Endometriose: doença que acomete Anitta afeta uma a cada 10 mulheres no Brasil
Quando não tratada, a doença pode evoluir para quadros mais graves. Conheça os sinais de alerta
Esta semana a cantora Anitta usou as redes sociais para contar que passará por uma cirurgia após ter sido diagnosticada com endometriose. A doença atinge uma a cada 10 mulheres no Brasil. Segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa), foram realizadas na rede pública paraense 75 internações por endometriose em 2021, sendo que a faixa etária com o maior número de casos é a de 40 a 49 anos (28 registros).
Em parâmetro nacional, mais de 26,4 mil atendimentos foram feitos no Sistema Único de Saúde (SUS) e oito mil internações foram registradas na rede pública, de acordo com o Ministério da Saúde ano passado. Em Belém, os casos de endometriose não são notificados, mas muitas mulheres também convivem com o problema.
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É o caso da autônoma Rafaella Caroline Lopes, de 27 anos. Ela conta que descobriu a endometriose há aproximadamente um mês, depois de um ano e meio suportando dores intensas e desconfortos que pioravam mês a mês:
“Antes da minha menstruação descer, eu sentia uma dor de cólica muito grande, e a menstruação também vinha muito intensa, chegando a durar 8 dias. Eu também sentia meus seios incharem, sentia enjoo, dor de cabeça forte e, com o passar do tempo, foi piorando”.
Rafaella já é mãe de dois filhos e lembra que a dor da cólica era tão forte que parecia com a dor do parto. Com o enjôo associado, as pessoas costumavam suspeitar de gravidez, mas Rafaella sabia que não era possível, porque já era operada para não ter mais filhos.
“Quando eu comecei a ter dor após relações sexuais, cheguei a considerar que tivesse alguma relação com meus partos anteriores. Mas não fazia muito sentido, porque meu último parto foi em 2018, e as dores começaram mais de um ano depois”.
Com a intensificação dos desconfortos, Rafaella buscou por orientação médica. Após os exames, recebeu o diagnóstico de endometriose. “O resultado veio depois de uma transvaginal. Então eu conversei com a médica e, como eu já tenho dois filhos, nós optamos pelo tratamento cirúrgico, a histerectomia”.
Apesar do alívio de saber que ficará livre da endometriose, Rafaella lamenta que tenha suportado tantas dores e precise passar por um procedimento mais invasivo. Por isso, ela deixa o alerta: “Quando a mulher sente qualquer coisa, é preciso buscar ajuda médica. As pessoas consideram que mulher sentir dor é normal. A gente acaba se acostumando com isso, mas a dor sempre deve ser investigada”.
Dores podem ser alerta para endometriose
A ginecologista Larissa Loyola concorda e reafirma o conselho. Ela conta que as dores são o principal sintoma que acende o alerta para a endometriose, e elas podem se manifestar de diversas formas:
“Existem várias características clínicas que levam à suspeita da endometriose: dor pélvica crônica, dismenorreia (dor de cólica, no período menstrual), a dispareunia (dor na relação sexual) e disquesia (dor ao evacuar). Além das dores, uma suspeita também é a dificuldade em engravidar (infertilidade)”, detalha a médica.
Endometriose pode ter várias causas
A ginecologista ressalta que a endometriose é caracterizada pela presença do tecido endometrial, a camada mais interna do útero, fora deste local, seja no intestino, nos ovários, nos ligamentos uterinos ou em outra região. Esse problema pode ser provocado por múltiplos fatores:
“Existem várias teorias, como a da menstruação retrógrada, que em vez de descer para o colo uterino, sobe para a região pélvica; a teoria iatrogênica, que ocorre depois de algum procedimento cirúrgico, como a cesária ou miomectomia. Tem também as teorias imunológicas, de que a doença seria provocada por algum mecanismo imunológico deficiente, além dos fatores de hereditariedade”.
Se não tratada, a endometriose pode progredir para quadros mais graves, chegando a provocar obstrução de alguns órgãos, infertilidade e perda da qualidade de vida da paciente: “Dependendo da posição em que o tecido está progredindo e do grau de acometimento, a endometriose pode levar à obstrução intestinal, obstrução dos ureteres, podendo levar à perda do rim, e também provocar infertilidade, além da piora aguda das dores, levando a mulher a uma série de debilidades”, explica a ginecologista.
Diagnóstico e tratamento devem ser precoces
Para evitar o avanço da doença, Larissa orienta que, ao primeiro sinal de dor, a mulher deve procurar o médico especialista e solicitar os exames capazes de diagnosticar a endometriose, a saber: a ultrassonografia transvaginal e a ressonância nuclear magnética, ambas com preparo intestinal. Se confirmada a doença, o tratamento precisa ser imediatamente iniciado:
“O objetivo do tratamento é impedir a progressão da doença e aliviar os sintomas. Existe o tratamento medicamentoso, com um bloqueio hormonal, associado com mudanças alimentares para uma dieta anti inflamatória e antioxidante. Também podemos lançar mão da fisioterapia pélvica. Além disso, tem o tratamento cirúrgico, para pacientes que não tiveram melhora com os outros tratamentos”, informa a ginecologista.
Atendimento no Pará
A Sespa informou, por meio de nota, que a prevenção à endometriose é feita a partir de consulta com ginecologista nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), mantidas pelas Secretarias Municipais de Saúde. “Por se tratar de uma doença cuja notificação não é obrigatória pelo SUS, os dados do DATASUS dão conta apenas do número de internações. A Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará oferece tratamento para a endometriose no Ambulatório de Cirurgia Ginecológica. Para ser atendida no local, a paciente precisa de encaminhamento das secretarias municipais de saúde, por meio de atendimento nas UBS”, finaliza o comunicado
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