Ameaças contra imigrantes enviada à Embaixada 'acendem' alertas em paraenses que moram em Portugal

Paraenses que vivem em território luso relatam observar preconceito velado dos portugueses. As maiores vítimas são as mulheres brasileiras

Amanda Martins

Ameaças aos brasileiros colocaram a polícia portuguesa em alerta após a Embaixada do Brasil, em Lisboa, receber nos últimos dias um e-mail com uma série de intimidações, inclusive, prometendo ataques terroristas em áreas públicas, contra os cidadãos estrangeiros. Paraenses que vivem em Portugal relatam que a imprensa tem tido cuidado ao repercutir a notícia para não inspirar novos ataques intolerantes. Por enquanto, a maioria diz não sentir tensões pairando no ar, mas afirmam que estão em alerta e o conteúdo do documento, nada mais é, do que um reflexo da sociedade. 

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Juliana Costa, de 29 anos, mora em território luso há sete anos, e afirmou ter ficado assustada ao perceber o teor do conteúdo enviado à embaixada brasileira, incitando o ódio a negros, ciganos, lgbts, judeus e muculmanos. Ela não imaginava que as ameaças estavam atingindo patamares perigosos. A mensagem veio de um grupo neonazista.

“Acho que é sintomático do momento político que o país vive, com a extrema-direita tendo mais adeptos. Mas não podemos deixar de viver a nossa vida, por isso, como os outros brasileiros, segui minha rotina normal, sem medos”, disse a paraense, contando que não tem observado policiamento perto das embaixadas ou em locais onde vivem mais imigrantes.  “Tudo parece normal”, acrescentou. 

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Juliana relembrou, que pelo tempo que mora no país nunca tinha presenciado uma ameaça semelhante, e que não é comum. Mas, que casos menores de xenofobia e risco, de forma individual, contra imigrantes, principalmente brasileiros, acontecem com mais frequência.

“Mas no geral, não são todos os casos que chegam aos jornais, somente os que são mais graves. Os casos menores tendem a ser minimizados”, complementou a jornalista. 

Preconceito velado

Na maioria das vezes, os comentários negativos são ditos de forma velada e sutil. É o que afirma a programadora Karlana Cordovil, de 33 anos, que mora há oito em Portugal. Segundo ela, os portugueses têm o costume de chamarem os imigrantes destacando uma característica fenotípica ou enfatizando a nacionalidade.  

“As pessoas são chamadas de ‘esses pretos, esses brasileiros’ em vez de serem ‘pessoas’. Eles acham que esse afinco de diferenciação é preconceito, é só chamar a pessoa pelo o que ela é”, disse a paraense.

image Programadora Karlana Cordovil (Reprodução/ Arquivo pessoal)

Karlana pontuou que o “preconceito” também se estende aos próximos portugueses que foram para os países, como por exemplo, a França, Angola e Cabo Verde. Quando voltam para Portugal são chamados de “retornados” e tratados com o sentimento de desprezo. Os brasileiros também não escapam do destratamento.

“E [eles] não se veem como segregadores, porque gostam da novela brasileira, da MPM, e até tem amigos que são brasileiros e foram algumas vezes ao Rio e amaram”, acrescentou.

Para a programadora, são estes pequenos comentários, disfarçados, que acabam de uma forma fomentando atos como o da “carta de ódio” destinada aos imigrantes e encaminhado à embaixada. Karlana soube do ocorrido por meio de um grupo de WhatsApp de paraenses que moram na cidade de Porto.

“Aqui no Porto, pelo menos no tranquilo e perto de casa tem sido tranquilo. Se alguém tivesse sofrido algo, com medo, já teriam alertado, mas temos que falar e estar atentos mesmo que não seja algo próximo”, complementou.

O professor Igor Alves, de 43 anos, mora no Rio Tinto, na freguesia portuguesa do município de Gondomar, na cidade de Porto, e diz também não ter percebido “tensão” entre os imigrantes que moram na região. 

image Professor Igor Alves (Arquivo pessoal)

Vivendo em Portugal há cinco anos, ele afirmou ser comum passar “panos quentes” e tratar como casos isolados atos racistas e xenófobos. “Acredito que façam isso para evitar a confrontação com o passado colonialista e escravocrata. Tanto que a xenofobia só ocorre com imigrantes de países pobres, ex-colônias, não-brancos. O português detesta ser chamado de racista, mesmo sendo, e muito”, acrescentou Igor.

Mensagem de ódio acende alerta em imigrantes

A maioria das ofensas destinadas aos imigrantes são verbais, apontou o professor paraense. Igor também elencou as mulheres brasileiras, que moram em Portugal, como as maiores vítimas. 

Na mensagem enviada à embaixada brasileira, o autor também descriminaliza diversos grupos, e ainda escreve que não há lugar no país europeu, para “seres sub-humanos como indianos, nepaleses, marroquinos, muçulmanos, judeus, ciganos, negros, os malditos brasileiros e os LGBTQIAP+”.

Ainda no texto, o autor promete “purificar” o país e ameaçou “com uma série de atentados terroristas” se, dentro de 60 dias, o governo português não “expulsar todos os homossexuais, estrangeiros e não brancos”. O ataque irá se concentrar nas zonas frequentadas por “negros e zucas”, como os portugues se referem aos brasileiros.   

Igor teme que o e-mail enviado à embaixada brasileira seja “ignorado” pelas autoridades portuguesas e algo pior aconteça. “Infelizmente, acredito que, se não houver resposta do estado, esses ataques devem se intensificar e se agravar cada vez mais”, finalizou o professor.

O Grupo Liberal entrou em contato com o Itamaraty e aguardo uma resposta.

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