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Congelamento de fundos da USAID ameaça milhões na América Latina

Em 2023, a USAID desembolsou cerca de 1,7 bilhão de dólares

Estelle Peard com escritórios da América Central, Lima, Bogotá e México / AFP
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O congelamento da ajuda internacional dos EUA para o desenvolvimento já está paralisando vários programas de combate ao tráfico de drogas, à corrupção, à fome e à desigualdade na América Latina, onde poderá afetar milhões de pessoas, alertaram especialistas e ONGs.

O congelamento quase total desses fundos, bem como o desmantelamento progressivo da Agência dos EUA para Assistência Internacional ao Desenvolvimento (USAID), significará “muitas demissões (...) e há muitas comunidades que serão afetadas”, disse Juana García Duque, professora de cooperação internacional da Universidade dos Andes em Bogotá.

A especialista mencionou que essa ajuda na região beneficia “milhões de pessoas”.

Em 2023, a USAID desembolsou cerca de 1,7 bilhão de dólares (9,8 bilhão de reais) na América Latina e no Caribe, de acordo com os últimos números do Foreignassistance, um site que publica dados sobre a ajuda internacional dos EUA. Com esses fundos, a agência financia ONGs, instituições públicas e programas da ONU.

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A Colômbia, que está sujeita à violência do tráfico de drogas e de grupos armados, é de longe a maior beneficiária. Em seguida, vem o Haiti, dominado por gangues, e vários países da América Central, que estão entre os mais pobres da região.

Cerca de 25% da assistência da USAID para a América Latina foi para a Colômbia, em parte para a implementação do acordo de paz assinado em 2016 com os agora extintos guerrilheiros das Farc. Os fundos representam menos de 1% do PIB do país.

Mas para algumas nações da América Central, por outro lado, a situação “é mais difícil porque grande parte de sua economia depende desses recursos externos”, disse García Duque.

No Peru, onde a USAID financia “programas de alimentação, antidrogas, emprego, meio ambiente, saúde e promoção da democracia, as ONGs serão forçadas a reduzir seus projetos” se os cortes de verbas forem confirmados, disse Susana Chavez, da organização feminista Promsex.

“Alarmante” 

Na Amazônia, “o desmatamento vai crescer, o tráfico de drogas, a mineração ilegal”, alertou Oswaldo Muca Castizo, coordenador geral da Organização Nacional dos Povos Indígenas da Amazônia Colombiana (OPIAC).

Os jovens que ficam sem oportunidades podem se juntar a gangues criminosas que desmatam a selva para cultivar folha de coca, explica ele.

Em Bucaramanga, no nordeste da Colômbia, o impacto foi quase imediato. A fundação Entre Dos Tierras, que ajuda pessoas sem-teto e migrantes, principalmente da vizinha Venezuela, teve que fechar.

Financiada em quase 80% pela USAID, ela empregava 16 pessoas e distribuía cerca de 600 refeições por dia.

Tudo isso está paralisado porque não há recursos e a situação está piorando para a cidade”, disse Alba Pereira, diretora da fundação, "justamente quando ela está recebendo pessoas deslocadas da região de Catatumbo, na fronteira com a Venezuela, devido aos combates da guerrilha".

“As mulheres migrantes que estão grávidas só serão atendidas durante o parto (...) elas não terão controle, acesso a cuidados de saúde durante a gravidez”, denunciou Pereira, que descreve a situação como ‘alarmante’.

Prioridades dos EUA 

García Duque acredita que esse congelamento da ajuda seria apenas temporário e espera que haja “um redirecionamento”.

De acordo com a especialista, os Estados Unidos precisam dessa “ferramenta de política externa” para atender às prioridades da luta contra as drogas e a migração.

Além disso, uma retirada dos EUA poderia fortalecer outros atores, em particular a China, cuja influência crescente na América Latina Washington quer reduzir.

Luis Linares, analista da Associação Guatemalteca de Pesquisa e Estudos Sociais, acredita que “há programas que são muito importantes e coincidem com as prioridades do governo dos EUA em termos de segurança e justiça”.

Essas iniciativas, além da ajuda alimentar, continuam a ser “fundamentais para o país”. Enquanto isso, os projetos relacionados às minorias sexuais “certamente serão reduzidos ou, se não, reorientados, mas outros serão cancelados”, previu o analista.

Também na Guatemala, a Lambda, uma organização que trabalha pelos direitos das pessoas LGBTQ+, já teve que suspender um projeto de prevenção e apoio a pessoas com HIV, bem como os testes de HIV.

A USAID, questionada por alguns governos latino-americanos que acusam os EUA de interferência e falta de transparência, está sendo alvo de novas críticas por seu desmantelamento.

No México, a presidente Claudia Sheinbaum e seu antecessor, Andrés Manuel López Obrador, acusaram a agência de financiar “grupos de oposição”.

“Se vai haver ajuda, que eles abram outros tipos de canais”, disse recentemente Sheinbaum, que é a favor do fechamento da agência.

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