Cheias históricas no Amazonas causam estragos também no Pará
Maior registro da história foi em 2012, com 29,97 metros do nível do rio. Em 21 de maio, a marca foi de 29,84.
Municípios do Pará fazem divisa com os rios Negro e Solimões, que estão com cheias históricas e causando estragos. O rio Negro está prestes a alcançar a maior cheia já registrada na História. De acordo com projeções de especialistas, nos próximos dias o nível das águas baterá o recorde de 2012, ano da cheia mais extrema desde que o comportamento do rio começou a ser monitorado, há 119 anos. Chuvas de intensidade muito acima do normal atingiram toda a Bacia do Rio Negro nesta temporada, contribuindo para que as águas subissem mais rapidamente - e muito mais cedo, em comparação a outros anos.
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As consequências sociais e econômicas têm sido graves para as populações de diversas localidades do Amazonas, que ainda vêm sofrendo os impactos da pandemia de covid-19 de forma especialmente severa. Na capital, Manaus, as inundações atingiram diversos bairros e áreas do centro, incluindo pontos históricos, como a Praça do Relógio e o prédio da Alfândega, e áreas comerciais como a Feira Manaus Moderna.
Em 21 de maio, o nível do rio chegou a 29,84 metros - a segunda maior marca da História, a apenas 13 centímetros do recorde de 2012. Naquele dia, 58 dos 62 municípios amazonenses já estavam alagados e 20 estavam em situação de emergência – incluindo a capital. De acordo com dados da Defesa Civil, mais de 414 mil pessoas já haviam sido afetadas. Embora o aumento do nível das águas seja um processo natural nas bacias dos grandes rios, os números mostram que as cheias extremas estão ficando cada vez mais frequentes na Amazônia. Especialistas alertam que pressões ambientais, como o aquecimento global e o desmatamento em larga escala, tornarão ainda mais comuns esses eventos climáticos extremos.
Cheias acima do esperado têm sido mais constantes na bacia Rio Negro
As cheias acima do esperado têm sido mais constantes na bacia Rio Negro, destaca o meteorologista Renato Senna, do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam). "Analisando toda a série histórica, vemos que o intervalo entre os eventos de cheia extrema são cada vez menores", disse.
Os registros de quase 120 anos do nível da água no porto de Manaus - onde o Instituto Geológico (CPRM) faz as medições -, mostram que, das dez maiores cheias, oito ocorreram nos últimos 45 anos, sendo seis delas a partir de 2009. Essas cheias extremas, segundo Senna, estão sempre associadas a chuvas mais fortes que o normal. "Fizemos um levantamento das maiores cheias de 1970 em diante e constatamos que elas coincidiam com grandes anomalias nas chuvas observadas na Bacia do Rio Negro. Nos últimos anos, temos visto um aumento de frequência desse processo como um todo", afirma.
Senna afirma que a anomalia nas chuvas não abrange toda a Bacia Amazônica da mesma forma. Ela se concentra na parte da Amazônia ocidental e em parte da Colômbia, onde se formam os rios Negro e Solimões, que se juntam na região de Manaus, formando o rio Amazonas. "O Rio Madeira, que também faz parte da Bacia Amazônica, não está sendo tão afetado. Mesmo o Rio Solimões não foi tão afetado neste ano como o Rio Negro. Os rios Juruá e Purus, da bacia do Solimões, porém, foram muito afetados. Já na Amazônia oriental, incluindo o Pará, parte do Tocantins e do Maranhão, estamos com chuvas abaixo do normal", afirma Senna.
O físico Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo (USP), destaca que “há indícios suficientes para associar o fenômeno no Rio Negro às mudanças climáticas globais. A atual cheia recorde do Rio Negro é fruto do aumento dos eventos climáticos extremos que temos observado na Amazônia, causado pelo aquecimento global. O número de secas seguidas - em 2005, 2010 e 2015 - e o número de cheias extremas como essa de 2021 não param de aumentar", diz Artaxo, que também é membro do IPCC.
As secas exacerbadas pelas mudanças climáticas têm favorecido o agravamento das queimadas na Amazônia. Por outro lado, o cientista salienta que as cheias cada vez mais frequentes são um exemplo dos fenômenos extremos na Amazônia que têm impactos alarmantes em diversas partes do país, afetando fortemente outros biomas e a economia.
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