No Dia do Tradutor, tecnologia não dispensa a atuação desse profissional
Apesar dos avanços tecnológicos, traduzir ainda necessita do olhar atento do tradutor profissional
A importância do tradutor é histórica. A tradução é um elo crucial para a sobrevivência e união dos povos. É através das mais variadas traduções que a cultura, desde a antiguidade até mundo contemporâneo, é formada. São as palavras da professora Silvia Helena Benchimol, da Universidade Federal do Pará (UFPA). Neste 30 de setembro, é celebrado o Dia Internacional da Tradução e do Tradutor. Este ano, o tema escolhido pela Federação Internacional de Tradutores (FIT) foi “Unidos na tradução“, com o propósito de refletir sobre o distanciamento social imposto pela pandemia.
A data escolhida para comemorar esse profissional é o dia em que faleceu São Jerônimo, patrono dos tradutores. Foi ele quem traduziu a bíblia para o latim e a tornou mais acessível. Desde então, a presença do tradutor se tornou imprescindível em diversos setores. A professora Silvia Helena conta que o tradutor pode atuar em diversas áreas, como tradução de textos sagrados, divulgação das artes, o compartilhamento das obras literárias, o acesso à informação no mundo globalizado, o comércio e o desenvolvimento científico e diversas outras possibilidades.
Além disso, a professora explica que o mercado de trabalho para essa profissão é ampla e presente em diversos setores. Pode-se antecipar a diversidade de áreas de atuação do tradutor tanto com os textos técnico-científicos (a tradução de especialidade), os textos literários e até as produções audiovisuais. É possível ver a atuação em interpretação simultânea e consecutiva de conferências, também com a tradução jurídica (contratos, tradução juramentada etc.). "Atua em muitas outras frentes se considerarmos que a tradução não é apenas entre línguas, mas pode ocorrer dentro de uma mesma língua, ou na conversão entre diferentes signos, como nas conversões de livros para obras fílmicas", esclarece a profissional.
Tecnologia não dispensa o profissional
Atualmente, com o avanço da tecnologia e as traduções instantâneas, Silvia Benchimol observa que a tecnologia é uma grande aliada do tradutor, ao contrário do que possa parecer. "O uso da própria tecnologia nas traduções automáticas não dispensa o olhar sensível e técnico profissional. A tradução automática é um campo em grande evolução e isso agiliza o trabalho do tradutor o qual, dominando questões linguístico-discursivas, de gênero textual, de estética e de níveis de registro linguístico e dos contextos culturais, pode trabalhar em pós edições", diz a especialista.
A docente aponta que os programas de tradução automática requerem um ponto de vista crítico-avaliativo. Os recursos podem ajudar até o profissional qualificado, mas é a sensibilidade humana e o conhecimento técnico, cultural e interdisciplinar que garantem uma tradução de qualidade.
"O tradutor é um mediador intercultural e não apenas um transcodificador. Existem subcompetências necessárias a este profissional, que perpassam pelo conhecimento do contexto para o qual se traduz (a recepção), que estão ligados à função textual e à intenção comunicativa para o público ao qual se destina o produto tradutório. Para além disso, o conhecimento sobre teorias e estratégias de tradução, e outros aspectos inerentes aos Estudos da Tradução, influenciam sobremaneira na qualidade do produto tradutório", ressalta a tradutora.
Liberal Amazon e a Amazônia em destaque
Este ano, o Grupo Liberal lançou o projeto Liberal Amazon. É um conteúdo jornalístico aprofundado sobre a Amazônia em formato multimídia e bilíngue. Com conteúdo especial semanal, o objetivo é ecoar diversos temas sobre a região. O Grupo tem como parceria a UFPA e conta com a colaboração da professora Silvia Benchimol para realizar a tradução do conteúdo para o inglês.
"A Amazônia sempre esteve sob os holofotes do mundo. Embora, quase sempre, sob perspectivas exploratórias, como crimes ecológicos, agressão ambiental e disputas de terras. Essas questões precisam de visibilidade, mas essa redução de nossa imagem que corre o mundo é injusta. A implantação do Liberal Amazon é uma iniciativa de valorização da nossa identidade histórica, cultural e científica. A parceria com a universidade vem para consolidar esse compromisso com produção intelectual-local. O fato dos conteúdos serem publicados em língua global, alarga de forma gigantesca o alcance dessas matérias. Assim, levamos ao mundo um outro cenário mais real de nossas vivências", exalta a docente.
Para traduzir, não basta conhecer a língua estrangeira. É um tabu que precisa ser desconstruído, afirma Silvia Benchimol. A competência bilíngue é indispensável, mas a formação de um tradutor requer outros caminhos e habilidades.
(Karoline Caldeira, estagiária sob a supervisão de Victor Furtado, coordenador do Núcleo de Atualidades)
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