Governo dos EUA apaga minorias dos sites oficiais
Desde a exclusão das histórias de "falantes de código navajo" do site do Pentágono até a demolição de um mural do "Black Lives Matter" em Washington, o ataque de Donald Trump à diversidade no governo dos Estados Unidos está desmantelando décadas de programas de justiça racial.
Cumprindo uma promessa de campanha, o presidente republicano suprimiu assim que assumiu o poder os programas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) do governo central, que segundo ele levavam a uma "discriminação ilegal e imoral".
No Pentágono, essa medida incluiu a proibição de recrutar soldados transgêneros - decisão suspensa por um tribunal nesta semana - e a eliminação de grandes quantidades de documentos e imagens de seu site.
No início do mês, o historiador Kevin M. Levin, especializado em Guerra Civil, informou que o Cemitério Nacional de Arlington havia começado a excluir de seu site as histórias de veteranos de guerra negros, hispânicos e mulheres. "Esta loucura precisa parar", disse.
Heróis de guerra e afro-americanos notáveis estavam entre os temas de muitos artigos e imagens marcados para serem apagados, segundo um banco de dados obtido pela agência Associated Press.
Entre os mais de 26 mil elementos assinalados para remoção, há referências ao Enola Gay, o avião americano que lançou a primeira bomba atômica sobre Hiroshima, Japão, em 1945, aparentemente porque o nome caiu em uma busca digital de palavras associadas à inclusão LGBT.
Outros conteúdos eliminados pelo Pentágono incluíam histórias sobre os aviadores militares de Tuskegee, os primeiros de origem afro-americana, e a lenda do beisebol e veterano de guerra negro Jackie Robinson.
DEI "é uma forma de marxismo cultural progressista que divide a força, erosiona a coesão e interfere com a missão central de combate dos serviços" de defesa, declarou o secretário de imprensa do Pentágono, John Ullyot.
Segundo ele, nos "raros casos" em que tenham sido suprimidos conteúdos indevidamente, estes seriam restaurados (como ocorreu com os artigos sobre Robinson e código navajo). Mas Ullyot defendeu em geral o expurgo realizado.
Nem todos foram convencidos pelas explicações do secretário de imprensa.
Descendentes dos nativos americanos que desempenharam um papel vital para as forças americanas na Segunda Guerra Mundial manifestaram sua surpresa ao descobrir que as contribuições heroicas de seus antepassados haviam sido eliminadas do registro público.
"Vejo isso como uma tentativa de apagar a história das pessoas de cor em geral", afirmou Zonnie Gorman, filha do veterano de guerra Carl Gorman.
Carl foi um dos jovens falantes de navajo recrutados pela Marinha dos Estados Unidos em 1942 para testar o uso de sua língua indígena, cuja complexa estrutura, em tempos de guerra, a tornava um código quase impossível de decifrar.
Várias páginas da web que detalhavam o papel do grupo, cuja contribuição foi fundamental para as vitórias dos EUA no Pacífico entre 1942 e 1945 em batalhas como Iwo Jima, desapareceram recentemente do site do Pentágono.
"Desde o início fomos muito invisíveis neste país, e ter uma história tão reconhecida como indígenas nos fez sentir bem", disse à AFP Zonnie Gorman. "Isso é como um tapa na cara."
Desde a vitória eleitoral de Trump, em novembro, várias grandes empresas - incluindo Google, Meta, Amazon e McDonald's - eliminaram completamente ou reduziram drasticamente seus programas de DEI.
De acordo com The New York Times, a quantidade de empresas do S&P 500 que usaram as palavras "diversidade, equidade e inclusão" em suas apresentações empresariais caiu quase 60% em relação a 2024.
A União Americana pelas Liberdades Civis afirma que as decisões de Trump representam uma mudança radical de políticas bipartidárias de longa data "destinadas a abrir portas que haviam sido fechadas injustamente".
Os programas federais contra a discriminação nasceram da luta pelos direitos civis da década de 1960, liderada principalmente por afro-americanos.
Hoje, os negros e outras minorias nos Estados Unidos continuam enfrentando de maneira desproporcional a violência policial, o encarceramento, a pobreza, a falta de moradia e os crimes de ódio, segundo dados oficiais.
aha-pr/dc/dg/nn/ic/am
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