Escritor volta a estudar aos 40 anos e se torna referência na literatura em Marabá

Somente aos 40 anos, em conversas com colegas do trabalho braçal, é que despertou para a importância do letramento em sua vida

Tay Marquioro
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Há dez anos, o escritor Adão Almeida usa páginas em branco para redigir seus livros e contar capítulos inéditos em sua vida. O poeta, cordelista e contista, atualmente com 50 anos de idade, compartilha com seus leitores como tem sido, principalmente, a última década. Um período revolucionário, diante do acesso à educação, por meio da Educação de Jovens e Adultos (EJA), onde cursou a modalidade na Escola Municipal Tereza Donato, localizada na Agrópolis do Incra, núcleo Cidade Nova.

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“A educação é muito importante na vida de um ser humano, porque só a educação pode nos transformar e ampliar o nosso conhecimento para nos tornar uma pessoa maior”, defende Almeida. Nascido em família de origem simples e sem muitos recursos, o escritor conta que não teve muitas oportunidades de estudar na infância. Por conta das dificuldades, ele havia estudado apenas até a terceira série (atual 2º ano) e, somente aos 40 anos, em conversas com colegas do trabalho braçal, é que despertou para a importância do letramento em sua vida. Logo, o objetivo era conseguir ser aprovado em um concurso público e ter uma profissão.

“Procurei a EJA, me matriculei e comecei a estudar novamente. A primeira coisa que me despertou para voltar a estudar foi a falta de trabalho, porque quando a gente não está qualificado fica mais difícil pra você conseguir um trabalho. Os colegas me questionavam porque eu não fazia um concurso. Mas eu não tinha estudos, como eu iria prestar um concurso? Daí, entendi que tinha de estudar. Só assim eu teria chance de conseguir um emprego melhor”, revela.

image Escritor faz palestras e bate-papo com crianças em escolas do município (Divulgação/ Biblioteca Orlando Lobo)

Para pleitear uma vaga na EJA e concluir o ensino fundamental, Adão precisou ser submetido a um teste de habilidades e conhecimento. Tão logo aprovado, começou a cursar os módulos com conteúdo dos anos finais do ensino fundamental. Foram necessários 18 meses de dedicação para sair o certificado de conclusão do ensino básico. Já as habilidades como poeta foram descobertas graças ao olhar atento de um professor, que ajudou Adão a desbravar o mundo das letras.

“Eu vejo a Escola Tereza Donato de Araújo como uma grande porta que se abre todos os dias para receber pessoas que, como eu, não tiveram a oportunidade de concluir seus estudos de maneira regular. Fui abraçado pela EJA e, lá, dei início aos meus estudos. Eu estava tão sedento para estudar, por conhecimento, que produzi um texto logo nos primeiros meses. Era uma poesia! Eu nem sabia, mas fui alertado para isso pelo professor. Daí por diante não parei mais de escrever, de estudar”, observa.

A busca pelo conhecimento levou o escritor a caminhos jamais imaginados antes. Atualmente, ele faz parte de três academias de letras e é um dos escritores mais populares de Marabá, inclusive, com direito a participação frequente em palestras e bate-papos em diversas escolas do município. O escritor tem mais de dez obras publicadas e ainda comemora participação em várias antologias, bem como contribuições em obras de países da América Latina. Sua conquista mais recente é a vaga no curso de bacharelado em biblioteconomia, na Universidade Aberta do Brasil (UAB).

image Escritor tem mais de dez obras publicadas (Divulgação/ Ascom Marabá)

“Minha literatura foi abraçada por Marabá e região, e está chegando em países da América Latina! Mas só por meio do estudo, por meio da EJA, tive essa grande oportunidade. Quero passar uma mensagem de superação. Assim como eu qualquer pessoa pode. Pensei que não tinha mais saída, que teria de ficar estagnado na vida, mas descobri que a vida não é só isso. Nunca é tarde para aprender, ainda mais quando se tem uma escola que está ali nos esperando, com professores capacitados, carismáticos”, reconhece o escritor.

image Escritores e a história da literatura de Marabá (Divulgação/ Centro Regional de Governo)


Poema

Sujeito Simples, por Adão Almeida

Seu moço, sou simples

Sujeito pouco letrado

A vida foi a escola

Do certo e do errado

Tornei-me consciente

Para não ser manipulado

 

Meus pais são humildes

Porém conservadores

Ensinaram-me a seguir

Sem perder os valores

Geração bem-aventurada

Dos meninos sonhadores

 

Hoje, tudo é banal

Com obesa facilidade

Direitos foram adquiridos

Menos responsabilidade

A educação vem de casa

Ciência é a formalidade.

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