Artesã de Ananindeua cria grife inspirada em folhas da Amazônia e desponta no mercado da moda
A moradora do conjunto Stélio Maroja está ganhando destaque no mercado alternativo paraense após criar uma marca de roupas especializada em tingimento natural e impressão botânica a partir das folhas amazônicas
“Na natureza não existe nenhum detrito, nada que seja inútil”. O ensinamento da religião japonesa Seicho-No-Ie mostra a infinidade de possibilidades que a natureza oferece a quem tem os olhos mais atentos à criatividade, como a artista Suelle Reis. A moradora do conjunto Stélio Maroja está ganhando destaque no mercado alternativo paraense após criar uma marca de roupas especializada em tingimento natural e impressão botânica a partir das folhas amazônicas. As técnicas utilizam a própria clorofila contida nos vegetais para servir de decalque de camisas, vestidos, lenços e outras peças que fazem parte da ‘Memória Botânica’, como se chama sua grife exclusiva.
O início da caminhada da ‘Memórias Botânicas’ aconteceu justamente em um período de adversidade para Suelle. A artista, que trabalha com matéria prima extraída a partir da natureza desde 2006 e também é servidora pública, enfrentou uma doença no início do ano e precisou permanecer em casa durante alguns meses. Durante este período surgiu o desejo em trabalhar com impressão botãnica. Suelle teve acesso a um conteúdo sobre a técnica na internet. As folhas sempre fizeram parte de sua vida. A artesã cresceu em um ambiente rodeado por mulheres que contavam histórias sobre o poder das plantas, muitas consideradas como ‘mato’ por leigos.
“Quando vi essa técnica na internet liguei para um amigo e decidimos fazer uma imersão para aprender. Começamos a fazer testes em casa. Precisavamos saber quais folhas serviam para impressão, quais não serviam. Até porque a técnica é condicionada às folhas de cada região. Então tivemos que aprender quais as diferenças das folhas do norte e de outras regiões. Foi assim que surgiu o Memórias Botânicas. Depois fizemos uma pesquisa de mercado, de marca, tudo para poder entrar no mercado aqui de Belém”, diz a empreendedora.
Após o período de pesquisas e experimentos para encontrar a melhor forma de transferir a clorofila das folhas para o tecido das roupas, o Memória Botânicas foi lançado. Suelle, que já tem uma marca de biojoias chamada ‘Biomarajoara’, agregou sua nova iniciativa, expondo seus produtos em locais como o Mercado do Ferro, no Ver-o-peso, em galerias e outros espaços, principalmente em Ananindeua e Belém e também ativamente nas redes sociais. O retorno foi compensador e serviu de estímulo para que continuasse a criar e explorar mais possibilidades de impressões.
“Eu utilizo folhas do Ipê, da castanha, folha de jaca, urucum. São folhas consideradas tintóreas. A impressão é feita orgânicamente em todo o processo. Tiramos a folha e colocamos no tecido, em seguida damos algumas batidinhas, pressionando a folha no algodão. Após o processo, usamos um fixador para garantir que a impressão não irá apagar”, diz.
O que lá atrás começou como uma forma de complementar a renda da servidora pública, acabou por se tornar sua principal fonte de renda. Melhor destino impossível para quem desde criança convive com a mitologia das plantas amazônicas. Trabalhar com o verde de nossas matas para Suelle foi entendido como um chamado, a conexão foi natural. “As folhas, as sementes, toda essa matéria prima natural foi me levando a um caminho que hoje considero uma missão, pois a mensagem que passamos é justamente sobre o poder da floresta em todos os sentidos, inclusive de impulsionamento da criatividade nos próprios negócios, sempre respeitando a mata, como as mulheres que apareceram na minha vida sempre me ensinaram. É essa mensagem que tanto a Bio Marajoara, quanto a Memórias Botânicas tentam passar a todos os clientes, do Pará e de outros estados”, diz.
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