Trump propõe ação de retirada de palestinos para Egito e Jordânia
Denúncia foi feita neste domingo (26). e Israel e Hamas acusaram-se de violar o acordo, um dia após a troca de quatro soldados israelenses por cerca de 200 prisioneiros palestinos mantidos por tropas israelenses
O grupo terrorista Hamas e seu aliado, a Jihad Islâmica, denunciaram neste domingo (26) a intenção do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de "limpar" a Faixa de Gaza, onde uma frágil trégua entra na segunda semana, e transferir as pessoas que ainda ocupam o território palestino para o Egito e a Jordânia.
O ministro de extrema-direita do governo israelense, Bezalel Smotrich, declarou apoio à proposta e disse tratar-se uma "excelente ideia". Segundo ele, "os palestinos poderiam estabelecer novas e boas vidas em outros lugares".
A Jordânia, por sua vez, reiterou por intermédio do ministro das Relações Exteriores a "rejeição" de seu país ao "deslocamento forçado" dos palestinos. "Nossa rejeição ao deslocamento de palestinos é firme e não mudará. A Jordânia é para os jordanianos e a Palestina é para os palestinos", disse Ayman Safadi.
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Após mais de 15 meses de guerra, a Faixa de Gaza experimenta um frágil cessar-fogo iniciado em 19 de janeiro. Porém, Israel e Hamas acusaram-se mutuamente neste domingo de violar o acordo, um dia após a troca de quatro soldados israelenses por cerca de 200 prisioneiros palestinos mantidos por Israel.
Trump comparou a Faixa de Gaza, devastada pela guerra e imersa em uma severa crise humanitária, a um "local de demolição", e afirmou ter conversado com o rei Abdullah II, da Jordânia. O presidente norte-americano disse, ainda, que espera falar com o presidente egípcio Abdel Fatah al Sissi neste domingo.
"Estamos falando de 1,5 milhão de pessoas, e simplesmente limparemos tudo isso. Ao longo dos séculos, houve muitos, muitos conflitos naquele local e, não sei, algo precisa acontecer", disse Trump a bordo do avião presidencial. "Gostaria que o Egito levasse as pessoas e gostaria que a Jordânia levasse as pessoas", sugerindo que a medida poderia ser "temporária ou de longo prazo".
Crimes contra a humanidade
Entretanto, de acordo com Bassem Naim, membro do gabinete político do Hamas, os palestinos "frustrarão" a proposta americana. "Assim como eles frustraram todos os planos de deslocamento e terras alternativas por décadas, nosso povo também frustrará tais projetos", afirmou.
A Jihad Islâmica considerou que a "deplorável" proposta de Trump "alimenta crimes de guerra". "Esta proposta é enquadrada como incentivo a crimes de guerra e crimes contra a humanidade ao forçar nosso povo a deixar sua terra", onde a maioria dos 2,4 milhões de habitantes foi repetidamente deslocada pela guerra.
Trump também anunciou que vai autorizar a entrega de bombas de 900 quilos a Israel, uma medida que foi suspensa pelo seu antecessor, Joe Biden.
A medida foi saudada por Benjamin Netanyahu, que agradeceu ao presidente dos EUA em uma mensagem de vídeo por "manter sua promessa de dar a Israel as ferramentas necessárias para se defender, derrotar inimigos comuns e garantir um futuro de paz e prosperidade".
O ministro israelense das Relações Exteriores, Gideon Saar, também saudou esta "nova demonstração das qualidades de liderança" do presidente norte-americano, dizendo que "a região é mais segura quando Israel tem o que precisa para se defender".
Trump pressionou as partes em conflito para concluir o acordo de cessar-fogo que entrou em vigor no último domingo, com uma primeira troca de três reféns israelenses por 90 prisioneiros palestinos.
Trégua em três fases
O ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023 deixou 1.210 mortos do lado israelense, a maioria civis, de acordo com uma contagem da AFP baseada em dados oficiais. Um total de 251 pessoas foram sequestradas naquele dia. Destas, 87 seguem mantidas como reféns, sendo que 34 foram mortas, segundo o Exército.
A ofensiva de represália de Israel na Faixa de Gaza deixou pelo menos 47.306 mortos, a maioria civis, além de 111.483 feridos, de acordo com novo balanço do Ministério da Saúde do Hamas divulgado neste domingo.
A primeira fase do acordo de cessar-fogo deve durar seis semanas e permitirá a libertação de um total de 33 reféns israelenses e outros 1.900 prisioneiros palestinos. Nesta etapa inicial, planeja-se negociar as modalidades da segunda fase, que deve permitir a libertação dos últimos reféns, antes da última, que prevê iniciar o processo de reconstrução de Gaza e o retorno dos corpos dos reféns que morreram em cativeiro.
No sábado, um desentendimento de última hora não permitiu que centenas de milhares de residentes começassem a retornar ao norte de Gaza, conforme planejado. Israel justificou sua recusa em deixá-los passar acusando o Hamas de duas violações do acordo: a não libertação da civil Arbel Yehud, e o fato de o grupo islamista não ter entregue uma lista da situação dos reféns, vivos ou mortos.
O Hamas afirma que Yehud está viva e que isso é um "pretexto" de Israel para o não cumprimento do acordo. "O Hamas considera Israel responsável pelo atraso na implementação do acordo", disse o grupo em um comunicado.
Neste domingo, a agência da Defesa Civil de Gaza denunciou tal bloqueio. "Dezenas de milhares de pessoas deslocadas estão esperando perto do Corredor de Netzarim para retornar ao norte da Faixa de Gaza", disse à AFP o porta-voz da agência, Mahmud Basal.
De acordo com Ismail al Thawabtah, diretor-geral do gabinete de imprensa do governo do Hamas em Gaza, há "entre 615.000 e 650.000" pessoas esperando na passagem.
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