'Anaconda mutante': conheça anomalia genética identificada em sucuri-verde encontrada em Belém
Animal possui mutação genética que altera a pigmentação da pele e dificulta a camuflagem
Carinhosamente chamado de 'Amarelão', o exemplar macho da serpente Sucuri-verde (Eunectes murinus) com pele amarela, encontrado em Belém em 2020, foi identificada como o primeiro do mundo a carregar uma mutação genética que altera a pigmentação da pele. O registro inédito foi publicado na semana passada em uma revista científica.
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O animal foi encontrado em uma via pública nas imediações do Parque do Utinga e resgatado pelo Batalhão de Polícia Ambiental do Pará. Por estar machucado, a serpente foi encaminhada para o Centro Amazônico de Herpetologia (CAH), em Benevides, região metropolitana de Belém, onde foi tratado e vive até hoje. Atualmente, o 'Amarelão' mede cerca de 2,5 metros e pesa sete quilos.
O que difere a serpente de outros animais da mesma especie é uma mutação genética chamada xantismo, que altera a pigmentação e torna a pele amarelada, dificultando a camuflagem em meio a natureza. "Ela tem uma deficiência da produção de melanina, é a ausência do pigmento negro nesse animal", explica Breno Almeida, diretor do CAH.
Normalmente a sucuri-verde é caracterizada pela cor verde oliva ou marrom, com algumas manchas dorsais e ocelos laterais, sendo a única espécie do gênero a possuir quatro listras cefálicas, geralmente marrons, vermelhas ou laranjas. No caso da sucuri com xantismo, a cor da pele é amarelo claro, sem manchas laterais, ficando acastanhada em períodos de troca de pelagem.
Por se tratar do primeiro registro da mutação na espécie, foi feito uma comunicação cientifica da descoberta com apoio de pesquisadores que visitaram o CAH. "Isso é um registro para que pesquisas futuras possam ter uma avaliação se outras espécies de forma natural vão apresentar essa mesma mutação", destaca Almeida.
Na Amazônia já existem relatos de outras espécies de serpentes que apresentaram mutações semelhantes, como jiboias albinas, mas que ainda não foram registradas cientificamente.
Coloração de "Amarelão" chama atenção pela dificuldade de sobrevivência
A bióloga e responsável técnica do CAH, Milena Almeida, ressalta que a descoberta é fundamental para compreender a questão da sobrevivência da espécie, sobretudo por ter sido encontrada em um centro urbano.
"Na natureza, animais que tem uma coloração como essa fora do habitual não conseguem viver até a fase adulta normalmente porque chamam muita atenção do predador. A gente ter encontrado um animal nessa condições é fundamental para conseguirmos ver o quanto ele é capaz de sobreviver até mesmo em cativeiro e fazermos também um projeto para soltura e acompanhamento em uma área natural. Ficamos impressionados por acharmos um animal desse na cidade. Geralmente, em cativeiro, como as cobras são cruzadas e recruzadas, acontece com maior frequência de acontecer de nascer um albino, um hipomelanico, mas na natureza já é algo raro e ela sobreviver até a fase adulta é mais raro ainda. Aqui a gente pode ter um comparativo de como se comporta um animal que é hipomelanico e como se comporta um animal que tem a genética normal", avalia.
Milena ainda orienta a população a como proceder caso encontre um animal como a serpente mutante em área urbana. "A primeira recomendação é não matar porque todo animal tem uma importância ecológica para o ecossistema e também porque é crime. O importante é sempre procurar um órgão que possa dar apoio para que possa ser feito o resgate, tirando as pessoas de algum tipo de risco e encaminhando o animal sendo ele peçonhento ou não."
No CAH é possível ver de perto o 'Amarelão', além de conhecer outros répteis e anfíbios. O espaço tem um trabalho voltado para educação e conservação ambiental e funciona como um zoológico, aberto ao público mediante agendamento, de terça-feira a domingo. Mais informações: (91) 99100-3349.
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