Pará registrou 386 gestantes com dengue em 2 anos; risco de morte em grávidas é 4 vezes maior
Nesse caso, cuidados devem ser redobrados no combate ao mosquito Aedes aegypti, transmissor do vírus da dengue
A relação entre mulheres grávidas e a dengue é muito grave, de vez que o risco de morte para gestantes chega a ser quatro vezes maior, de acordo com a Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp). "Em relação à mãe infectada, existe risco quatro vezes maior de ocorrer morte, principalmente se a infecção acontecer no terceiro trimestre gestacional. Também há cerca de três vezes mais risco de morte fetal ou neonatal", alerta a entidade. Um levantamento da Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa) indica que, em 2022, foi registrado um total de 4.860 casos de dengue no Estado, sendo 194 em gestantes, e, já em 2023, foram registrados 4.593 casos, dos quais 192 em gestantes. Isso significa que pelo menos 386 mulheres gestantes foram acometidas pela doença no Pará em dois anos.
A Sogesp informa que a associação dengue e gravidez deve ser conhecida por todos os profissionais de saúde e, particularmente os ginecologistas e obstetras, uma vez que acrescenta riscos à mãe e ao feto. "A dengue é mais grave em gestantes quando comparado a grupos semelhantes de mulheres não grávidas, estando associada à maior mortalidade materna, fetal e neonatal", reitera.
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Cuidados
A arquiteta Ana Paula Braga, 24 anos, e o advogado Renato Marcelino, 28 anos, aguardam pela chegada da primeira filha. Ana Paula está na 34ª semana de gestação, ou seja, há oito meses. "Nós sempre temos muito cuidado com água parada, eu uso um repelente para criança que é seguro para gestantes e cuidamos da piscina com cloro", relata Ana Paula sobre alguns dos cuidados que o casal adota para combater o mosquito Aedes aegypti.
"É claro que eu fico preocupada com a dengue, mas também atenta. Estamos já pretendendo usar mosquiteiro como mais uma medida contra o mosquito", ressalta a futura mamãe. Ana Paula relata que o marido Renato é também muito disciplinado na prevenção à doença.
Orientações
A médica ginecologista e obstetra Danielle Leal ressalta que a gestação é um fator de risco para desenvolvimento de formas mais graves da doença, "e quando a gestante tem dengue próximo ao parto, o risco de transmissão para o feto aumenta, podendo levar à perda fetal, parto prematuro e baixo peso ao nascimento". No caso de uma gestante apresentar dengue, primeiro é confirmar o diagnóstico e consultar um médico para realizar alguns exames. "Se for um quadro leve, repouso e hidratação devem ser mantidos. Para os quadros avaliados como de comprometimento de órgãos, pode haver necessidade de internação hospitalar e, nos quadros graves, até internação em unidade de terapia intensiva", destaca Danielle.
Acerca de prevenção contra a doença por parte de mulheres gestantes, Danielle Leal orienta: "O principal é evitar a picada do mosquito. Primeiramente, eliminar criadouros da doença em casa. Usar roupas que protejam mais o corpo. Uso de repelentes também está indicado. Os mosquiteiros são bem-vindos. E como o mosquito tem o habito mais diurno, as gestantes que costumam repousar durante o dia devem se beneficiar dessa estratégia. Lembrar de reaplicar o repelente sempre nas áreas de pele expostas. Repelentes naturais não têm eficácia aprovada e devem ser evitados. Na dúvida, procure orientação com a equipe de saúde".
Infectologista diz que país está vivendo “epidemia de dengue”
O infectologista Alessandre Guimarães disse que o país está vivenciando uma epidemia de dengue, “fruto das adversidades climáticas que tornaram o mosquito mais adaptado ao ambiente, se reproduzindo mais rápido, com menos exigência de água limpa, circulando em horários fora do padrão (início da manhã e final da tarde), somado a questões epidemiológicas perante a atual circulação de três sorotipos na população brasileira ao mesmo tempo: DENV1, DENV2 e DENV3. Este último, com baixíssimo coeficiente de incidência desde 2008, e ressurgindo agora”.
Ele explicou que as grávidas são uma população especial, por questões ligadas à fisiologia da gestação. “Eu diria que todo sinal e sintoma típico e atípico no decurso na gestação deve ser valorizado. A dor pélvica, por exemplo, comum em gestantes; na dengue, pode estar relacionada ao acúmulo de líquido no abdome (fora do útero gravídico) e se traduzir, portanto, em um caso de dengue grave (antes chamado de dengue hemorrágica)”, afirmou.
Há os sangramentos vaginais, também bastante comuns em fases da gravidez. “Na dengue, podem indicar queda drástica de plaquetas e igualmente indicar evolução desfavorável da doença. A presença de náuseas e vômitos, sintomas bastante comuns na gestante; na dengue, podem indicar um sinal de alerta para agravamento da doença. A inapetência (que é uma fadiga), “corpo pesado”, o próprio “inchaço” nas pernas, algo comum em mulheres grávidas; na dengue, são sinais de dengue grave, antes conhecida como dengue hemorrágica”, acrescentou.
Ainda segundo o infectologista, situações bastante comuns nas grávidas podem também acontecer na dengue e indicar a evolução para forma mais grave da doença. “Não é ‘preto no branco’, portanto, existindo ‘vários tons de cinza’, na minha opinião. Cabe então uma avaliação médica consensual para saber o que é normal da grávida e o que pode ser dengue, contextualizando o caso com uma boa avaliação clínica e coleta de informações sobretudo a presença de febre e/ou outros sintomas correlacionados à eventual virose, assim como exames laboratoriais pertinentes ao quadro”, ponderou.
Atendimento
A Sespa informa que não existe uma unidade específica para esse público específico, porém, a orientação para gestantes, idosos e crianças é a priorização do atendimento em caso de suspeita de dengue, zika e chikungunya, doenças que se proliferam por meio do mosquito Aedes aegypti. "Em gestantes, a infecção possui as mesmas manifestações clínicas, porém, em virtude das modificações fisiológicas pode haver maiores riscos de abortamento, trabalho de parto prematuro e sangramento", repassa a Secretaria de Saúde.
"Por isso, há a necessidade de monitorar com maior atenção os níveis de plaquetas por meio do hemograma, fazer manejo clínico de acordo com classificação de risco, verificar sinais de alarme e, se necessário, internamento", complementa a Secretaria.
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