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Esportes radicais: mulheres buscam modalidades de aventura por autodesafio e sensação de liberdade

Em Belém, praticantes de paraquedismo e escalada indoor compartilham suas trajetórias com os esportes

Eva Pires

A prática de esportes radicais exige coragem para se arriscar e desafiar os próprios limites, algo que não falta às mulheres, que vêm conquistando espaço nas modalidades de aventura. Durante as Olimpíadas de Paris 2024, brasileiras foram responsáveis por 12 das 20 medalhas conquistadas pelo país, sendo as únicas a garantir o ouro. O destaque feminino no pódio brasileiro, junto às histórias inspiradoras de outras esportistas, forma uma rede de motivação que impulsiona cada vez mais mulheres a se aventurarem neste cenário de adrenalina e autossuperação.

Escalada indoor transforma a rotina de de gerente de Belém

A escala indoor, que teve estreia olímpica em Tóquio 2020, é ideal para quem não tem medo de altura e adora a sensação de frio na barriga. Entre os benefícios, estão o aumento de resistência muscular, equilíbrio, concentração e consciência corporal. A busca por novos desafios e experiências foi o que atraiu Yasmin Calandrini, 26 anos, a se aventurar no esporte em uma academia de Belém.

"Gosto bastante de novos desafios e este talvez seja um dos motivos pelos quais já gostei de primeira do esporte, tendo em vista que, para iniciar a prática da escalada, você precisará confiar suficientemente que a máquina ou o seu colega vai segurar a sua queda de forma segura dos 10 metros de altura da parede. Estando acompanhada, a primeira descida é sempre um motivo de risadas", compartilha a gerente de sustentabilidade de uma ONG urbana.

Ela considera que começar um novo esporte pode ser desafiador para qualquer um e, diante disso, a principal estratégia é tentar e não ter medo ou vergonha de errar, mesmo que seja comum que iniciantes se pressionem a ir bem de primeira.

"Cada rota tem um nível, tipo de dificuldade e apresenta um novo desafio. Algumas terminei de primeira, e outras precisei de semanas para completar corretamente. No aspecto físico, tive que aprender a usar a força das pernas para subir, pois eu forçava bastante os meus braços, o que me causava fadiga. Por isso, acredito que o maior obstáculo é ter que lidar com frustração ao empacar em alguma rota específica e, mesmo assim, ter a determinação de continuar tentando várias vezes ao invés de desistir. Cada desafio superado me deu mais motivação a continuar e me fez sentir mais confiante para iniciar outras rotas", pondera.

Enquanto mulher, ela avalia que o desafios específico que enfrentou na escalada foi desenvolver força nos braços, ombros e costas para concluir os percursos. Além disso, a estatura mais baixa exige movimentos extras e maior trabalho técnico e de impulso para alcançar pontos distantes. Apesar das dificuldades, ela percebe vantagens em termos de mobilidade, rotação do quadril e em certos encaixes necessários para completar as atividades.

Para Yasmim, a escalada trouxe a oportunidade de focar no presente, uma ferramenta essencial para lidar com a agitação do cotidiano. "A escalada se tornou um refúgio da correria do dia a dia. É preciso concentração para escolher de forma estratégica onde colocar os pés ou as mãos, então naturalmente a escalada tem sido um momento em que esqueço do mundo e foco apenas naquele objetivo imediato", reflete.

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Paraquedista de Belém cria conteúdo nas redes para inspirar outras mulheres

Há uma década atrás, o paraquedismo era dominado por homens. Entretanto, a participação feminina vem crescendo rapidamente neste esporte radical. Em 2023, após dois anos de preparação, 48 mulheres estabeleceram o recorde sul-americano de formação feminina no ar. Nesse cenário, a professora de Direito Shelley Primo, de Belém, se apaixonou por saltar de paraquedas pela sensação de liberdade e adrenalina que o esporte traz.

Em 2017, Shelley criou a página @mulheresquevoam no Instagram, na qual, desde então, compartilha eventos, competições e recordes de paraquedismo para atletas e amadoras de todas as partes do Brasil e do mundo, além de estimular as mulheres a alcançarem os seus objetivos pela prática da modalidade.

A esportista explica que, no paraquedismo, existem diversas modalidades, como big ways, freestyle, base jumping, freefly, wingsuit e trabalho relativo (TR), cada uma exigindo equipamentos específicos e muito treino. A progressão dos atletas ocorre por categorias e cada salto tem um objetivo, sendo praticado primeiro no solo e depois no ar. Ela reforça que, mesmo em saltos recreativos, há sempre um briefing prévio.

O primeiro salto de Shelley aconteceu por acaso, ao assistir a um evento de paraquedismo próximo a Mosqueiro, região insular de Belém. Na ocasião, ela realizou um salto duplo com um piloto. Após mais dois saltos duplos, ela fez o curso Accelerated Static Line (ASL), no qual o aluno salta sozinho com o paraquedas aberto automaticamente por uma fita presa ao avião e é monitorado por um instrutor de solo via rádio preso ao capacete.

"Depois do primeiro salto solo, fui para o interior de São Paulo para o Município de Boituva, onde fica o Centro Nacional de Paraquedismo, para fazer o curso de Accelerated Free Fall (AFF). Nesse curso, o aluno já inicia os saltos em queda livre acompanhado por seus instrutores, aos 12.000 pés de altura, com uma velocidade de aproximadamente 200km/h", detalha.

Ela ressalta que os cursos de paraquedismo são seguros e realizados com muita responsabilidade. "O autocontrole, a disciplina e a concentração são indispensáveis para quem pretende fazer algum curso. Longe do que alguns pensam, não há loucura na prática do paraquedismo, mas sim técnica e realização de procedimentos e normas de segurança, atestados pela Confederação Brasileira de Paraquedismo e repassados com muita responsabilidade por aqueles que ministram os cursos", diz Shelley.

Para quem mora longe de áreas de paraquedismo, a professora relata que os gastos e a distância de deslocamento são as maiores dificuldades, além do custo dos treinos e equipamentos. No entanto, ela revela o que a faz continuar diante desses obstáculos: "A beleza do cenário e a sensação de liberdade superam o medo de se jogar no vazio. Somente quem passou por esta experiência compreende porque os esportistas são persistentes nas atividades diante de tantas dificuldades", reflete.

(Eva Pires, estagiária sobsupervisão de Fabiana Batista, coordenadora do núcleo de Atualidade)

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