Lecheva revela motivos para saída do Paysandu: ‘precisava do que o Amazonas ofereceu’

Segundo ex-jogador e ídolo bicolor, que coordenava as categorias de base da Curuzu, nova função será diretamente ligada com o futebol profissional.

Caio Maia
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Sem mágoas. É assim que Lecheva, ídolo do Paysandu e atual executivo de futebol do Amazonas, conta como foi sua saída da Cuzuru nos últimos dias. Membro da direção do clube desde 2021 e coordenador das categorias de base do Bicola desde o ano passado, o ex-jogador aceitou o convite da Onça Pintada para liderar um projeto audacioso. Ele, que é um dos criadores da equipe, agora terá que gerir todo o departamento de futebol de um dos dois clubes do Norte na Série B do Brasileirão.

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"Não tenho nenhuma mágoa do Paysandu. Sou grato ao Maurício, assim como o Felipe Fernandes e o Abelha, que eram os vices em 2021. É sempre uma honra e um prazer trabalhar no Paysandu. Tive a felicidade de exercer várias funções, acho que poucas pessoas tiveram tantas funções no Paysandu, com títulos e acesso. Eu tenho certeza que meu ciclo por lá não acabou. Isso não são só palavras minhas, mas da própria presidência. Acho que as portas estão abertas e a possibilidade de retorno não é improvável", disse Lecheva em entrevista exclusiva ao Núcleo de Esportes de O Liberal.

Segundo o ex-jogador, o convite para integrar novamente a gestão do Amazonas ocorreu há poucos dias, mas faz parte de uma longa relação de amizade com a presidência da Onça-Pintada. Segundo ele, o desejo de voltar ao futebol profissional, depois de uma vitoriosa passagem pelas categorias de base, foi a grande motivação para o novo desafio.

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"Mesmo saindo de lá, em 2021, mantive contato com todo mundo e, agora, eles viram a necessidade de mudanças e acreditaram que a minha fora de gestão seria o ideal para colocar o time no trilho, já que eles tiveram uma eliminação precoce na Copa Verde e caíram na final do estadual. Eles entenderam que alguma coisa tinha que ser mudada. Como hoje, numa Série B, seria impossível eu fazer as duas funções (técnico e gestor), contrataram o Adílson Batista pra comandar a equipe e fizeram um convite pra ser executivo de futebol, o gestor desse barco. Como no Paysandu eu estava lidando mais com a base e o feminino, tive uma conversa com a diretoria do clube para sair. Todos entenderam meu lado, de querer trabalhar na gestão do profissional", contou.

Natural de Mogi das Cruzes (SP), Lecheva desembarcou em Belém em 2000, como jogador, para atuar com a camisa da Tuna. No Souza, ganhou nome e foi contratado pelo Paysandu, no ano seguinte.

Na Curuzu participou dos maiores feitos do clube no início daquela década, com títulos da Copa dos Campeões (2002), Série B do Brasileiro (2001), Copa Norte (2001) e Campeonatos Paraenses (2001, 2002, 2005), além de ter participado da campanha alviceleste na Copa Libertadores da América. Já como técnico, Lecheva tem o melhor aproveitamento pelo clube nos últimos anos - 64 % dos pontos disputados -, além do acesso à Segundona, em 2012.

Migração

image Ricardo Lecheva foi um dos criadores do Amazonas (Divulgação)

Lecheva chegou ao Paysandu no final de 2021 fazendo parte de uma revolução completa do clube no departamento de futebol. Na ocasião, o ex-jogador ocupou o cargo de coordenador técnico, uma espécie de "elo" entre a comissão técnica e a presidência. A permanência nesta função durou apenas uma temporada, já que na seguinte ele foi chamado para comandar as categorias de base do Papão.

A mudança de cargo, segundo o Lecheva, ocorreu por vontade própria. Ele conta que não viu a mudança como um "rebaixamento" de função e negou qualquer tipo de mau relacionamento com demais gestores do clube.

"Trabalhar ao lado de um executivo de futebol nunca foi um problema no Paysandu. Depois das eleições, continuei como coordenador técnico, mas tínhamos uma lacuna grande na base. Devido ao número elevado de categorias, e o time feminino, o presidente perguntou se eu estava preparado para assumir esse desafio. Eu entendo a importância da base no futebol, porque isso representa a sustentabilidade de um clube. Mesmo em pouco tempo de trabalho, fizemos muito lá. Conquistamos dois títulos no Sub-17, fomos à final do Parazão Sub-20 e ainda colocamos o time feminino no Brasileirão A3 pela primeira vez na história", avaliou.

Erro de comunicação

image Falas de Hélio dos Anjos geraram incertezas sobre a saída de Lecheva (Jorge Luís Totti/Paysandu)

Apesar de garantir que a saída do Paysandu ocorreu de forma pacífica, o desligamento de Lecheva foi muito comentado pela torcida. O motivo: uma série de declarações feitas pelo técnico bicolor, Hélio dos Anjos, criticando as categorias de base do time. Em uma entrevista coletiva, após o jogo, o treinador disse que os jovens jogadores careciam de minutos antes de chegar ao profissional, além de criticar os processos de transição de elenco.

Lecheva, no entanto, não enxerga as declarações de Hélio como críticas. Segundo ele, houve um erro de interpretação do grande público. Ele afirma que o comandante bicolor estava se referindo as categorias de base do Pará, de forma generalizada, e não a do Paysandu, especificamente.

"Houve uma interpretação errada [das falas do Hélio]. Os dados que acabei de passar mostram que a base deu um salto muito grande. O que o Hélio quis dizer foi que a base do Pará tem minutagens baixas, não a do Paysandu especificamente. Desde o ano passado, a FPF entendeu isso e nos deu mais jogos. Antigamente um time Sub-20 fazia oito jogos ao ano. Agora, essas equipes fazem quase 30 partidas. Agora, sobre a transição entre base e profissional, isso depende mais do técnico do profissional do que de mim. A ordem vem de cima pra baixo e isso não mudou. O que fizemos foi criar um grupo de atletas pra essa integração, mas a disponibilidade dos treinos fica com eles", disse.

Até logo

image Lecheva comemorando o acesso à Série B em 2012 como técnico (Marcelo Seabra / Arquivo O Liberal)

Apesar de ter saído do Paysandu para o Amazonas, Lecheva diz que espera voltar ao Papão no futuro. Segundo ele, no momento do desligamento, o clube até tentou reorganizar o organograma do clube, para encaixá-lo no futebol profissional. No entanto, em comum acordo, as partes decidiram que era melhor que ele saísse, por enquanto, e tivesse possibilidade de retorno.

"Ele até tentou achar uma forma de eu continuar lá, mas o Amazonas me ofereceu o cargo de executivo. A gestão no Amazonas é um pouco diferente. O Paysandu é um clube mais estruturado, com vários profissionais. No Amazonas tudo é mais concentrado numa pessoa só. No Paysandu, a base precisava do Lecheva, assim como o Lecheva precisava do que o Amazonas ofereceu. Como o Ari está no cargo de executivo, que é meu amigo, entendemos que era melhor migrar pro Amazonas com a possibilidade de voltar no futuro", finalizou.

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