Libras: Há 15 anos é parte da história da educação municipal de Castanhal

De acordo com a secretária, o município irá implantar, em breve, uma escola bilíngue onde todos os funcionários falarão também em Libras

Patrícia Baía
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Aos quatro anos de idade, Maylson Coutinho, atualmente com 26 anos, teve meningite e perdeu a audição. Foi um momento complicado para uma criança que estava aprendendo a se comunicar e que acabou perdendo o que já havia conquistado. Devido ao problema auditivo, Maylson se tornou totalmente dependente da família.
Quando entrou na escola as dificuldades começaram a aparecer. Sofreu bullying, demorou a se adaptar, mas aos poucos e contando com a ajuda de professores especializados, aprendeu a Língua Brasileira dos Sinais – Libras. Maylson hoje é formado em Pedagogia, e nos concedeu entrevista com a ajuda da intérprete de Libras, Leide Laura Silva.  

Maylson teve professores intérpretes de Libras em todo o ensino fundamental, porém quando passou para o médio esbarrou mais uma vez em dificuldades. “Eu não conseguia entender, os alunos riam de mim. Eu ficava sozinho porque eu era o único surdo do colégio. Meu pai teve que entrar na Justiça para que o Estado colocasse um professor intérprete de Libras para me acompanhar”, contou.
Superando as dificuldades e o preconceito, Maylson conseguiu a graduação em Pedagogia e tem um sonho. “Quero trabalhar com crianças surdas e ouvintes para que mais pessoas saibam se comunicar”, disse.

image Maylson Coutinho é pedagogo e dá aulas para alunos surdos (Priscila Portela/Ascom Semed)

A comunidade surda sente muitas dificuldades para se relacionar com os não surdos que não conhecem Libras. “Quando eu preciso ir sozinho ao hospital, sem um ouvinte, fica muito difícil de explicar. Tenho que escrever tudo e fica difícil para o médico me explicar também”, contou.

O jovem relata uma situação constrangedora que passou nas ruas, onde ele e uns amigos, também com problemas auditivos, foram abordados por policiais. “Estávamos andando de bicicleta e os policiais mandaram a gente parar. Eles falavam e a gente não entendia, até que um dos PMs percebeu que éramos surdos e nos explicou que se tratava de uma blitz.  Ele sabia Libras, o que foi de extrema importância pra gente”, contou.

Comunidade 

E em Castanhal, no nordeste do estado, existem mais de 4 mil pessoas com deficiência auditiva, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010.
O município foi o primeiro no Pará a implantar o ensino da Língua de Sinais no ensino fundamental. Em 2007 deu início ao Projeto Libras das Escolas e, esse ano, completou 15 anos. 

image De acordo com a secretária o município irá implantar em breve uma escola bilíngue, onde todos os funcionários falarão também em Libras (Priscila Portela/ Ascom Semed)

De acordo com a secretária municipal de educação, Cláudia Seabra, a utilização da Libras, é uma forma de garantir a preservação da identidade das pessoas e das comunidades surdas. 

“Baseado nas legislações brasileiras acerca da Língua Brasileira de Sinais e da educação de surdos, Castanhal elaborou estratégias para a garantia dos direitos da pessoa surda e da educação de surdos em 2007 e, desde então, traçou uma história ímpar na educação municipal de Castanhal”, enfatizou a secretária de educação.

Maylson foi um dos alunos beneficiados pelo ensino de Libras no município.

De acordo com a secretária o município irá implantar em breve uma escola bilíngue, onde todos os funcionários falarão também em Libras. “O projeto já foi aprovado pelo Ministério da Educação, mas estamos aguardando os trâmites. Essa escola será uma escola polo que vai atender não só Castanhal, mas também os municípios vizinhos”, disse Cláudia Seabra.

Lei 

Há 19 anos a Libras é a segunda língua oficial do Brasil. A Lei nº 10.436/2002, que reconheceu a Língua de Sinais como meio legal de comunicação e expressão dos surdos.

 

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