Especialistas alertam para importância de vacinar as crianças contra a poliomielite
Em cada 200 infectados, um será paralisado, e os de cinco anos de idade são os mais afetados
No Brasil, desde 2015 a cobertura vacinal contra a poliomielite, cuja meta deveria ser de 95%, tem registrado queda a cada ano. A pandemia agravou a situação e os índices de cobertura vacinal contra a polio caíram de 70%, em 2019, para 60% em 2020. Esse dado acendeu o alerta dos especialistas para a importância da proteção das crianças contra a paralisia infantil por meio da vacinação, principalmente no momento de retomada das aulas escolares e das demais atividades diárias. E, no mês do combate à poliomielite, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBim) e a Organização Panamericana de Saúde alertam para que as pessoas, principalmente as crianças, mantenham a carteira de vacinação atualizada para que doenças aparentemente controladas e erradicadas, como a poliomielite, não voltem. Domingo próximo (24) é o Dia Mundial de Combate à Poliomielite.
Esse tema foi tratado durante o “Webinar: Dia Mundial de Combate à Poliomelite”, uma live realizada na manhã desta terça-feira (19). O evento reuniu Luiza Falleiros, integrante da Organização Panamericana de Saúde, e Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBim), além da Paulo Ferronato, paciente da Associação G14 de Poliomielite, e jornalistas. G14 é o código da CID (classificação internacional de doenças) para quem tem sequelas da doença. Ao informar que atualmente a polio está erradicada no Brasil, a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) acrescentou que, em 2019, a cobertura vacinal foi de 72,7%. Em 2020, 59,1%. E, em 2021, e até agora, 48,1%. E explicou que a poliomielite (paralisia infantil) é uma doença contagiosa aguda causada por vírus que pode infectar crianças e adultos e, em casos graves, pode acarretar paralisia nos membros inferiores.
Vacinação é a única forma de prevenção, diz Sespa
A vacinação é a única forma de prevenção. “Todas as crianças menores de cinco anos devem ser vacinadas, para impedimos que esta doença possa reemergir”, afirmou. Os postos de saúde estão abastecidos com as doses da vacina contra a polio, e o esquema vacinal conta com três doses da vacina injetável - VIP (2, 4 e 6 meses) e mais duas doses de reforço com a vacina oral bivalente - VOP (gotinha). “A campanha de multivacinação que está ocorrendo é uma excelente oportunidade para a atualização das cadernetas de vacinação das crianças”, afirmou. A Sespa ressaltou que a execução da vacinação é competência municipal e já repassou as doses para realização da campanha.
Integrante da Organização Panamericana de Saúde, Luiza Falleiros disse que, em cada 200 infectados, um será paralisado (os de cinco anos são os mais afetados). E até 5% dos paralisados irão morrer, porque o vírus pode afetar os músculos da respiração. “Estamos vivendo um momento crítico de retorno à mesma situação de décadas atrás, com alta incidência de doenças preveníveis por vacinas”, alertou. O último caso de pólio no Brasil foi em 1989. “Estamos atualmente com mais de 30 anos de incidência zero da doença. E precisa continuar dessa forma, porque a doença é muito grave”, afirmou. Mas, segundo ela, 30 anos sem polio selvagem na América Latina tem feito a população achar que a doença não existe e, por isso, não incentiva a vacinação de suas crianças. “A ameaça da polio continua”, afirmou.
500 mil crianças que não foram vacinadas, diz presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações
Presidente da SBim, Juarez Cunha disse que as vacinas são consideradas a maior conquista no campo da saúde pública e evitam aproximadamente três milhões de mortes por ano no mundo. As vacinas contribuíram com aumento de aproximadamente 30 anos na expectativa de vida dos brasileiros. “As baixas coberturas vacinais (de forma geral) já eram observadas antes da pandemia e pioraram muito nos últimos dois anos”, afirmou. Há 500 mil crianças no Brasil que não foram vacinadas (dados de 2020). Segundo ele, é um risco altíssimo, e um dos fatores é a baixa cobertura vacinal. E, para enfrentar esses desafios, é preciso haver a substituição completa da pólio oral, que eliminou a doença no Brasil, pela inativada, que é mais segura, conforme recomenda a OMS. Por ser inativada, não tem como causar a doença. Esse será um processo paulatino.
Paulo Ferronato nasceu em 1964, em Xanxerê, interior de São Catarina. E, dois anos depois, teve a doença. Não havia a vacina na cidade em que ele morava. Ele ficou tetraplégico. “Em uma semana eu andava e, dois dias depois, não andava mais”, disse. Atualmente, atua no Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência de Xanxerê (Comde). Paulo lamentou que os pais não querem vacinar seus filhos, com medo de que o imunizante faça mal às crianças. “Vacinar é sinônimo de amor”, disse ele, que é casado e pai de três filhos.
Saiba mais sobre a poliomielite
A poliomielite é uma doença infecto-contagiosa aguda, causada por um vírus que vive no intestino, denominado poliovírus. Embora ocorra com maior frequência em crianças menores de quatro anos, também pode ocorrer em adultos. O período de incubação da doença varia de dois a trinta dias sendo, em geral, de sete a doze dias. A maior parte das infecções apresenta poucos sintomas ou nenhum e estes são parecidos com os de outras doenças virais ou semelhantes às infecções respiratórias como gripe - febre e dor de garganta - ou infecções gastrintestinais como náusea, vômito, constipação (prisão de ventre), dor abdominal e, raramente, diarréia.
Transmissão:
Uma pessoa pode transmitir diretamente para a outra. A transmissão do vírus da poliomielite se dá através da boca, com material contaminado com fezes (contato fecal-oral), o que é crítico quando as condições sanitárias e de higiene são inadequadas. Crianças mais novas, que ainda não adquiriram completamente hábitos de higiene, correm maior risco de contrair a doença. O Poliovírus também pode ser disseminado por contaminação da água e de alimentos por fezes.
Prevenção
A poliomielite não tem tratamento específico. A doença deve ser evitada tanto por meio da vacinação contra poliomielite como de medidas preventivas contra doenças transmitidas por contaminação fecal de água e alimentos. As más condições habitacionais, a higiene pessoal precária e o elevado número de crianças numa mesma habitação também são fatores que favorecem a transmissão da poliomielite. Logo, programas de saneamento básico são essenciais para a prevenção da doença.
A imunização contra a poliomielite deve ser iniciada a partir dos 2 meses de vida, com mais duas doses aos 4 e 6 meses, além dos reforços entre 15 e 18 meses e aos 5 anos de idade.
Fonte: Fiocruz
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