Pará investe R$ 1 bilhão em obras de abastecimento de água e esgotamento sanitário, afirma Cosanpa

Falta de saneamento básico faz Brasil gastar R$ 108 milhões com hospitalizações, aponta Instituto Trata Brasil

Dilson Pimentel
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Quase 35 milhões de pessoas vivem em locais sem acesso à água tratada. Outras 100 milhões não têm acesso à coleta de esgoto e somente 49% dos esgotos no país são tratados. É o que apontam os dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), 2019.
Mesmo um ano antes da covid-19 começar no Brasil, a ausência de saneamento básico já sobrecarregava o sistema de saúde com 273.403 internações por doenças de veiculação hídrica. Houve um aumento de 30 mil hospitalizações, em comparação com o ano anterior. A incidência foi de 13,01 casos por 10 mil habitantes gerando gastos ao país de R$ 108 milhões, segundo o DataSUS.

É nesse contexto que o Instituto Trata Brasil divulgou, nesta quarta-feira (5), o estudo - "Saneamento e doenças de veiculação hídrica - ano base 2019". O estudo foi feito a partir de dados públicos do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento e o DataSUS, portal do Ministério da Saúde que acompanha os registros de internações, óbitos e outras ocorrências relacionadas à saúde da população do Brasil. O Pará tem 32,62 pessoas internadas, a cada 10 mil habitantes, devido a essas doenças detalhadas no levantamento. É o segundo lugar do país nesse índice. 

A Companhia de Saneamento do Estado do Pará (Cosanpa) informou que o governo do Estado tem feito "...os maiores investimentos na história da Cosanpa para mudar a realidade do saneamento no estado. Mais de R$ 1 bilhão estão sendo aplicados em obras de abastecimento de água e esgotamento sanitário para avançar e garantir mais qualidade de vida à população paraense”. Exemplos disso, acrescentou o órgão, são: a obra de substituição das redes antigas, em Belém, as obras de ampliação dos sistemas de água de Santarém, Oriximiná, Monte Alegre, Breves e as construções das estações de tratamento de esgoto na capital e em Alter do Chão, no oeste do Pará.

Já a Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa) informou que, por meio da Vigilância em Saúde Ambiental, realiza ações para prevenção de doenças de veiculação hídrica por meio do programa "Vigilância da qualidade da água para consumo humano". Esse programa objetiva reduzir a morbi-mortalidade por doenças e agravos de transmissão hídrica, por meio de ações de vigilância sistemática da qualidade da água consumida pela população, capacitações dos profissionais e monitoramento.

O programa busca a melhoria das condições sanitárias das diversas formas de abastecimento de água para consumo humano, avalia e gerencia o risco à saúde das condições sanitárias das diversas formas de abastecimento de água, monitora sistematicamente a qualidade da água consumida pela população, nos termos da legislação vigente, informa a população sobre a qualidade da água e riscos à saúde, apoia o desenvolvimento de ações de educação em saúde e mobilização social e coordena o Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água.

Ausência de saneamento é mais evidente na região Norte, aponta estudo

O estudo Instituto Trata Brasil  diz ainda que as internações por doenças causadas pela falta de saneamento se distribuem pelo território nacional refletindo as condições sanitárias de cada região. A ausência dessa infraestrutura é mais evidente no Norte, onde somente 12% da população possui coleta de esgotos; na região foram 42,3 mil internações por doenças de veiculação hídrica. Em seguida, veio o Nordeste, onde somente 28% da população possui coleta de esgotos, e onde ocorreu o maior número de hospitalizações - 113,7 mil em 2019.
Em 2019, a falta de acesso à água tratada e ao esgotamento sanitário resultaram em 2.734 óbitos, uma média de 7,4 mortes por dia de pessoas. No Nordeste, os óbitos ultrapassam mil casos, no Sudeste, 907 mortes registradas. E, no Norte, 214 casos.

De 2010 a 2019, ainda segundo o estudo, o país registrou uma queda importante com relação às internações por doenças de veiculação hídrica. Elas passaram de 603,6 mil para 273,4 mil internações no período - no entanto, houve um acréscimo de quase 30 mil internações de 2018 para 2019. Isso mostra que, mesmo ainda distante do ideal, a expansão do saneamento trouxe ganhos à saúde, sobretudo com a expansão das áreas de cobertura com água tratada e coleta de esgoto ao longo dos anos.

Em números absolutos, o Amapá aparece como a unidade federativa com menos internações por doenças de veiculação hídrica em 2019, com 861, contra 38,2 mil no Maranhão. Ambos possuem indicadores de saneamento abaixo da média, mas há uma grande diferença no tamanho das populações e que precisa ser considerada quando se fala de números totais. Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Pará ultrapassam a marca de 20 mil internações gerais por doenças de veiculação hídrica.

Qualquer melhoria no acesso da população a saneamento traz grandes ganhos à saúde pública

Ao avaliar a taxa de internações por 10 mil habitantes, o Maranhão se mantém como o estado com maiores casos, com 54,4 internados a cada 10 mil, seguido de Pará com 32,62, e Piauí com 29,64. Quanto a relação entre saneamento e doenças em 2020, dados preliminares mostram que o país teve 174 mil internações por doenças de veiculação hídrica (diarreicas, dengue, leptospirose, esquistossomose e malária). Seria uma redução de 35% comparativamente a 2019, mas os dados precisam ser analisados com cuidado pelas instituições médicas, pois a queda pode estar relacionada ao afastamento das pessoas dos hospitais por medo de contaminação da covid, cuja pandemia começou em 2020.

"Os dados deixam claro que qualquer melhoria no acesso da população à água potável, coleta e tratamento dos esgotos traz grandes ganhos à saúde pública”, diz o presidente executivo do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos. “São hospitalizações com ocupação de leitos que poderiam estar sendo destinados a doenças mais complexas. É essencial que o Brasil resolva definitivamente isso, pelo bem do país e seus cidadãos", completou.

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