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Conheça os barcos hospitais criados a pedido do Papa Francisco para atender ribeirinhos da Amazônia

Papa Francisco conhecia e apoiava o projeto que atendeu quase 600 mil pessoas no Pará e Amazonas

Vito Gemaque
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Uma ação criada a pedido do Papa Francisco já beneficiou aproximadamente 600 mil pessoas na Amazônia, especialmente nos estados do Pará e Amapá, por meio de atendimentos hospitalares realizados no interior da floresta. Barcos-hospitais e ambulanchas percorrem 17 municípios paraenses, atendendo a população ribeirinha e das cidades do interior, que enfrenta dificuldades no acesso a atendimento médico, consultas com especialistas e até cirurgias de baixa complexidade.

Incentivador de uma Igreja Católica missionária e comprometida com os pobres, essa sempre foi uma das marcas de Papa Francisco, o argentino Jorge Mario Bergoglio, falecido na última segunda-feira (21/04), no Vaticano, aos 88 anos. Foi graças ao seu incentivo que a Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus, com sede no Rio de Janeiro, passou a atuar na Amazônia em 2019.

A origem da iniciativa remonta à Jornada Mundial da Juventude de 2013, quando os franciscanos receberam a visita do pontífice no hospital que administram no Rio de Janeiro. Na ocasião, o Papa perguntou ao Frei Francisco se a Fraternidade atuava na Amazônia. Diante da resposta negativa, o Santo Padre afirmou: “Então devem ir!”

Após esse chamado, a fraternidade decidiu iniciar suas atividades na região Oeste do Pará, começando um trabalho na Santa Casa de Misericórdia de Santarém. Os franciscanos assumiram dois hospitais: um em Óbidos e outro em Juruti. “É uma realidade muito especial. Percebemos que a população ribeirinha tinha dificuldade em chegar aos hospitais, então pensamos que o único meio era o hospital ir até ela – como a Igreja que o Papa Francisco quer, que vá ao encontro das pessoas”, declarou o Frei Francisco.

Foi assim que nasceu o primeiro barco-hospital. Desde então, a ação já atendeu cerca de 600 mil pessoas no Pará, com atendimentos clínicos, especializados, odontológicos e até cirurgias. O primeiro barco-hospital recebeu o nome de Papa Francisco na Providência de Deus e foi inaugurado oficialmente em 17 de agosto de 2019, em Belém. A base está localizada na cidade de Óbidos, atendendo mais de mil comunidades ribeirinhas da região amazônica.

“Para nós, é um motivo de muita alegria e orgulho ter compartilhado um projeto que surgiu de um pedido dele”, afirma o coordenador administrativo do barco, Frei Ezequiel Salvático.

Atualmente, a Fraternidade coordena os hospitais, três barcos-hospitais e duas ambulanchas. Ao todo, 13 membros da Fraternidade acompanham os trabalhos, incluindo ações de evangelização.

“O Papa Francisco sempre nos acompanhou desde o início, especialmente com o barco-hospital. Quando Frei Francisco apresentou o projeto, um dos pedidos do Papa foi para que não colocássemos seu nome. O frei respondeu que, nesse ponto, seríamos desobedientes, pois a homenagem era mais do que justa”, relata.

Apoio direto do Vaticano

O Papa Francisco acompanhava de perto o desenvolvimento do projeto e chegou a doar, diretamente do Vaticano, um aparelho de ultrassom portátil para o barco-hospital. Autor da encíclica Laudato Si’, um apelo global em defesa da natureza, o Papa tinha um carinho especial pelos povos amazônicos.

“Ele sempre teve esse olhar e respeito por todas as pessoas da região Amazônica, compreendendo os desafios que enfrentam para viver e cuidar da floresta. Costumamos dizer que a grandiosidade da Amazônia é proporcional aos desafios que ela impõe”, reforça o Frei Ezequiel. “Ele sempre pediu que os religiosos fossem um sinal de esperança para as pessoas que vivem na região”, completa.

barco Papa Francisco

Como é o Barco Hospital Papa Francisco?

O barco-hospital Papa Francisco tem 32 metros de comprimento, com 20 tripulantes fixos e mais 10 voluntários que se revezam em expedições que duram entre 7 e 10 dias. A embarcação está equipada para oferecer consultas médicas, exames laboratoriais e de imagem, entrega de medicamentos, internações e cirurgias de baixa e média complexidade. Cada expedição envolve cerca de 40 profissionais, incluindo equipes locais de apoio.

A estrutura do hospital flutuante inclui consultórios médicos e odontológicos, centro cirúrgico, sala oftalmológica, laboratório, salas de vacinação e medicação, enfermaria e equipamentos de diagnóstico como raio-X digital, mamografia, ecocardiograma, ultrassom e eletrocardiograma.

Além da atenção básica, as equipes atuam na prevenção e diagnóstico precoce do câncer, por meio de exames e triagens. Segundo os engenheiros responsáveis pela construção, não há outra embarcação com estrutura hospitalar semelhante no Brasil.

Os recursos para a construção do barco vieram de uma indenização por dano moral coletivo firmada em 2013 entre o Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região (Campinas), a empresa Raízen Combustíveis (antiga Shell/Basf) e o Ministério Público do Trabalho.

Os atendimentos começaram em setembro de 2019 e contam com o apoio do Governo do Pará, por meio de termo de fomento com a Secretaria de Estado da Saúde (Sespa). Desde então, já foram realizados mais de 300 mil atendimentos na Calha Norte do estado.

Expansão da iniciativa

O projeto está em fase de ampliação com a construção do Barco Hospital João Paulo II, que funcionará como unidade de apoio, oferecendo leitos adicionais e consultórios. Essa nova embarcação também servirá para triagem dos pacientes. Todos os atendimentos são registrados no Sistema Único de Saúde (SUS), e, nos casos mais complexos, os pacientes são encaminhados com o apoio da Sespa. No fim de 2024, foi inaugurado o mais novo barco-hospital, em Manaus, o São João XXIII.

O Barco Hospital Papa Francisco realiza 21 expedições por ano. Desde sua inauguração, foram realizadas 121 expedições. O projeto conta com uma lista de espera de médicos voluntários interessados em participar. Hoje, são cerca de mil profissionais cadastrados.

As equipes incluem clínicos gerais, odontologistas, pediatras, ginecologistas, oftalmologistas, pneumologistas, cardiologistas e outras especialidades, que variam conforme a necessidade de cada município e a disponibilidade dos voluntários. Também integram as expedições três cirurgiões e anestesistas.

Um barco de esperança

Mais do que serviços médicos, os barcos-hospitais levam esperança a regiões isoladas. O impacto nas comunidades ribeirinhas, indígenas e quilombolas é evidente: pacientes que aguardavam meses por atendimento conseguem ser consultados, realizar exames e receber medicamentos no mesmo dia. 

O impacto simbólico também é profundo. “Eles chamam o projeto de ‘barco do Papa Francisco’, que chegou até a porta de suas casas. Como Igreja, isso nos enche de alegria. Temos muitos relatos comoventes”, afirma.

“As pessoas dizem com orgulho que foi o Papa quem mandou o hospital até a comunidade. Muitos querem ser atendidos dentro do barco e se sentem até curados ali. Isso traz entusiasmo e fé. O que mais nos alegra é ver que somos, como dizia o Papa, um sinal de esperança e da misericórdia de Deus para cada pessoa. Esse projeto é, acima de tudo, o amor colocado a serviço.”

Como ajudar

Interessados em contribuir com o projeto da Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus podem entrar em contato pelo telefone (11) 4200-8080 ou realizar doações via Pix: (11) 97682-9708. É possível acompanhar o projeto pelo Instagram: @barcohospitalpapafrancisco.

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