Estudante formada pela Ufopa se torna a primeira indígena gestora ambiental do Brasil

Elaine Borari defendeu o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) sobre a relação da etnia com o igarapé do Jacundá, em Alter do Chão

O Liberal
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A estudante Elaine Borari se tornou a primeira gestora ambiental indígena formada em uma universidade pública brasileira. A jovem se graduou no curso de Gestão Ambiental do Instituto de Ciências e Tecnologia das Águas (ICTA) da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). No último dia 19 de agosto, a profissional marcou história com a defesa do trabalho de conclusão de curso (TCC) sobre "A Relação da Etnia Borari com o Igarapé do Jacundá em Alter do Chão, Pará – Brasil".

Segundo Borari, o objetivo principal da pesquisa foi apresentar um diagnóstico ambiental e cultural para a melhor forma de preservação da área do entorno da cabeceira do lago do Jacundá, no distrito de Alter do Chão, em Santarém, vila balneária localizada a 37 quilômetros da sede do município.

A estudante aponta que a escolha do tema partiu da preocupação com o meio ambiente, por conta do crescente assoreamento que ocorre no entorno do lago do Jacundá, com o desmatamento da cabeceira do igarapé e com a perda excessiva das plantas nativas que a protegem. “A relação com a comunidade está para além de um costume, é uma forma de mostrar o respeito pelo que é mais sagrado: à água, por ser vida, e aos encantados, que são sua história, isto é, pela comunidade indígena”, destacou Elaine Borari.

“Como resultados, observamos que, diante dos relatos, compreende-se que os indígenas ainda precisam do igarapé para seu autossustento, buscam formas de preservar seu território para manutenção das suas atividades tradicionais e, principalmente, por ainda possuirem muitas plantas de uso medicinal, de alimentação e de artesanato”, apontou Elaine Borari.

A pesquisa, segundo ela, foi motivada desde 2014 pelas observações como moradora da localidade. “Minha ideia foi essa, por eu morar aqui perto. Via muitas coisas erradas. Desde lá fui pegando os materiais que estavam disponíveis, como as imagens, os relatos que eu já tinha de conhecimentos desde 2012. A minha pesquisa de campo, já como universitária, foi desde 2019. Juntei o que já tinha e fui novamente em campo, comparando os dois períodos da seca e da enchente, observando o que havia mudado ou vinha mudando entre 2019 a 2021”.

Para o professor Rafael Magalhães, coordenador do Bacharelado em Gestão Ambiental (ICTA/Ufopa) e orientador do trabalho, a trajetória marca uma conquista. "Representa uma conquista de toda a sociedade do Oeste do Pará, em especial para enfatizar a integração de saberes para garantias dos direitos sociais, ambientais, territoriais e culturais. Como orientador, posso dizer, sem dúvida, que o aprendizado foi mútuo nestes últimos dois anos de parceria, em especial por lidar com o excelente protagonismo dela, desde a escolha do tema até a discussão da pesquisa", disse.

Segundo um relatório antropológico divulgado em 2009, de observações feitas na região, os borari “necessitam das áreas de mata e dos cursos de água que deságuam no Lago Verde para manterem seu padrão adaptativo, pois possuem uma estreita relação com os ambientes que se encontram no interior das florestas e nas margens e leito dos rios. Esta relação ultrapassa a dimensão econômica e utilitária representando também o substrato da vida cultural e simbólica da sociedade Borari. A vida nas margens do Lago Verde e nos seus igarapés contribui para moldar tanto sua economia e subsistência, como também seus sistemas de classificação espacial e sua visão de mundo”.

As informações do relatório foram passadas pela professora Luciana Franca, antropóloga do Programa de Antropologia e Arqueologia do Instituto de Ciências da Sociedade (ICS) da Ufopa.

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