Zagueiro do Parazão fala sobre importância da saúde mental para performance de alto rendimento

Diego Fracarolli sofreu com ansiedade durante passagem pelo futebol europeu. Para o OLiberal, o atleta falou sobre a importância de está bem mentalmente para render em campo

Aila Beatriz Inete
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No esporte de alto rendimento, o objetivo é atingir a perfeição e apresentar o melhor em uma competição. Pegar a onda perfeita no surfe, dar o melhor salto na ginástica ou apresentar o melhor futebol exige muito treinamento, esforço e tempo de dedicação. E para manter a alta performance, os atletas não podem se preocupar apenas com o físico, mas também com a saúde mental.

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Recentemente, o surfista bicamepeão mundial Filipe Toledo de surfe anunciou uma pausa na carreira e abandonou o Circuito Mundial para cuidar da saúde mental. O atleta afirmou que estar em alto rendimento por tantos anos acabou o afetando mentalmente. 

Nos últimos anos, o assunto tem se tornado mais aberto no universo esportivo, no entanto, ainda é um tabu em algumas modalidades, como o futebol. A psicóloga Thaysse Gomes afirmou que não é possível um atleta se manter em alto rendimento sem estar com a saúde mental em dia. Segundo ela, não adianta só treinar e cuidar da parte física, pois é preciso estabilidade emocional para atingir os objetivos dentro do esporte. 

“Hoje em dia, a gente vê o ser humano, de maneira geral, muito fragmentado. Então, quando eu espero algo dele de um lugar, eu tenho a treinar só esse lugar... Nós não somos partes, somos um conjunto de tudo isso. E esse é um pensamento muito comum, ‘o jogador de futebol não tem que cuidar da cabeça, ele tem que saber correr, tem que saber dar o passe certo, condicionamento físico, mas esse atleta não tem como ter isso se ele não tiver com a saúde mental dele um dia”, completou Thaysse Gomes. 

image Thaysse Gomes tem experiência de atuação na área da psicologia esportiva (Arquivo pessoal)

Thaysse trabalhou durante um ano na Federação Paraense de Futebol (FPF) dando suporte aos árbitros, com apoio nas questões de habilidades cognitivas, de foco, memória e suporte emocional. A psicóloga ressalta que um atleta possui muitas demandas, tanto do clube quanto de torcedores, família e outros. Então, é importante que tudo esteja alinhado para que o mental do esportista não fique abalado com a pressão por resultados.

Diego Fracarolli, zagueiro do Santa Rosa, foi diagnosticado com ansiedade durante a passagem pelo futebol europeu. O jogador jogou na Eslováquia e em Malta antes de vir para o Pará. Por lá, o atleta enfrentou crises de ataque de pânico, ansiedade e precisou de suporte médico. 

Longe da família, amigos e sem conhecer ninguém no país, a experiência foi difícil. Antes de viajar, o zagueiro sentiu os primeiros sintomas da ansiedade, coração acelerado, preocupação sem um motivo específico, e precisou ir para o hospital.

“Eu fiquei um ano na Eslováquia e durante esse período tive férias, vim para o Brasil e quando retornei, os sintomas começaram a aparecer mais forte. A gente não acha que é um problema sério, mas quando você vai se dar conta, já está em estágio avançado”, declarou. 

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Após os exames, Diego foi diagnosticado com ansiedade e iniciou um tratamento com especialistas, e precisou do auxílio de remédios. Por conta disso, o zagueiro viu um impacto significativo na carreira, ficou sem treinar e chegou a se questionar se continuaria no futebol. Com o fim da passagem pela Eslováquia, ele foi para Malta e os sintomas voltaram. Mas, como já tinha informações e conhecia o assunto, ele lidou melhor com a situação.  

“O diagnóstico no início foi bem difícil para eu aceitar porque, não é que não acreditava muito, mas não dava e nem conhecia muito do assunto, não dava tanta importância. A questão de ir ao psicólogo, eu falava ‘ah, isso é coisa da minha cabeça, eu consigo vencer tranquilo’. Mas, depois que vi que realmente estava me ajudando e melhorando a minha situação, eu fui aceitando”, revelou o zagueiro. 

Pressão da torcida e distância da família 

Um dos gatilhos para Diego foi a distância da família. Desde criança, o jogador vive viajando e longe dos parentes e amigos, e ele sente que isso o afetou emocionalmente.

“Eu acho que a causa da minha ansiedade pode ter vindo disso. Desde os 13 anos fora de casa, viajando e longe dos amigos, isso foi se acumulando com o tempo e acredito que isso foi um gatilho para a ansiedade. Hoje eu estou com a minha esposa, e a gente vê a diferença. Ajuda muito no extra campo, está bem nos treinos, ter alguém para conversar, quando a gente está junto da família, é bem mais fácil”, declarou. 

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Thaysse afirmou que a falta da família por perto nesses momentos de cobrança e pressão pela vitória afeta muito um atleta. Além disso, ela destacou que, na maioria dos casos, os jogadores são tão cobrados pela excelência que eles nem percebem e, quando não conseguem, acabam se sentindo muito culpados.

Aliado a isso, a pressão da torcida em cima de um atleta pode afetar bastante no desempenho, caso esse jogador não esteja preparado emocionalmente. 

“A torcida cobra muito esse atleta. Ela espera que ele faça o melhor sempre com uma margem de erro baixíssima e, quando eu não tenho um atleta preparado para não puxar essa demanda para si a ponto de prejudicar o desempenho dele, eu tenho um problema”, explicou. 

image Diego Fracarolli, zagueiro do Santa Rosa (Marx Vasconcelos/ Especial para O Liberal)

Por isso, Thaysse afirma que o ideal seria que os clubes, especialmente times grandes como Remo e Paysandu, tivessem pelo menos um profissional da área para um trabalho a longo prazo, pois assim, é possível trabalhar e estabelecer um vínculo com os atletas, importante na psicologia, para ter um resultado melhor. 

“A presença do apoio psicológico no esporte, principalmente no futebol, é muito importante, um divisor de águas. Hoje em dia, a gente tem traçado cada vez mais os componentes que fazem parte de um bom atleta e a gente vê esse lado mental tomando mais espaço”, destacou Thaysse Gomes. 

Mudança na mentalidade 

Em uma comparação com há alguns anos, a psicóloga acredita que há uma mudança significativa na atenção sobre o assunto. Contudo, esse número ainda não é o ideal. 

“Os atletas e os clubes estão mais abertos a falar sobre, agora se esse número é o ideal, a resposta é não. Apesar da gente estar tendo mais espaço, ainda não é o que a gente queria ter. A gente ainda tem preconceito, algumas falas que são problemáticas, no sentido de diminuir a importância da saúde mental. Mas, eu consigo ver que os atletas de maneira geral estão mais conscientes da importância de começar a falar desse assunto”, destacou. 

Com o diagnóstico, Diego também teve uma virada de chave na mentalidade e passou a entender e falar sobre o assunto, inclusive com os clubes e colegas de equipe. 

“Hoje eu não tenho mais vergonha de falar sobre isso, não tenho mais essa questão de achar que os outros vão ter preconceito, porque de repente um colega está na mesma situação e ele pode se sentir envergonhado de falar sobre a situação. Então, quando eu falo sobre o problema, eu posso encorajar uma pessoa a falar sobre o assunto. E aqui no Clube a galera me dá um suporte legal e são bem abertos a essa questão”, pontuou.

Em Malta, o zagueiro teve o apoio do time, que disponibilizou psicóloga e o deixou livre para caso precisasse se afastar de treinos Em comparação com o Brasil, mesmo que a passos lentos, Diego acredita que o assunto está mais presente nos clubes e destaca que sem o equilíbrio mental, não é possível atingir um bom rendimento. 

“Eu fiquei muito feliz por ter essa abertura lá. Mas acho que aqui no Brasil já está melhor. Os próprios dirigentes dos clubes estão começando a se preocupar um pouco mais com a questão da saúde mental dos atletas, porque é fundamental. Hoje eu vejo que a gente se preocupa muito fisicamente para poder estar jogando e esquece um pouco do psicológico. Mas sem a saúde mental, o rendimento dentro de campo não vem, tu não vais conseguir chegar ao nível técnico esperado”, finalizou o zagueiro. 

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