Da perda de gordura à desidratação: entenda como funciona o corte de peso

Lutador paraense e fisiologista detalham os riscos e cuidados durante o processo

Aila Beatriz Inete
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A brasileira Daiane Santos ganhou destaque nos portais especializados em MMA devido ao estado de saúde. A lutadora passou mal durante o processo de corte de peso e precisou ser internada em um hospital de Londres. Em entrevista ao Núcleo de Esportes de O Liberal, o lutador Bruno Souza e o fisiologista Erick Cavalcante, ex-preparador físico de Lyoto Machida, discutiram o processo de corte de peso, os riscos envolvidos e os cuidados necessários para preservar a saúde dos atletas.

A maioria dos lutadores não compete em uma categoria que corresponde ao seu peso natural. Normalmente, os atletas passam por um processo de perda de quilos para se enquadrarem no limite da divisão. Em média, essa diferença varia entre 10 e 20 kg.

"O processo de corte de peso ocorre porque a maioria compete por categorias, o que visa equilibrar as condições entre os atletas. Alguns têm maior força e massa, o que teoricamente os coloca em vantagem sobre outros com menor expressão física", explicou Erick.

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O fisiologista trabalhou com o ex-campeão do UFC Lyoto Machida entre 2011 e 2012 e acompanhou esse processo do atleta paraense. Segundo o preparador, além dos treinos, o atleta passa por uma dieta severa e possui mecanismos para a perda de líquido. 

Erick detalhou que muitos atletas preferem manter a massa corporal do dia a dia mais alta porque, assim, eles conseguem recuperar o peso em poucas horas, o que pode fazer a diferença no combate. 

"Quando eles [atletas] têm uma estrutura para um peso alto, quando eles quebram o peso por conta de uma restrição calórica severa, por dieta, pratica de atividade física, é possível que em 24 horas se ganhe rapidamente o peso [perdido] porque o organismo tende fisiologicamente a voltar a um peso fixo. Então, assim, você se reidrata rapidamente e acaba lutando um pouquinho mais pesado do que a categoria, o que levaria vantagem do que quem está no limite", destacou o fisiologista.

Bruno Souza, ex-campeão do LFA e ex-UFC, destacou que o ideal seria manter o peso durante todo o ano. No entanto, por conta de um calendário espaçado, já que o lutador faz em média 3 lutas por ano, desordem alimentar e outros fatores, os lutadores não conseguem manter. 

"Um camp para a gente fazer uma luta são seis semanas. Esse também é um bom período para fazer o corte de peso e chegar na semana da luta e fazer a desidratação. O corte de peso geral, basicamente, é perder o máximo de gordura sem perder performance e na semana da luta é quando a gente baixa a quantidade de carboidrato e ingere mais água", explicou o atleta. 

O fisiologista trabalhou com o ex-campeão do UFC Lyoto Machida entre 2011 e 2012 e acompanhou o processo de corte de peso do atleta paraense. Segundo ele, além dos treinos, o atleta segue uma dieta rigorosa e utiliza mecanismos para a perda de líquidos.

Erick detalhou que muitos atletas preferem manter uma massa corporal mais alta no cotidiano, pois conseguem recuperar o peso rapidamente em poucas horas, o que pode fazer diferença no combate.

"Quando [os atletas] têm estrutura para um peso mais alto e reduzem o peso por uma restrição calórica severa, com dieta e prática intensa de exercícios, é possível recuperar o peso em até 24 horas, pois o organismo tende a retornar fisiologicamente ao peso habitual. Assim, a reidratação permite que o lutador suba no ringue com um peso ligeiramente superior ao da categoria, o que lhe dá vantagem sobre quem está no limite", destacou Erick.

Bruno Souza, ex-campeão do LFA e ex-UFC, mencionou que o ideal seria manter o peso ao longo do ano. No entanto, devido ao calendário espaçado — os lutadores fazem em média três lutas por ano —, à desordem alimentar e a outros fatores, isso se torna inviável.

"Um camp para a luta dura seis semanas, e esse é um bom período para fazer o corte de peso e chegar à semana da luta para a desidratação. O corte de peso em geral consiste em perder o máximo de gordura sem comprometer o desempenho, e na semana da luta reduzimos o carboidrato e aumentamos a ingestão de água", explicou Bruno.

Risco à saúde

image Corte de peso realizado de forma exagerada pode conter risco à saúde (Igor Mota/ O Liberal)

Como fisiologista, Erick alerta sobre os riscos da perda de peso severa em pouco tempo. Para ele, o ideal seria que o atleta mantivesse um peso próximo ao de sua categoria, o que ajudaria a equilibrar força e agilidade.

Segundo o empresário de Daiane, Alex Davis, ela passou mal durante um corte de peso muito agressivo e em um curto período, o que afetou sua saúde.

Erick comentou que pode ter havido um erro no cálculo do corte de peso de Daiane, tentando perder líquidos ou gordura em um período muito curto, o que causou diversos problemas de saúde.

"Acredito que houve um erro na análise do tempo de perda de peso e, quando chegaram as 'vacas magras', foi muito rápido. Com isso, o corpo sofre, não só com a perda de peso, mas também de potência, velocidade de reações químicas, velocidade nas transmissões neurais e equilíbrio motor, afetando a coordenação. Com o organismo em déficit, só resta descansar, e no treino surgem esses efeitos negativos", alertou o fisiologista.

Em 2022, Bruno assinou com o UFC e aceitou uma luta com apenas seis dias de preparação, mas, por conta do pouco tempo, ele não conseguiu alcançar o peso ideal, ficando cerca de 1 kg acima da categoria.

"Estava com 77 kg e precisei reduzir para 66 kg em seis dias, ou seja, um corte de 11 kg. Consegui chegar a 67 kg, ficando 1 kg acima do limite. Foi um processo muito desgastante e comprometeu totalmente meu desempenho", relembrou o lutador.

Bruno disse ter acompanhado o caso da conterrânea pela mídia e ressaltou que, infelizmente, esse tipo de situação não é rara. Em sua estreia no UFC, ele também passou mal e chegou a desmaiar, obrigando sua equipe a interromper o corte.

"Nenhum lutador gosta do corte de peso. Muitos perguntam por que não luto com meu peso natural, mas, se eu fizer isso, o adversário não fará e ele terá cerca de 80 kg no dia da luta. A diferença de força e tamanho seria enorme. Dançamos conforme a música. Eu preferiria não fazer o corte, mas é muito sacrificante. E, infelizmente, não é a primeira vez que um atleta passa por isso", apontou Bruno.

Recuperação

image Atleta deve se recuperar após corte de peso (Igor Mota/ O Liberal)

Após a pesagem, o lutador inicia o processo de recuperação. Durante o corte de peso, ele perde líquidos e reduz a ingestão de carboidratos. Após a pesagem, o atleta ingere grandes quantidades de alimentos e líquidos.

"Não basta só beber água ou comer. É preciso ingerir muito carboidrato para reter a água, muito sódio e seguir um protocolo de hidratação. Tudo depende de quanto peso foi perdido na desidratação, mas o ideal é retornar ao peso de uma semana antes da luta, que geralmente é o peso de treino", afirmou Bruno Souza.

O atleta mencionou que já houve discussões sobre realizar a pesagem no dia da luta, o que evitaria que os lutadores combatessem acima do peso da categoria. Contudo, para Bruno, essa medida não seria segura, pois os atletas poderiam lutar desidratados.

"Seria mais arriscado, pois teríamos atletas desidratados na luta, o que é o pior dos cenários. O cérebro não estaria bem hidratado, comprometendo a absorção dos golpes. Infelizmente, o meio-termo encontrado foi a pesagem um dia antes", concluiu o lutador

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