluripotentes induzidas, pois podem ser retiradas de células adultas da própria pessoa. “Então o que nós vamos fazer é comprar e transplantar em um tipo de rato especial, rato Nude, pois eles não tem uma resposta imune muito interessante, portanto, não há rejeição”, detalhou.

Segundo o pesquisador, a proposta é transplantar as células após 6 horas e 24 horas do AVC, com o objetivo de que as células formem os novos circuitos. “Nosso objetivo é estabelecer, portanto, uma terapia celular que possa ser inicialmente testada em animais, possa ser usada futuramente em humanos”, disse.

image Para o pesquisador Walace, terapias avançadas para AVCs são necessárias porque esses acidentes são um problema de saúde pública (Ândria Almeida / O Liberal)

Etapa da pesquisa

Apesar de ser recente, o estudo já conta com experimentos prévios feitos nos Estados Unidos em uma visita científica que foi realizada pelo pesquisador Walace Gomes. “Eu tenho dados mostrando que quando nós transplantamos as células, o enxerto de células-tronco sobrevive muito bem no tecido. Os dados de experimentos feitos nos Estados Unidos terão andamento na Ufopa”, contou.

A pesquisa já conta com um financiamento e está aguardando a conclusão da reforma do laboratório para a próxima fase, que será no mês de julho. “Nós vamos dar continuidade, eu acredito que em dois, no máximo, em 3 anos, nós tenhamos resultados bem significativos para almejar coisas maiores no futuro”, projetou.

 

O que é um AVC?

O AVC é um problema em vasos sanguíneos do cérebro, principalmente arteriais. A doença é dividida em isquêmico, quando o vaso é obstruído por um trombo (uma massa estacionária), ou hemorrágico, quando o vaso se rompe. O AVC isquêmico é o mais comum, perfazendo mais de 80% dos casos. Os sintomas de um AVC são súbitos e dependem do local do cérebro que é afetado.

“Pesquisas revelam que 14 milhões de pessoas têm AVC anualmente. Nos Estados Unidos o número soma mais de um milhão por ano. No Brasil o número ultrapassa 200 mil pessoas e não existe terapia farmacológica ou seja uma terapia celular até o momento”, disse Walace. Dentro os sintomas estão a cefaleia (dor de cabeça), paralisia muscular, dormência, confusão mental, problemas na fala (disartria) e sintomas mais complexos como esquecer o significado de um objeto, como um copo (agnosia), perder a capacidade de realizar atos motores usuais como abotoar a camisa (apraxia), ou problema na fala ou linguagem.

Existem os fatores de riscos da doença que são modificáveis como sedentarismo, níveis altos de colesterol e hipertensão e podem ser resolvidos com pequenas mudanças no estilo de vida. Já os fatores não modificáveis são de oriundos uma série de fatores, como sexo, idade, casos de AVC na família, etnias, entre outros.

“Para evitar a doença é necessária uma mudança nos hábitos de vida, como caminhar diariamente 40 minutos por dia em ambientes naturais. Esse hábito, além de diminuir o risco de AVC, impacta positivamente na saúde mental”, finalizou Walace.

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