Brasileiro é vítima de xenofofia e espancamento em Portugal
Saulo Jucá é de Recife, tem cidadania portuguesa e se mudou com a família para a cidade de Braga em 2021
Um engenheiro de Recife, que mora com a família desde de 2021 em Portugal, foi vítima de xenofobia e espancamento dentro de uma cafeteria no país europeu. Saulo Jucá, de 47 anos, disse que estava no estabelecimento com dois amigos na rua onde mora na cidade portuguesa de Braga quando um jovem o atacou após o engenheiro responder que era do Brasil.
"Estava com dois amigos em uma cafeteria na rua da minha casa, onde sou cliente regular. Eles foram embora e decidi ficar e papear com o dono. De repente, um jovem português, que escutava a conversa, perguntou qual era a minha nacionalidade. Respondi: “Sou brasileiro, com orgulho”. Aí veio o grande susto quando, do nada, ele partiu para a agressão física. Ninguém no entorno se mexeu para me ajudar. Recebi uma série de socos no rosto e, pego de surpresa, não tive reação. Logo estava no chão, entre pontapés nas costelas e na cabeça. Cansado, o agressor finalmente parou e saiu correndo dali", relarou.
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Saulo então pediu ao dono do lugar que chamasse a polícia e uma ambulância que o levou a um hospital, onde passou 24 horas em observação. "Me liberaram avisando que, caso as dores se agravassem, deveria retornar ao pronto atendimento. Quebrei nariz e costela, estou com a boca rasgada, sem falar dos olhos inchados e da dificuldade — espero que temporária — de enxergar", disse.
O brasileiro prestou queixa na delegacia e fez um exame de corpo de delito. "Venho sentindo na pele o descaso da polícia. Desde o incidente, em 10 de junho, não me informaram sobre em que pé se encontra a investigação. Até onde eu sei, as leis voltadas para a xenofobia são brandas em todo o território português — o que, infelizmente, leva a uma repetição de casos como o meu. Torço para que o episódio, que acabou chamando atenção nas redes, se traduza em mudanças nesse tipo de postura fincada no preconceito. Acredito que medidas eficazes para coibir atos assim só se tornarão realidade se autoridades brasileiras pressionarem o governo português. Afinal, eles não são agredidos no Brasil. Não é justo que histórias como a minha sejam toleradas pelas forças de segurança de Portugal. Um ataque tão covarde deixa marcas físicas e psicológicas".
Apesar da violência, Saulo diz que não pretende retornar ao país de origem. " Ainda sinto receio de sair na rua. Por enquanto, não ando mais sozinho. Mas não penso em retornar ao Brasil. Tenho uma vida interessante em Portugal. Trabalho como engenheiro civil e sou feliz aqui. E, é bom lembrar, a rejeição aos brasileiros nem de longe reflete o espírito de um povo inteiro. O ódio que embalou o meu caso se restringe a uma minoria barulhenta. Refleti muito. Mesmo com o episódio fresco na memória, não posso deixar que essa triste lembrança me impeça de demonstrar o orgulho que tenho do meu país, das minhas origens" concluiu.
(Luciana Carvalho, estagiária da Redação sob supervisão de Keila Ferreira, Coordenadora do Núcleo de Política).
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