Paraenses na Rússia e Ucrânia relatam vivências diferentes após um ano de guerra entre os países

Cristiane Nedashkovskaya precisou sair da Ucrânia para escapar dos ataques russos e Aline Navegantes vive na Rússia até hoje tranquilamente

Daleth Oliveira
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A Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que quase 100 mil civis da Ucrânia deixaram suas casas ainda nos primeiros dias de conflito com a Rússia. Entre essas pessoas, estava a publicitária paraense Cristiane Nedashkovskaya, 30 anos. Logo no dia 24 de fevereiro de 2022, após o primeiro bombardeio, ela se movimentou para deixar o país, onde vivia com seu esposo ucraniano na capital do país, Kiev. Após fugir para a Alemanha, hoje ela vive na cidade de Calgary, no Canadá, mas ainda sonha em voltar à Ucrânia sem guerra.

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“Recebi a notícia da guerra por meio de um telefonema de um amigo às 5h da manhã. Logo em seguida, avisei outros brasileiros enquanto via drones voando no céu, foi quando eu ouvi a primeira explosão. Na hora seguinte, eu dirigi pela cidade na tentativa de abastecer o carro e comprar suprimentos para me preparar para sair da cidade e depois, do país. Tudo o que eu via eram filas quilométricas tanto nos postos, como nos caixas eletrônicos e nos supermercados, já estavam com as prateleiras vazias. Levei no total uma semana para finalmente conseguir sair do país e ir em direção à Alemanha”, relata Cristiane.

Ela conta que jamais passou pela cabeça que o conflito duraria um ano e por isso, precisou de ajuda psicológica para enfrentar os traumas deixados pelos ataques da Rússia. “Foram meses desafiadores, deixei minha casa acreditando que estaria de volta em duas semanas no máximo. Mas até hoje não tive a oportunidade de rever meus sogros, os conhecidos e a vida que deixei inteiramente para trás. Durante todo esse tempo fui assistida por uma psicóloga que voluntariamente me ajudou com todo o processo de terapia para superar o estresse pós-traumático causado pelo conflito e a forma como tive que abandonar a Ucrânia”, descreve a paraense.

Na avaliação de Cristiane, o governo ucraniano tem tomado boas decisões para defender o território do País e afirma que os motivos da Rússia são injustos. “O presidente Volodymyr Zelensky foi o melhor que poderia ter acontecido à Ucrânia durante esse período de guerra. Ele tem sido um excelente comunicador durante o conflito, buscando junto às instituições mundiais e outras nações o apoio financeiro, político e bélico que o País precisa durante a invasão injustificada russa. Apesar de acreditar que o conflito levará um tempo considerável para ter um fim, eu acredito que o invasor será derrotado”, opina a publicitária.

O outro lado: Rússia

Na cidade de São Petersburgo, na Rússia, a paraense Aline Navegantes, 29 anos, pesquisadora acadêmica e gerente de marketing digital, acompanha a situação dos países bem antes da guerra estourar, quando ainda estava em Belém, até dezembro de 2021. Ela chegou na Europa em janeiro de 2022 para fazer um mochilão, com planos de passar três semanas no país, porém, se apaixonou pelo local, conseguiu um emprego e não pensa mais em voltar ao Brasil.

“Desde a minha graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal do Pará (UFPA), venho acompanhando de forma atenta o desenrolar dos conflitos nas regiões russas e ucranianas, as intervenções ocidentais e suas consequências, assim como, o massacre étnico de cidadãos ucranianos de origem russa nas repúblicas separatistas de Donetsk e Lugansk. Portanto, para mim, a guerra já havia começado muito antes de fevereiro de 2022”, conta a paraense. 

A região em que Aline vive não sofre ameaças de bombardeios. Entretanto, a população sente os efeitos da guerra no bolso. Isso porque a inflação russa disparou no início da ofensiva russa na Ucrânia, fechando o ano de 2022 em 11,9%. Mesmo assim, sair da Rússia não faz parte dos planos da pesquisadora. “Não cogitei sair do país, e continuo pensando da mesma forma, visto que aqui estamos vivendo normalmente, apesar das sanções impostas pelo ocidente”, explica.

Questionada sobre sua opinião a respeito do conflito e ações do presidente da Rússia, Vladimir Putin, a paraense defende as razões do presidente e diz que ataques ao território ucraniano são respostas ao descumprimentos de acordos internacionais.

“Não penso o conflito como uma guerra entre Rússia e Ucrânia, mas sim, uma guerra da OTAN contra a Rússia. Mesmo após a queda da União Soviética, o aparato militar ocidental continuou a se expandir aos arredores do que hoje é a Federação da Rússia, até chegar no território ucraniano. Tratados e acordos não foram respeitados, "revoluções" internas foram financiadas por capital estrangeiro e capachos políticos foram eleitos, maximizando a tensão na região e ativamente provocando uma resposta do governo russo. E nessas estamos, em operação especial militar, com o intuito de desmilitarizar o que outrora era Ucrânia e hoje, tornou-se o campo de guerra das potências ocidentais”, afirma Aline.

No país há um ano, a paraense diz que já aprendeu muito com os cidadãos russos, não admirando apenas as bandas de rock e cinema nacional, mas também o patriotismo deles. “O povo russo carrega em si muitas histórias de guerras e conflitos, o que influi de maneira profunda na forma como o mesmos pensam e se relacionam com o mundo, sempre buscando defender seu território e sua pátria. Como brasileira, aprendo com o povo russo o que é amar e defender o seu país, mesmo tendo que enfrentar as peças mais poderosas do xadrez geopolítico mundial”, relata.

“Torço para que o Brasil e os restantes dos países em desenvolvimento do sul global, possam ver no exemplo russo, que há sim formas de ser independente economicamente no sistema capitalista atual”, finaliza Aline.

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