Uma russa no Marajó: a curiosa história de vida e luta de Alisa Saveleva
Apesar da barreira com o clima, Alisa é uma grande fã das comidas típicas da região e aprendeu a subir no açaizeiro e a tirar o fruto
Alisa Saveleva, lutadora de MMA, tem uma história peculiar. Nascida e criada em Moscou, Rússia, ela decidiu trocar o frio e a vida no país do leste europeu pelo calor do Brasil, especificamente, Ponta de Pedras, ilha localizada no Marajó.
A russa mora no Pará desde 2021, quando veio com o marido, o paraense e também lutador Denilson "Ninja" Matos. Em entrevista para o Núcleo de Esporte de O Liberal, Alisa falou sobre sua relação com o estado e carreira no MMA.
"Eu gosto muito de morar aqui em Ponta de Pedras. Porque no interior é bem mais tranquilo. A nossa casa é mais afastada da cidade, então eu gosto de fazer as minhas mudas de plantas, gosto de natureza, plantar as coisas. Essa vida tranquila, na natureza, eu gosto", contou Alisa.
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Diferentemente de Moscou, onde é frio o ano todo, no Pará o clima é quente e úmido, o que foi a principal dificuldade para que a lutadora se adaptasse ao estado. Além disso, Alisa sentiu falta do banho quente, muito comum em cidades com temperaturas baixas.
No entanto, agora, mais de dois anos desde a mudança, já está acostumada com o calor e a vida no interior. Apesar disso, Alisa não se adaptou bem a Belém. A russa achou a cidade muito diferente de Moscou em termos de organização e estrutura, além de ter tido um choque cultural.
"Eu senti mais porque o clima é muito quente e úmido. A gente toma banho e já fica todo suado de novo, isso é mais difícil para mim. [...] Quando eu cheguei aqui, senti muita falta de água quente na torneira e daquele friozinho. Agora eu já estou me acostumando com a 'quentura', mas também, o ar-condicionado, é uma coisa que eu acho que não conseguiria [ficar sem]", confessou.
Apesar da barreira com o clima, Alisa é uma grande fã das comidas típicas da região e, principalmente, do açaí. Em Ponta de Pedras, a lutadora russa aprendeu a subir no açaizeiro e a tirar o fruto.
"Dos pratos regionais, eu gostei de quase tudo. Por exemplo, maniçoba, eu amei, mas o número um é o açaí, sem açúcar mesmo, com farinha. Além disso, eu apanho açaí. Temos um açaizal atrás da casa da minha sogra e o pessoal não gosta de apanhar o açaí na safra e eu não gosto de ver estragar, então, aprendi a apanhar. Me enrolei nas primeiras vezes, mas aprendi", revelou Alisa, que contou que usa o exercício da subida no açaizeiro como uma forma de treinamento.
Carreira no MMA
Alisa tem apenas 21 anos e está no início da carreira de MMA. Ela começou no esporte com 17 anos, como curiosa. Segundo a russa, o interesse pela modalidade foi despertado após ver alguns filmes de luta e, porque, na época, ela estava em busca de um ânimo a mais para a vida.
"Nunca treinei quando criança, comecei com 17 anos. Um dia eu decidi que queria levar umas porradas na cara [sic] porque assisti a um filme que tinha cenas de lutas e, como uma pessoa que nunca treinou, não tem noção nenhuma de que tudo que o filme mostra é fake, não funciona na vida real e, quando fiz, eu gostei. Na época, meu marido estava em Moscou e eu comecei a treinar com ele e seguimos hoje, mas, no Brasil", contou.
A mudança para o Brasil se deu, em parte, para que Alisa conseguisse estabelecer uma carreira no MMA. Enquanto o mercado russo se tornou uma grande oportunidade para os lutadores, com as mulheres não é assim.
Alisa revelou que alguns eventos da Rússia não aceitam lutas femininas. Além disso, atualmente, por conta do conflito com a Ucrânia, atletas russos não podem entrar em alguns países do leste europeu, como na Polônia. Por isso, a América foi a opção da lutadora.
"A Polônia, por conta da guerra entre Rússia e Ucrânia, é fechada para os russos, eles não querem russos e é impossível de ir lá. Já a Rússia, para mulheres lutar, é meio difícil, é mais fácil para as mulheres irem para a Europa ou América, porque quase não tem mulher russa lutando. Tem um evento que é bem pago na Rússia, o ACA, e eles não aceitam mulher, só homens, porque lá na Rússia as pessoas são bem machistas e as mulheres que estão lutando ou elas não têm um nível bom, ou elas param", relatou.
A primeira luta profissional de Alisa foi no Iron Man, um dos eventos de MMA mais populares do Brasil, que já revelou vários lutadores. Desde então, a russa já fez outros três combates e está invicta na carreira. Na última semana, ela participou do Nocaute na Violência e enfrentou Josiane Cardoso no boxe, no entanto, acabou derrotada.
Inspirada em Ronda Rousey, Rose Namajunas e outras grandes atletas do UFC, a russa, agora um pouco paraense, superou a falta de jeito e passou a se dedicar regularmente aos treinos. O objetivo principal da carreira é chegar ao Ultimate e talvez isso exija deixar a cidade que ela adotou como casa.
"Eu estou em fase de treino e preparação para mais lutas para fora. Então, quando chegar [mesmo] a lutar fora do Brasil, eu vou ver se vamos ficar aqui na cidade ou se vamos procurar uma equipe maior ou ir para a Rússia mesmo, porque tem mais material humano [para treinar e fazer sparring]. Aqui na cidade, todo mundo começou quando a gente veio, então, não tem muita gente experiente, material humano para a gente treinar", finalizou.
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