Equador se prepara para segundo turno acirrado sob o tema da violência
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O Equador segue sob tensão política no segundo turno das eleições presidenciais, marcadas para o dia 13 de abril. A disputa rivaliza dois projetos políticos distintos: Luisa González, da Revolução Cidadã, representa o socialismo do século XXI e se coloca como sucessora do ex-presidente Rafael Correa; do outro lado, Daniel Noboa, atual presidente e candidato do partido de direita Acción Democrática Nacional (ADN), e filho do empresário bilionário Álvaro Noboa. No primeiro turno, o resultado acirrado mostrou a polarização política que o país enfrenta : 44,16% para Noboa e 43,99% para González.
A campanha de Noboa gira em torno do combate ao crime organizado e à velha política, criticando os partidos tradicionais e culpando-os pela falência do Estado equatoriano. Noboa ganhou notoriedade nas redes sociais ao andar sempre de colete à prova de balas, realizando operações policiais e adotando linha-dura no combate ao tráfico. No governo desde 2023, suas políticas ajudaram a reduzir a criminalidade, embora o nível de insegurança ainda seja alto. Em janeiro deste ano, foram registradas 750 mortes violentas, um número 45% maior que o mesmo período em 2024.
Luisa González defende o correísmo através de propostas sociais, com ênfase em políticas de inclusão e redistribuição de recursos, embora tenha se distanciado da figura do ex-presidente, que fugiu para a Bélgica em 2017 após ser condenado à prisão por envolvimento em escândalos de corrupção.
O principal tema da campanha, é o crime organizado. Em 2023, o número de homicídios chegou a 4.600, um aumento de 80% em comparação a 2021, conforme dados do Observatório de Segurança do Equador. O país, tradicionalmente, era considerado um destino relativamente seguro na América Latina, mas agora enfrenta desafios de segurança similares aos de países com níveis elevados de violência. O aumento das taxas de homicídios, especialmente nos centros urbanos como Guayaquil, é um reflexo da intensificação do tráfico de drogas, que transformou o Equador em um ponto estratégico para o transporte de drogas, especialmente para os Estados Unidos e a Europa.
A insegurança no Equador está intimamente ligada ao contexto do acordo de paz entre o governo colombiano e as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), assinado em 2016 com graves consequências para a dinâmica do crime organizado na região. Embora o acordo tenha sido um marco para a paz na Colômbia, ele também resultou na fragmentação da organização guerrilheira, com muitos ex-integrantes das FARC se tornando dissidentes e continuando a operar como facções criminosas.
O acordo impulsionou a expansão da violência transnacional para o Equador, especialmente em áreas fronteiriças como Esmeraldas e Sucumbíos, onde as dissidências das FARC e outros grupos, como o ELN, se estabeleceram e intensificaram atividades ilícitas, como o tráfico de drogas, sequestros e extorsões. A presença dessas facções armadas nas zonas fronteiriças tem gerado confrontos violentos, afetando diretamente a segurança e a estabilidade de regiões do Equador que antes eram consideradas mais tranquilas.
Outro problema enfrentado pelo país, é a situação econômica. Hoje, o país tem 28% da população na pobreza e uma dívida pública que representa 57% do PIB equatoriano. A maior parte dos gastos do Estado estão concentrados no financiamento da guerra às drogas, faltando recursos para investimentos sociais. “O primeiro problema que os equatorianos pensam é a segurança, seguido pela questão econômica”, disse à AFP a cientista política Tatiana Quinga.
Vice sem direitos políticos
Na última quinta-feira, 27, o Tribunal Eleitoral do Equador tomou a decisão de suspender os direitos políticos da vice-presidente Verónica Abad por dois anos. A penalidade inclui também uma multa superior a 14.000 dólares e a obrigatoriedade de um pedido de desculpas público. A sentença foi proferida após Abad ser considerada responsável por violência política de gênero contra a ministra das Relações Exteriores, Gabriela Sommerfeld, que havia denunciado que se sentiu "afetada gravemente".
Abad e Noboa foram eleitos em outubro de 2023 para um mandato-tampão que concluiria o governo de Guillermo Lasso, mas romperam logo após a posse. Desde então, presidente e vice têm atuado sob atritos, com a vice acusando Noboa de ser “antidemocrático” ao não se afastar do cargo para concorrer ao pleito, como manda a constituição equatoriana.
A vice-presidente, que acusa o presidente de impedi-la de exercer suas funções, teve seu gabinete em Quito fechado no último dia 7, em meio a tensões e dois dias antes das eleições gerais.
Em pesquisa realizada pelo instituto TresPuntoZero, Luísa Gonzalez aparece 4 pontos à frente, com 50,6%, contra 46,5% para Daniel Noboa no segundo turno.
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