Agência reguladora autoriza o uso de ecstasy e fungos alucinógenos para tratar transtornos mentais
Psiquiatras poderão prescrever ecstasy e psilocibina para o tratamento do transtorno de estresse pós-traumático e alguns tipos de depressão na Austrália
Nesta sexta-feira (30), a Austrália se tornou um dos primeiros países a permitir o uso de ecstasy e psilocibina, substâncias presentes em fungos alucinógenos, para o tratamento de certos transtornos mentais. Após a agência reguladora de drogas legalizar essas substâncias em fevereiro, a partir de 1º de julho, psiquiatras poderão prescrever ecstasy e psilocibina para o tratamento do transtorno de estresse pós-traumático e alguns tipos de depressão.
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No Canadá e nos Estados Unidos, o uso médico de uma ou ambas as substâncias já é permitido, mas apenas em ensaios clínicos ou casos específicos.
Em fevereiro, a Austrália reclassificou esses compostos após a Agência de Produtos Terapêuticos afirmar que testes revelaram que essas substâncias são "relativamente seguras" quando usadas em um "ambiente médico controlado".
Defensores desse tratamento esperam que essas substâncias possam ajudar pacientes que não responderam a outros medicamentos.
Mike Musker, pesquisador especializado em saúde mental e prevenção do suicídio da Universidade do Sul da Austrália, disse à AFP que o MDMA (ecstasy) pode tratar o estresse pós-traumático, enquanto a psilocibina pode aliviar a depressão.
O MDMA "faz as pessoas se sentirem conectadas e facilita a conexão delas com seus terapeutas, além de encorajá-las a falar sobre suas experiências traumáticas", explicou.
O especialista afirmou que a psilocibina proporciona aos pacientes um "efeito psicoespiritual que não é obtido com drogas convencionais". "Ela pode fazer com que a pessoa se sinta diferente em relação a si mesma e à sua vida [...] e, com sorte, dará a ela uma vontade de viver", acrescentou.
Musker não acredita que o uso generalizado dessas drogas no tratamento de pacientes ocorrerá antes de 2024 e afirmou que o processo não será simplesmente "tomar um comprimido e ir embora". No caso do MDMA, o tratamento provavelmente envolverá três sessões de oito horas cada, dentro de um período de cinco a oito semanas.
Isso significa que os terapeutas acompanharão os pacientes, o que pode resultar em um custo aproximado de 1.000 dólares australianos (o equivalente a R$ 3.220) por sessão.
"Falta de opções"
O médico David Caldicott, consultor de medicina de emergência e pesquisador clínico de medicamentos da Universidade Nacional da Austrália, afirmou à AFP que essa reforma coloca o país "muito à frente" na exploração dos benefícios médicos dessas substâncias.
No entanto, Susan Rossell, neuropsicóloga cognitiva da Universidade de Swinburne, na Austrália, argumentou que, embora esses tratamentos "tenham potencial", o país está "avançando cinco anos além do necessário". "Se olharmos para as intervenções [...], seja para doenças cardiovasculares ou câncer, não se pode disponibilizar um medicamento tão rapidamente como foi feito neste caso", observou.
Um porta-voz do Departamento de Saúde afirmou à AFP que a decisão de alterar as regulamentações reconhece que as evidências para o uso dessas substâncias no tratamento de doenças mentais ainda não estão bem estabelecidas.
"No entanto, os benefícios para alguns pacientes [...] serão maiores do que os riscos", explicou. Além disso, enfatizou que "atualmente há uma falta de opções para pacientes com doenças mentais específicas que são resistentes ao tratamento".
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