Maio Furta-cor: campanha chama atenção para a saúde mental materna

Marcha nacional será realizada no dia 15 de maio para ampliar o debate sobre o assunto

Camila Guimarães

Maio é considerado o mês das mães, mas uma parte essencial da maternidade, e ainda pouco discutida, é a saúde mental materna - assunto de destaque da campanha Maio Furta-cor, criada em 2021 por psicólogas e psiquiatras, que também são mães, e perceberam o aumento do adoecimento mental materno durante a pandemia. No dia 15 de maio, o grupo fará uma marcha nacional em prol da discussão. O ponto de encontro, em Belém, será a Praça da República, a partir das 9h.

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A psicóloga Érika Caroline Souza, co-organizadora do Maio Furta-cor, em Belém, junto a outras 22 mulheres de diferentes profissões, explica o que motivou o movimento: “Historicamente é a mulher quem cuida dos outros e, por último, dela mesma. Na pandemia, isso ficou mais evidente. Presas em casa e não tendo com quem contar, muitas vezes, a pressão e o sofrimento mental foram agravados”.

Érika conta que aderiu à campanha, iniciada pela psicóloga Nicole Cristino e pela psiquiatra Patrícia Piper, em Curitiba, porque notou que havia a necessidade de ampliar essa discussão também em Belém. “Tem muito estigma em torno da saúde mental e isso piora na gravidez, porque a mulher ‘não pode reclamar’, já que maternidade é uma bênção, então a mulher ‘deve estar plena e feliz o tempo todo’. Mas, na prática, não é assim”.

Após uma roda de conversa, que abriu as programações da campanha no domingo passado, Érika descreve que a percepção do público foi muito positiva: “A reação foi ‘nossa, que bom ter um espaço para falar disso!’. Porque, quando uma fala das suas dores, outra se identifica, e ambas percebem que não estão sozinhas, que não estão loucas”.

Saúde mental das mães

Quem esteve na abertura e confirma a importância desse diálogo é a publicitária e fotógrafa Carolina Sales Meira. Mãe do Guto, de 2 meses, ela descreve como pensar em saúde mental se tornou uma necessidade no seu dia a dia: “Normalmente, quando a gente está grávida, a gente fala do cansaço físico, mas o psicológico a gente não costuma falar tanto. Eu, por mais que tenha um pai psiquiatra, bastante presente, não me preparei para a questão psicológica. Mesmo tendo uma gravidez ótima, me sentindo linda e plena, depois que o bebê nasceu, veio o baby blues”.

O baby blues é uma condição de tristeza e melancolia que pode acontecer após o parto devido a mudanças hormonais e na rotina da mulher, conforme descreve Carolina: “Eu que era muito ativa, passava o dia todo na rua. Antes do parto, eu me programei para parar de trabalhar por uns três ou quatro meses. Mas, ainda assim, comecei a ter crises de choro. Acionei meu pai, meu marido e toda a rede de apoio para sinalizar que eu não estava bem”.

Carolina conta que diversos fatores na maternidade afetam a saúde mental: privação de sono, cansaço físico, amamentação, falta de divisão das tarefas. “Então eu tive que buscar algumas saídas para melhorar, que foram: encontrar uma ajudante para o dia, voltar a trabalhar antes do previsto, para eu me reconectar com meu eu anterior, e contar com ajuda psicológica. Hoje, eu me sinto bem melhor e as coisas já estão voltando ao normal”.

Combatendo os transtornos 

A psicóloga especialista em perinatal e parentalidade, Camila Marchiotto Diniz, também é mãe e apoiadora do Mario Furta-cor. Ela ressalta que os principais transtornos que costumam acometer mulheres dentro do contexto da maternidade são depressão pós-parto, burnout materno e ansiedade.

“A depressão vem acompanhada de vários sintomas como tristeza excessiva, mudança de comportamento abrupta, falta de apetite, distanciamento social. Dizeres populares como ‘isso é frescura’ ou ‘vai passar’ só prejudicam ainda mais o quadro. Já o burnout materno seria um cansaço excessivo, causado por uma grande sobrecarga. E a ansiedade vem, geralmente, atrelada a comparações, comentários que vêm de parentes, vizinhos, famílias e até mesmo redes sociais”, explica a especialista.

Para combater esses e outros problemas, Camila afirma que é necessário transformar nossa cultura, que lança toda a responsabilidade sobre as mães. A psicóloga Érika Caroline também acredita que é preciso repensar essa responsabilização e reforçar a rede de apoio, algo que só pode acontecer por meio da ampliação do debate: “Por isso o Maio Furta-cor é para todos: pais, homens não pais, mulheres não mães, rede de apoio da mãe. Todos são bem-vindos”.

Serviço

Marcha Furta-cor

Data: 15 de maio

Hora: 9h

Local: Praça da República, bairro da Campina, Belém.

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