Marajó discorda do Censo IBGE que mostram redução de habitantes
A principal preocupação dos gestores municipais é com a eventual perda de recursos do Fundo de Repasse aos Municípios (FRM), transferência de verbas da União.
Boa parte dos municípios da região marajoara discorda dos dados do Censo 2022. Os números, divulgados na quarta-feira (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que o Marajó possui atualmente uma população de 593.822 habitantes, menos 17.500 em relação à estimativa de 2021 (610.972 pessoas). A retração de 2,8% durante o período é menor do que a média do Pará, que foi de 7,5%, caindo de 8,7 milhões para 8,1 milhões. Mesmo assim, foi o suficiente para que alguns prefeitos se manifestassem negativamente sobre o resultado.
A principal preocupação dos gestores municipais é com a eventual perda de recursos do Fundo de Repasse aos Municípios (FRM), transferência de verbas da União para os Estados e o Distrito Federal, composto de 22,5% da arrecadação do Imposto de Renda (IR) e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). O cálculo para os repasses é baseado no número de habitantes de cada município. Quanto menor o número de habitantes, menor o valor do dinheiro recebido do governo federal.
“Os prefeitos dizem que os resultados não condizem com a realidade, isso é praticamente uma unanimidade, até mesmo os que apresentaram leve crescimento. A população contada é bem aquém do que existe na realidade. Existem muitas localidades de difícil logística e onde a contagem não foi feita com eficiência. Os municípios entraram com recursos pedindo revisão, mas os processos foram suspensos por decisão do Supremo Tribunal Federal. Temos municípios com dados da saúde municipal, assistência, educação, que nos mostram que a população está crescendo, mas o IBGE diz outra coisa. Fica a desconfiança em relação ao resultado final”, diz Guto Gouvêa, prefeito de Soure e presidente da Associação dos Municípios do Arquipélago do Marajó (Amam).
Retração
Legenda (Igor Mota/O Liberal)
Do lado dos municípios que mais perderam população está Santa Cruz do Arari. A cidade, que já era o município menos populoso do Marajó no Censo 2021, caiu de 10.496 para 7.445 habitantes, registrando uma perda de 29%. Depois aparecem Ponta de Pedras, com 24.984 (-22%), e Chaves, com 20.757 (-14,1%). Ponta de Pedras, que era a 8ª maior cidade no último Censo, apresentou a maior queda no ranking, descendo quatro posições. Foi de 32.007 em 2021 para 24.984 segundo os dados atualizados do IBGE.
“O censo foi mal feito, tem comunidade do interior que foi cadastrada mesmo com os recenseadores não conseguindo falar com mais da metade dos domicílios. Sem considerar as especificidades. Acreditamos que, como o Censo coincidiu com a safra do açaí, muitas famílias estavam na colheita dos frutos durante o dia inteiro e não eram computadas. Questionamos e pedimos uma revisão na área ribeirinha. Eles disseram que não tinha recurso financeiro para voltar. Essas áreas onde a discrepância dos dados foi grande teria que ter uma revisão”, diz Consuelo Castro, prefeita Ponta de Pedras.
Crescimento
Dos 17 municípios do Marajó, apenas quatro registraram aumento populacional no Censo 2022. Muaná foi onde o número de habitantes mais cresceu, com um avanço de 9,4%, seguido de Bagre, com 8,6% (34.711), Breves, com 2,6% (106.968) e Oeiras do Pará, com 2% (33.844). Apesar da retração de 2,6%, Breves permanece como a maior cidade do Marajó, com 106.968 habitantes. Portel, com 62.445 habitantes, e Muaná, com 45.368, ocupam a segunda e a terceira posição, respectivamente. O município de Bagre apresentou a maior subida, escalando quatro posições e ocupando a 5ª posição, com 34.711 habitantes.
“Esperávamos mais, mas não nos surpreendemos com a subida. Muaná nos últimos três anos vem creecendo consideravelmente em melhoria de qualidade de vida. Muitas pessoas de outros municípios do Marajó vem para cá trabalhar e fazer a vida, é visível. Acredito que nossa população esteja ainda acima desse número, temos localidades com uma logística dificil e que sabemos que os recenseadores não conseguiram falar com muitos. Nossa expectativa era chegar até próximo dos 50 mil habitantes [ficou com 45.368], mas vamos ver se no próximo Censo as condições de trabalho do IBGE melhoram” disse Biri Magalhães, prefeito de Muaná.
Marajó nas últimas duas décadas
As divergências à respeito dos números do Censo 2022 não comprometem os dados demográficos do Marajó ao longo das últimas duas décadas, período em que a população do arquipélago aumentou em mais de 230 mil habitantes, segundo os números do próprio IBGE.
Se na média a população brasileira cresceu 6,5% entre os Censos Demográficos de 2010 e 2022, como mostram os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não faltam exemplos de cidades que perderam habitantes neste período. De acordo com o Censo de 2000, a população total dos municípios marajoaras somava 380.555 habitantes, o equivalente a 6,15% da população paraense e a 1,80% do contingente populacional da Amazônia Legal. Em 2010, foi contabilizado um total de 487.161 habitantes, um aumento de mais de 100 mil pessoas em dez anos. No Censo de 2021, o arquipélago tinha 610.972 mil, seu maior número registrado.
A reportagem de O Liberal entrou em contato com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A assessoria do instituto informou que “os requerimentos administrativos (contestações) concernentes às estimativas de população, aos limites territoriais e às operações censitárias devem ser enviados pelos municípios por mail e terão prazo de dez dias para resposta”.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA