Fogos de artifício durante o ano novo prejudicam pessoas com autismo e animais; saiba como
Especialistas afirmam que um espetáculo visual que não emita barulhos excessivos pode ser uma alternativa e gera a inclusão
As festas de final de ano sempre são cheias de comemoração, entre elas, a soltura de fogos de artifício para celebrar a entrada de um tempo novo. Porém, desde maio de 2022, está em vigor a Lei estadual nº 9.593, que proíbe este tipo de evento com barulho prolongado e extremamente alto em todo o território do Pará. A medida de combate a poluição sonora tem diversos beneficiados, entre eles, as pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e os animais, que podem sofrer com os estrondos.
A psicóloga Juliana Carneiro, especialista em TEA, explica que os indivíduos com o espectro têm características que os sensibilizam para alguns estímulos, como sons altos - de liquidificador, caminhões e, inclusive, fogos de artifício -, abraços, toques e beijos, que podem desencadear crises. “Pela definição do próprio transtorno, é comum que a gente tenha uma hiper ou hiposensibilidade sensorial nos indivíduos que têm autismo, não só crianças, mas adolescentes, idosos…”, afirma.
O mais comum de ser observado é a presença da hipersensibilidade. Juliana destaca que os fogos de artifício acabam servindo como gatilhos para sobrecargas auditivas prejudiciais. “E, muita das vezes, quando os indivíduos são expostos a essa sobrecarga por muito tempo e várias vezes, como os fogos, sendo algo frequente e constante, essa exposição demorada a barulhos gera uma sobrecarga sensorial que afeta o sentido auditivo e que pode desencadear os choros, crises, instabilidade emocional e comportal”, aponta a psicóloga.
Suspender fogos de artifícios barulhentos é uma forma de inclusão, diz especialista
As reações variam de pessoa para pessoa e são uma forma de tentar diminuir o que está incomodando. Muitos podem apresentar irritação, levando a uma agressão, mas, em geral, o choro é mais comum. “Por isso que hoje é recomendado que cada vez mais a gente substitua os fogos de artifícios convencionais por fogos silenciosos, a gente consegue ver o espetáculo visual sem criar uma sobrecarga sensorial a nível sonoro para eles", recomenda a especialista.
Entretanto, é importante não generalizar. Quando é falado sobre o transtorno, há uma gama de possibilidades comportamentais, preferências, gostos e características. “Não é todo indivíduo que tem dificuldade auditiva, que gosta ou não de abraço. Acho importante não generalizar, mas se a gente puder promover um fim de ano que eles também possam participar de maneira tranquila, sem gerar crises para ele e para a família, melhor ainda, porque é assim que a gente tem um visão mais inclusiva da sociedade”, finaliza Juliana.
Grupo se une para sensibilizar pessoas a não soltar fogos de artifício durante o ano novo
É pensando em levar informação sobre a necessidade de evitar os fogos de artifício durante as comemorações de final de ano que o Projeto TEA, da Universidade Rural do Pará (Ufra), e o Grupo Mundo Azul lançaram a campanha "Que tal entrar em 2023 com uma ação inclusiva?". De acordo com o objetivo da iniciativa, essa é uma forma de demonstrar carinho, respeito e amor por um público diverso que envolve pets, mulheres grávidas, pessoas enfermas, bebês e também pessoas com autismo.
Flávia Marçal, coordenadora do Mundo Azul, ressalta que um gesto simples - como não soltar os fogos - pode fazer valer a premissa que muitos falam no encerramento do ano sobre ajudar a construir uma sociedade melhor.
“Queremos mostrar que isso é possível. Além disso, temos uma lei estadual sancionada em 2022 que proíbe o uso de fogos com estampido. Então, acreditamos na importância dessa campanha para valorizar a medida”, aponta.
Animais sentem os efeitos dos fogos de artifício
Animais domésticos também são afetados pelos barulhos excessivos vindos dos fogos de artifício. A médica veterinária Wiviane Rêgo aponta que esse problema é intensificado nos cães. “Ele tem mais essa questão da fuga. Ficam desesperados, podem se debater. E pode desencadear alguns processos de convulsão, crises epilépticas… Alguns animais já tem e pode piorar. Além disso, pode gerar acidentes em casa, eles se batem tentando se esconder, derrubam os móveis, principalmente se eles ficam sozinhos, não tem quem ajude”, diz.
A questão neurológica e os acidentes são as maiores preocupações durante o período de queima de fogos. Para Wiviane, a ideia da lei estadual que proíbe a soltura do artifício é vantajosa, mas precisa de maiores fiscalizações. “Tem animais que fogem e não aparecem mais, tem os que são atropelados. Quando é na época do Círio, que soltam fogos, morrem muitas aves devido ao susto, aí, se fosse sem barulho, não teria esse problema”, completa.
Prevenção para pais e responsável de pessoas com autismo
- Usar abafador de som;
- Deixar a criança em um lugar confortável da casa e se possível deixar tocando uma música ou desenho que ela goste.
Remediação
- Levar a criança para o local da casa mais distante dos fogos;
- Ficar com ela, abraçando-a (se ela gostar), dizer palavras de conforto (“está tudo bem, mamãe está com você”) e oferecer brinquedos/itens que ela goste (celular, um carrinho)
- Não brigar/gritar com ela (isso pode fazer a crise aumentar);
- Garantir que o lugar da casa seja seguro para ela, evitar locais com quinas, objetos cortantes, vidro etc, de preferência o quarto, com travesseiros e colchões.
Prevenção para tutores de animais (devem ser feitas com antecedência)
- Medicações, de acordo com orientação médica;
- Enrolar o pet em uma toalha ou cobertor para evitar que ele fique agitado;
- Adaptar o pet ao barulho.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA