Pesquisa da UEPA resgata narrativas históricas do município de Vigia e os atuais desafios
A pesquisa conta com quatro trabalhos acadêmicos que serão publicados em formato de livro
A pesquisa "Histórias e memórias do município de Vigia de Nazaré: construindo narrativas e interconexões de saberes entre ensino superior e médio", desenvolvida no Campus da Universidade do Estado do Pará (UEPA), no município de Vigia, foi apresentado na última quinta-feira (5) na Instituição. O projeto fez parte do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID). São quatro trabalhos acadêmicos, que resgatam as narrativas da história não oficial do município e, ainda este ano, serão publicados como um livro.
O professor de história e coordenador da pesquisa Leopoldo Santana e a coordenadora do campus, Kátia Maria do Santos desenvolveram a pesquisa com 12 alunos e dividiram em quatro temas. "O projeto consistiu em investigar as narrativas, as memórias da história da Vigia, vista numa perspectiva do que a história chama de 'história vista de baixo'. A pesquisa tem como objetivo investigar a história daqueles personagens que tradicionalmente não estão narrados nas histórias oficiais trazendo, portanto, essas memórias para a contemporaneidade" disse o professor.
A pesquisa intitulada “A aldeia de Uruitá: a participação indígena na construção identitária do município de Vigia”; aborda o primeiro nome que Vigia de Nazaré recebeu "Uruitá", bem como a participação da mão de obra escravizada indígena Tupinambá presente na construção do município - e, segundo ele, dizimada -, que, no entanto, não é retratada na história oficial e nem em monumentos do próprio município. "Os Tupinambás, esses personagens foram dizimados e esquecidos pela história oficial. Não são tão narrados. A ideia era trazer exatamente essa contemporaneidade. E, as heranças que eles deixaram, estão presentes na grande atividade pesqueira do município, estão presentes nas rezas, no artesanato, em nome de clubes, em blocos carnavalescos. Ou seja, ainda existem alguns fragmentos dessa herança cultural dentro da Vigia", explicou.
Os três outros temas abordam as temáticas: "As Lendas e os medos na Cultura Vigiense”; “Eu vi a mulher preparando outra pessoa: o saber popular de parteiras vigienses na virada do século XXI”; “A história invisível do tempo presente: os desafios de acessibilidade dos estudantes da zona rural em relação ao transporte escolar”. Esta última contou com a participação do professor e estudantes da escola Bertoldo Nunes, comunidade rural do município.
Leopoldo relembra que o trabalho foi executado ao longo dos dois anos de pandemia, onde remotamente fizeram o levantamento de documentos, entrevistas e fotografias, além do trabalho de ir a campo, na escola rural, fazer a pesquisa sobre a realidade do transporte escolar. O professor diz também que Vigia está além do turismo e que esta memória precisa ser preservada.
"A Vigia não é só o que os visitantes turistas veem: Igreja Matriz, o trem de guerra, não é o centro. No que diz respeito ao transporte escolar, existem várias localidades de difícil acesso de barco ou de transporte na dificuldade da acessibilidade. O transporte escolar que ia buscar esses alunos era ônibus improvisado, sem janela, pegavam chuva ou poeira. Tiveram que descer para pegar o ônibus. Quando o transporte não funcionava, não iam para a aula. Muitos alunos desistiram da escola. O projeto mostrou a calamidade do transporte escolar no município da Vigia principalmente no que diz respeito à zona rural", destacou.
"Mostrou que Vigia tem um campo muito aberto, que é preciso disputar essa narrativa. Porque existe uma narrativa oficial, que sempre fala dos grandes homens, das igrejas de jesuítas, que fala dos grandes prefeitos, engenheiros, governadores. Mas não fala das parteiras, não fala dos estudantes, das vilas que têm dificuldades de transporte escolar, não fala dos pescadores, não fala dos comerciantes", complementou abrangendo os temas das demais pesquisas.
Após concluída a pesquisa, o professor relembrou que conseguiram a publicação do livro pela Imprensa Oficial do Pará, por meio da parceria com o diretor do Centro de Ciências Sociais da UEPA, Anderson Maia. "Ainda não temos a data, porque ele está numa fila de publicação. Estamos aguardando. Mas acredito que até o final do ano a gente terá o lançamento do livro, tanto e-book, quanto físico. Aí voltaremos à comunidade para o lançamento", finalizou.
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