Baixa cobertura vacinal ameaça o retorno de doenças erradicadas
Campanhas de multivacinação alertam para a importância da atualização da carteira vacinal de crianças e jovens
A campanha de vacinação contra a covid-19 já ultrapassou 100 milhões de pessoas com ciclo vacinal completo, ou seja, os brasileiros que já receberam duas doses de imunizantes disponíveis no país ou dose única da vacina Janssen. Em contrapartida, a baixa cobertura de algumas vacinas ameaçam um retorno de doenças já erradicadas no Brasil por conta da pouca adesão da população. No Pará, são três as principais vacinas com cobertura mais baixas: contra HPV, contra poliomielite e tríplice viral.
O imunizante contra o HPV (Vírus do Papiloma Humano) é indicado para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14, sendo capaz de proteger até contra quatro tipos diferentes de câncer, como o do colo de útero, ânus e órgãos genitais. A vacina Tríplice Viral é recomendada para crianças a partir dos 6 meses de idade até 59 anos, que imuniza contra as doenças sarampo, caxumba e rubéola. A vacina contra Poliomielite previne contra a paralisia infantil.
Para sanar esse problema, o Ministério da Saúde implantou o "Dia D" da campanha de multivacinação, iniciativa que busca incentivar a imunização com 18 vacinas diferentes para pessoas com até 15 anos. Em Belém, todos os imunizantes que fazem parte da atualização do cartão de vacinação estão com a cobertura abaixo do estipulado. Esse atraso pode impactar no país com o ressurgimento de surtos ou até mesmo de endemias que estavam controladas, como explica Caio Botelho, professor doutor em virologia pelo Instituto Evandro Chagas.
"Em 2019, ocorreu um surto de febre amarela no Rio de Janeiro. Esse é um exemplo clássico de como a falta de adesão à vacinação pode impactar na vida das pessoas. Toda vez que um grupo não atualiza o calendário vacinal, fica à mercê das infecções contagiosas e pior, doenças que há décadas não haviam registros no país podem voltar", ressalta o pesquisador.
Ananindeua convoca para multivacinação
O período de pandemia e o temor de um possível contágio por outras doenças pode ser um dos motivos que fizeram com que muitos pais deixassem de levar os filhos para atualizar a carteirinha de vacinação. Por isso, vários municípios integraram a campanha de multivacinação para reduzir esse déficit nas coberturas vacinais. O problema também se repete em Ananindeua. Além da vacina Tríplice Viral, a BCG, que previne formas graves de tuberculose e da Hepatite B, que pode causar lesões no fígado, estão com baixa procura.
Para isso, o município estará realizando a campanha de multivacinação, o "Dia D", no próximo sábado (23), mas para o médico Caio Botelho, somente a convocação pública do público alvo não é o suficiente para solucionar o problema. "O Programa Nacional de Imunização (PNI) é referência mundial. A diminuição de campanhas vacinais foi o que mais influenciou nesse cenário que estamos vivenciando. O incentivo, criação de conteúdos e discussões sobre a importância da imunização é primordial, principalmente para trazer essas discussões para as salas de aula e o nosso convívio. É necessário uma campanha que seja forte contra as desinformações e possa integrar escolas e o trabalho ao ambiente de saúde", pontua o profissional
A situação atual é preocupante e possibilita o retorno de várias doenças, inclusive a poliomielite. O último caso registrado de pólio no Brasil foi em 1989, mas os recentes levantamentos do Ministério da Saúde apontaram uma redução de 98,29% para 75,95% na cobertura vacinal da doença que é contagiosa e pode acarretar em sequelas para a toda vida do infectado.
Investimentos em informação são aliados na imunização
A grande campanha de vacinação realizada no último sábado (16) continua na capital. A Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) reitera que no fim de semana foi apenas o dia "D", mas as 54 Unidades Municipais de Saúde (UMS) seguem até o final do mês de outubro, de segunda a sexta, das 8h às 17h, oferecendo os 18 imunizantes para a população.
O pesquisador acrescenta que o povo brasileiro tem um histórico de adesão as campanhas de forma positiva e construtiva e é momento para a união dos grandes veículos com o governo para recuperar a confiança e eliminar as desinformações sobre a ciência.
"Todos temos uma história de vacinação. Um elemento afetivo de ir ao posto para se imunizar, dos fantoches do Zé Gotinha e o choro ao receber a injeção. Precisamos resgatar essa discussão responsável para a sociedade como um todo. Os principais responsáveis pelo sucesso da imunização é cada um de nós. É uma atividade individual com impacto coletivo e que precisamos retomar esses debates coletivos acerca do valor da vacina e derrubar a desinformação", conclui Caio Botelho.
(Karoline Caldeira, estagiária sob a supervisão de Victor Furtado, coordenador do Núcleo de Atualidades)
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