Juiz que prendeu brigadistas realiza evento para 120 pessoas
Moradores afirmam que competição de triatlo atraiu turistas para Santarém em pleno pico da pandemia
A prefeitura de Santarém, no oeste do Pará, abriu procedimento para apurar possíveis violações aos protocolos de combate ao covid-19 em um evento de triatlo com 120 participantes realizado em Alter do Chão neste domingo (4).
A prova foi organizada pelo juiz Alexandre Rizzi, que ganhou visibilidade internacional em 2019 ao mandar prender brigadistas vountários da ONG Saúde e Alegria por uma falsa acusação de que eles haviam colocado fogo na Amazônia de propósito.
O evento ocorreu em um momento que Santarém registrou o mês mais letal da pandemia de covid-19 desde o início dela, com 183 óbitos.
Desde o início do mês estão proibidos, pelo decreto municipal 712/2021, quaisquer eventos com mais de 10 pessoas.
O mesmo decreto, seguindo também uma regra estadual, interdita praias, igarapés e balneários e exige o uso de máscara de proteção cobrindo nariz e boca nas vias públicas da cidade.
Tudo isso, porém, foi desrespeitado durante o 2º Desafio Zéfiro de Triatlo, realizado no domingo com uma autorização da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) de Santarém.
Em entrevista ao GloboEsporte na semana passada, Rizzi se apresentou como organizador do Desafio e alegou que o triatlo é um esporte "individual", o que permite sua prática na cidade.
"Estamos incentivando o esporte, a prática de exercícios físicos para fortalecer o sistema imunológico e como o decreto autoriza o esporte individual, estamos trabalhamos nesse sentido", ele afirmou.
A prova, porém, foi organizada de forma coletiva. Ao invés das largadas "em onda", com um número pequeno de pessoas saindo juntas da praia para a natação, primeira etapa do triatlo, todos os participantes largaram ao mesmo tempo, mesmo sendo de categorias diferentes.
De acordo com relatos de moradores do local, a prova atraiu muitos turistas para Alter do Chão, uma vez que o Desafio era aberto para todo o país e movimentou a cidade, levando populares às ruas para assistir à competição, que percorreu ruas do distrito.
Imagens da prova repercutiram nas redes sociais e a prefeitura se posicionou indicando que o protocolo não foi cumprido, afirmando que "o evento deveria seguir exigências de biossegurança e sanitárias às quais os organizadores se comprometeram a cumprir"
Diante dos fatos, a Vigilância Sanitária está analisando as imagens de alguns pontos da competição que podem ter ferido o cumprimento dos protocolos.
Os organizadores do evento também serão chamados para prestar esclarecimentos sobre o ocorrido e podem ser penalizados caso tenham descumprido os protocolos de segurança, segundo nota da secretaria.
O regulamento da competição ao qual o UOL teve acesso não cita qualquer medida de proteção relacionada ao coronavírus. Não havia exigência do uso de máscara, por exemplo, só de uso de camiseta da competição.
As palavras "covid" e "coronavirus" não são citadas entre os 88 itens do regulamento.
Em 2019, Alexandre Rizzi determinou a prisão preventiva de quatro brigadistas e o cumprimento de mandados de busca e apreensão nas ONGs Projeto Saúde & Alegria, Instituto Aquífero Alter do Chão e Brigada Alter do Chão, mesmo sem evidência de crimes.
Os brigadistas e as ONG's eram acusadas pelos incêndios que atingiram área de proteção ambiental dois meses antes. Investigação do Ministério Público Federal apontava que os brigadistas e as ONG's não estavam entre os suspeitos e que os possíveis responsáveis eram grileiros.
À época, reportagem da Folha de São Paulo mostrou que Rizzi é de família de madeireiros e crítico à atuação das ONG's que defendem a preservação da Amazônia.
A Justiça Federal a arquivou o inquérito em fevereiro e apontou que Rizzi, um juiz estadual, não tinha competência para julgar o caso, uma vez que a floresta é jurisdição federal.
Segundo o jornalista Demétrio Vecchioli, autor da reportagem publicada no blog Olhar Olímpico, Rizzi foi procurado mas não respondeu para a reportagem.
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