Estudo inédito sobre o ipê no Pará apresenta resultados; madeira representa 4% das exportações

O Pará é o maior produtor e exportador nacional de madeira nativa da região amazônica e o segundo maior do mercado nacional de demais madeiras

O Liberal, com informações da Embrapa

O projeto Ipê, desenvolvido pela Embrapa Amazônia Oriental com o apoio da Associação das Indústrias Exportadoras de Madeira do Estado do Pará (Aimex), aponta em seus resultados preliminares que nas áreas de manejo florestal avaliadas no estado do Pará as populações de ipê-amarelo (Handroanthus serratifolius) e ipê-roxo (Handroanthus impetiginosus) foram mantidas após a exploração florestal. É a primeira vez que a pesquisa em parceria com a iniciativa privada estudam em larga escala a ocorrência, a distribuição e o ciclo de crescimento do ipê-amarelo e ipê-roxo na região. 

 “Verificamos que as estruturas das populações de ipê na área estudada são mantidas mesmo após a exploração com as técnicas de manejo florestal”, afirma o pesquisador da Embrapa Lucas Mazzei. O estudo foi realizado nas áreas de manejo da empresa Amazônia Florestal, que tem sede em Itaituba, no Pará. Desde 2012, a empresa tem 85 mil hectares disponíveis para o manejo por meio de concessão na floresta estadual Mamuru-Arapiuns, no oeste paraense. 

A equipe técnica realizou inventário diagnóstico para as espécies de ipê-amarelo e ipê-roxo em parcelas dentro de três Unidades de Produção Anuais (Upas) de manejo florestal. A partir do processamento dos dados, os resultados indicaram a coleta de 15 indivíduos de ipês (10 amarelos e 5 roxos) com diâmetro (DAP) acima de 10 cm. 

 “O estudo demonstrou preliminarmente a existência de mais de uma árvore de ipê acima do limite estabelecido por hectare, além da regeneração natural dessa população em vários pontos da floresta”, explica Mazzei. Trata-se, segundo o especialista, de passo importante para mostrar que o manejo florestal é sustentável, e que o avanço da pesquisa sobre essa espécie é fundamental para apoiar a legislação e as políticas públicas.  

O manejo florestal sustentável (MFS) tem base científica e corresponde ao uso da floresta que mantém a cobertura do solo, resguardando a biodiversidade e os serviços ambientais da floresta. Na sua essência, é a retirada de árvores de forma planejada em parcelas inventariadas e respeitando o ciclo de crescimento da floresta.

O nome ipê origina-se da língua indígena tupi e significa casca dura.  É uma árvore que ocorre naturalmente em todo o Brasil. Existem mais de 100 espécies dos gêneros Tabebuia e Handroanthus, ambos da família Bignoniaceae. Com flores amarelas, roxas, rosas, brancas e verdes, o ipê está presente nas cidades e nas florestas. Além da bela floração, algumas espécies dessa árvore, como o ipê-amarelo (Handroanthus serratifolius) e o ipê-roxo (Handroanthus impetiginosus), têm uma madeira de alta durabilidade, resistência e beleza.

image Os ipês fazem parte de um estudo inédito de manejo florestal dessa espécie (Amazônia Florestal / Arquivo)

Ipê tem alto valor de mercado, aponta Aimex


O Pará é o maior produtor e exportador nacional de madeira nativa da região amazônica, segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). Em 2021, o estado exportou quase 212 mil m³ de madeira principalmente para Estados Unidos e União Europeia, volume que movimentou em torno de R$ 200 milhões na balança comercial paraense. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil produziu cerca de 11 milhões de metros cúbicos de madeira em tora em 2020/2021. O Pará aparece como o segundo maior produtor nacional com 3 milhões e meio de m³ anuais, perdendo para o Mato Grosso com 3 milhões e 800 mil m³.

Segundo o diretor técnico da Aimex, Deryck Martins, o ipê representa em torno de 4% do volume de madeira exportado pelo estado do Pará. Porém quando se observa o valor dessa espécie no mercado internacional, o impacto é outro: “o metro cúbico de ipê serrado já chegou a 15 a 17 mil reais, enquanto que a maçaranduba ou o freijó ficaram em torno de 7 mil reais”, conta Martins. 

“O ipê viabiliza financeiramente o manejo. Nós precisamos valorizar esse produto, que é a vantagem competitiva do Brasil em relação a outros países”, afirma Bruno Sato, sócio-diretor da Amazônia Florestal. De acordo com Sato, a empresa produz anualmente 40 mil metros cúbicos de madeira nas áreas de manejo florestal. 

O aumento do interesse internacional pelo ipê, levou à indicação do gênero handroanthus para compor a lista da Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (Cites). A convenção, assinada pelo Brasil, controla a exportação de produtos da flora e fauna. 

Para Deryck Martins, da Aimex, a entrada da espécie na listagem é uma preocupação equivocada, pois as informações técnicas e científicas demonstram que não há risco de extinção. E além disso, pode ser ineficiente, tendo em vista que somente 10% da madeira produzida no Brasil é exportada para outros países.  

 “Não há nenhum interesse do setor em acabar o estoque de madeira. Então, o manejo florestal é a base, o coração da atividade”, afirma Deryck Martins. Ele destaca ainda que a pesquisa tem um papel fundamental em fortalecer a sustentabilidade da atividade madeireira na Amazônia, na medida em que gera dados e informações técnicas para o manejo das espécies de interesse comercial. “O conhecimento técnico-científico ajuda a termos regras, leis e políticas públicas mais coerentes”, conclui.

O empresário Bruno Sato, que faz parte da terceira geração da família que trabalha com a produção madeireira na Amazônia, acredita que o estudo científico é fundamental para aprimorar cada vez mais o manejo florestal.  “O mundo está preocupado com sustentabilidade da floresta e isso é ótimo, mas é importante ressaltar que com o manejo florestal o ipê vai continuar de pé e as florestas vão continuar gerando renda, emprego e divisas para o país”, finaliza.

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