Guerra da Ucrânia completa um ano sem esperanças de um cessar-fogo
No dia 24 de fevereiro de 2022, Rússia invadiu Ucrânia e atacou a capital Kiev pela primeira vez
Hoje a guerra entre Rússia e Ucrânia completa um ano. No dia 24 de fevereiro de 2022, a Rússia lançou mais de 160 mísseis em aeroportos e bases militares próximas, e na direção de Kiev, capital ucraniana, iniciando um conflito que já deixou ao menos 8 mil civis ucranianos mortos e 13.287 feridos, segundo estimativas do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que não contabiliza os milhares de soldados russos e ucranianos que morreram em prol dos seus países.
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Por que a Rússia decidiu invadir a Ucrânia?
Entre as principais razões apontadas pelas autoridades russas está a expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) pelo Leste Europeu, com a possível adesão da Ucrânia à aliança militar. A Rússia afirma que quer impedir que sua fronteira seja tomada pela aliança militar de 30 países, incluindo 14 países do ex-bloco comunista, a União Soviética, pois isso minaria a segurança do território russo.
Além disso, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, acusa o governo ucraniano de genocídio contra ucranianos de origem étnica russa nas regiões separatistas de Donetsk e Luhansk. Portanto, a invasão seria para tentar "desmilitarizar e desnazificar" a Ucrânia. Outro ponto que deve ser levado em consideração é a influência que a Rússia sempre teve nessas regiões, tal qual ocorreu na Crimeia, península que foi disputada entre os países em 2014 e posteriormente tomada pela Rússia.
O doutor em Relações Internacionais, Mário Tito, explica que dependendo do ponto de vista, os motivos podem ser diferentes. “Há uma guerra de narrativas. Alguns falam em invasão, outros em autodefesa, outros em expansão e outros falam em uma tentativa da Rússia de culminar com uma anexação de territórios”, aponta o especialista.
“A Rússia justifica que a maioria da população das regiões ocupadas é formada por russos e por isso tem direito sobre eles. O país alega também que a população dessas cidades querem pertencer à Rússia, o mesmo movimento feito na Crimeia há alguns anos. Só isso já foi interpretado como um ataque pela Ucrânia. Portanto, por esse ponto, se trata de uma guerra de conquista e perda de território”, analisa Tito.
Outra questão é a tensão entre os governos, instalada desde que a Ucrânia elegeu um presidente pró-ocidente. O presidente Volodymyr Zelenskiy, eleito em 2019, tem boas relações com o ocidente, tendo recebido inclusive apoio bélico dos Estados Unidos durante o conflito, o que preocupa e irrita os russos. “A Rússia sempre teve esse posicionamento de querer barrar um governo ucraniano contra a própria Rússia. Antes de Zelenskiy, a Ucrânia tinha outros presidentes pró-Rússia e estava tudo bem. Mas agora, Zelenskiy tem um posicionamento mais ocidental do que favorável à Rússia e isso é um problema”, aponta o especialista.
Diante dessas razões, a Ucrânia e outros países aliados entendem na guerra uma tentativa da Rússia restabelecer a zona de controle e influência da antiga União Soviética, o que soa como desrespeito à soberania ucraniana, que quer ter o direito de decidir seu próprio destino e alianças.
Impactos do conflito
Mais que mortos, feridos e territórios destruídos, a guerra entre Rússia e Ucrânia impactou também na economia global, elevando preços de gás, petróleo e alimentos. “Um conflito como esse compromete a dinâmica mundial, pois se trata de um território que é potencialmente importante para o mundo por causa de petróleo, gás natural e até mesmo pela produção de alimentos com fertilizantes; logo, o mundo inteiro sofreu economicamente", explica Tito.
“No caso do Brasil, nós não somos tão dependentes da Ucrânia nem da Rússia, mesmo que o Brasil ainda compre fertilizantes, mas nisso o País ainda consegue se virar sem grandes prejuízos, porque o Brasil é mais exportador, do ponto de vista de recursos naturais, do que importador. Então tivemos impacto sim, mas ele é baixo. No caso do Pará, especificamente, o Estado não sofreu tanto porque, de novo, não existe essa dependência. Quanto ao comércio exterior, a exportação paraense é muito forte com a China, Líbano, mas não necessariamente Ucrânia e Rússia”, analisa.
Até esta sexta-feira (24), o Brasil está neutro no conflito, por isso não sofreu nenhuma sanção que prejudique diretamente a economia brasileira. Entretanto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já tem reuniões marcadas com o presidente da Ucrânia e o chanceler russo, Sergey Lavrov, o que, dependendo do que for tratado, pode refletir nas relações do País.
Para o articulista de política internacional, Gustavo Freitas, o ideal é a neutralidade ser mantida. “Rússia e Ucrânia são um dos maiores exportadores de petróleo e trigo do mundo, respectivamente. Portanto, nós já sentimos o encarecimento dos alimentos e do combustível nos últimos meses não só no Pará, mas no Brasil todo. Acho que o agravamento do conflito e uma possível participação de novos atores no futuro podem fazer o Brasil ter que tomar um lado. Isso pode mexer com o xadrez geopolítico e, certamente, com a balança comercial brasileira. O melhor para nós é torcer para que isso não aconteça”, opina.
“Quanto ao Lula, mais importante que uma possível visita à Ucrânia é saber o que vai sair da sua reunião com o presidente da China, Xi Jinping, em março e com o Lavrov em abril. O Brasil vinha mantendo neutralidade e distância do assunto, mas Lula vem mudando o discurso, agora é preciso saber o que vai dizer quando sentar com o outro lado”, completa Gustavo.
O fim da guerra da Ucrânia está próximo?
Ontem (23) o vice-chanceler da Rússia, Mikhail Galuzin, informou à agência estatal Tass que o governo russo está analisando a proposta feita pelo presidente Lula, para a criação de um grupo de países não envolvidos na guerra para tentar mediar uma saída pacífica para o conflito. Esta não é a primeira tentativa para buscar um cessar fogo entre os países, entretanto, apesar dos esforços, a guerra parece estar longe de acabar.
Isso porque Putin anunciou no último dia 21 a suspensão da participação russa no tratado que limita o arsenal nuclear da Rússia e dos Estados Unidos. Conhecido no Ocidente como New Start-3, ele era o último tratado em vigor entre os dois países que regulamentava a produção, armazenamento e testagem de armas nucleares de potencial estratégico.
“Agora, sem o acordo que visava reduzir a proliferação de armas nucleares, os russos poderão voltar a fazer testes, escalonando ainda mais as tensões globais. A paz nunca esteve tão distante”, finaliza Gustavo Freitas.
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