Círio 2023: artesãos de Abaetetuba aceleram produção para garantir tradição dos brinquedos de miriti
Eles estão correndo contra o tempo porque, em maio deste ano, houve o Festival do Miriti, naquele município, durante o qual os artesãos venderam todo o estoque de brinquedos
Os artesãos de Abaetetuba que produzem brinquedos de miriti estão agilizando seus trabalhos para vender essas mercadorias em Belém. Eles deverão estar na capital paraense a partir do dia 3 de outubro, já perto da grande procissão do Círio de Nazaré, realizada no segundo domingo daquele mês.
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Em suas casas, em ateliês ou em associações, os artesãos confeccionam os mais diversos tipos de brinquedos, que hoje são conhecidos no Pará, no Brasil e no exterior. Desde 2010, esse tipo de artesanato é considerado Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Pará, pela Lei Estadual 7.433/2010. E Abaetetuba é conhecida como a capital mundial do brinquedo de miriti.
O artesanato de miriti produzido pelos artesãos de Abaetetuba, no nordeste do Pará, é um dos principais elementos do Círio de Nazaré. O miritizeiro é uma palmeira abundante naquela região. É uma árvore que serve como meio de subsistência, para produzir cestaria, material de artesanato, complemento na construção de habitações, além de ser fruto de agradável sabor.
A macia polpa ou bucha da palmeira, após a retirada da casca de talas que a envolve, é suporte para a fabricação do tradicional brinquedo de miriti, joia do artesanato artístico que é símbolo do município. Este ano os artesãos tiveram um desafio a mais para a produção dos brinquedos.
É que a realização do Festival do Miriti em Abaetetuba, em maio deste ano, fez com que toda a produção deles fosse comercializada. Com isso, eles praticamente ficaram sem esse produto. E tiveram que literalmente correr contra o tempo para confeccionar os brinquedos para poder vencê-los no Círio, que é a maior vitrine para os artesãos.
Rivaildo Peixoto, o “Mestre Riva”, 48 anos, é diretor do Instituto Multicultural Miritis da Amazônia (Imma). Ele é de uma família tradicional que, há muito tempo, produz brinquedos de miriti em Abaetetuba. “A produção este ano se tornou atípica. Tivemos uma situação diferenciada, que foi o 19º Festival do Miriti (MiritiFest), promovido pela prefeitura. E foi um sucesso tremendo: todos os artesãos venderam as suas peças, e ficamos zerados de estoque. O festival ‘arrastou’ toda a produção destinada para Belém”, contou.
"O miriti é muito volátil. A gente tem mil e uma possibilidades de inventar ou reinventar ele" - Mestre Riva, artesão.
E, por essa razão, o número de peças que vai ser levada para Belém deverá ser menor que nos anos anteriores. “A gente levava entre 150 mil e 180 mil peças para o Círio. E, este ano, vamos levar entre 80 mil e 85 mil peças, produzidas pelos artesãos que fazem parte das quatro entidades que representam o miriti no município de Abaetetuba”, disse. “Como, graças a Deus, o festival arrastou toda a nossa demanda, a gente agora tem dificuldade para, em três, quatro meses, suprir essa necessidade da produção do Círio. É muito difícil”, afirmou.
Mestre Riva acredita que uns 90 artesãos de ofício deverão ir para Belém para expor sua produção. A maioria irá para Belém lá pelo dia 3 de outubro. Eles vão vender seus produtos (100% brinquedos de miriti) na Praça Dom Pedro I, de 4 a 9 de outubro.
'O miriti é a nossa identidade cultural', diz artesão
Sobre os brinquedos que serão vendidos há aqueles tradicionais que, como diz mestre Riva, “nunca perdem a majestade”: os dançarinos, os barcos popopô, a cobra, os pássaros, as canoas, o tatu, a pombinha, que o pessoal chama de ‘come-come’. Mas os artesãos também inovam em suas produções. “A inovação ocorre todo. No Festival do Miriti tem concurso de inovações. O miriti é muito volátil. A gente tem mil e uma possibilidades de inventar ou reinventar ele”, afirmou. Em média, dependendo do tamanho e da complexidade, cada peça leva em torno de duas horas e meia para ficar pronta. Os preços variam. Mas as peças mais populares custam entre R$ 10 e R$ 15, podendo chegar a R$ 30.
“A cultura do miriti é a nossa identidade cultural. É um privilégio que Deus deu aqui para nós, porque o artesanato miriti é confeccionado em muitos lugares. Eu estou no miriti desde os 5, 6 anos, quando comecei a ir para Belém com o papai”, afirmou. “O papai já estava por conta que a minha mãe, o meu avô e o meu bisavô já eram artesãos. E a representação do miriti para nós é algo muito forte”, afirmou.
Riva trabalhou 32 anos na panificação e dois anos e meio como professor de Geografia. E largou tudo por causa do miriti. “O miriti é tudo pra gente”, disse. Nesta época do ano, o ritmo também é intenso na Associação dos Artesãos Produtores de Artesanato de Miriti (AAPAM), onde, na manhã de quinta-feira (14), Mariane Miranda trabalhava na confecção de uma berlinda de Nossa Senhora de Nazaré.
Ela é filha Manuel Miranda, 56 anos de idade e 45 na produção do miriti, e em cuja casa funciona aquela associação. “O miriti me fez conhecer lugares que eu nunca imaginava que iria conhecer - Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais”, contou o artesão, que é mais conhecido como Miranda. “Sempre levando a minha arte. Sempre estando com o miriti”, contou. “O miriti faz parte da minha vida. E já fez eu conquistar muitas coisas na minha vida. Criei os meus filhos com brinquedo de miriti”, completou.
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