Cronologia de um 'milagre': como Nadal superou lesão para virar o maior vencedor de Grand Slam

Em quatro meses, tenista espanhol abandonou as muletas e adicionou mais um recorde na carreira ao conquistar o Australian Open de 2022, ultrapassando Federer e Djokovic

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Aos 35 anos, Rafael Nadal segue fazendo história. No domingo, o espanhol conquistou seu 21º título de Grand Slam, ultrapassou os rivais Roger Federer e Novak Djokovic e tornou-se o recordista de troféus da principal categoria do tênis. Para chegar à glória, Nadal, que venceu o russo Danil Medvedev por 3 a 2 (recuperando-se de um 2 a 0 contra), teve que superar um calvário cujo o próprio admitiu que o fez pensar em aposentadoria.

Em setembro de 2021, por meio de sua conta no Instagram, o tenista publicou uma foto de muletas. Na postagem, ele avisou que ficaria um período fora das quadras para se recuperar de um procedimento cirúrgico no pé esquerdo. No segundo semestre da temporada passada, Nadal participou somente de um torneio (ATP 500 de Washington) e se despediu do calendário de forma precoce. A lesão no pé não é novidade na carreira de Nadal. Muito pelo contrário. O espanhol sofre, desde a juventude, da Síndrome de Müller-Weiss, uma doença rara regenerativa que afeta um dos ossos do pé.

"Sinceramente, levo um ano sofrendo muito mais do que deveria com meu pé e necessito dar um tempo. Este ano perdi coisas muito importantes para mim, como Wimbledon e a Olimpíada. Prometo que vou trabalhar forte para tentar seguir disfrutando deste esporte durante mais tempo", afirmou à época.

Com as férias adiantadas, Nadal usou o período para aprimorar a parte física e voltar aos treinamentos no fim de outubro, em sua academia em Mallorca. Decidiu que usaria o torneio-exibição em Abu Dhabi, em dezembro, como um vestibular para saber se participaria ou não do Australian Open. Apesar das derrotas para Andy Murray e Denis Shapovalov, as sensações foram positivas, pela boa resposta que Rafa deu fisicamente. Foi quando veio uma nova pancada.

Ao retornar dos jogos nos Emirados Árabes para a Espanha, Nadal revelou ter contraído covid-19. Obrigado a ficar dez dias em isolamento e sem poder treinar de forma adequada devido aos sintomas, o campeão colocou em xeque sua atuação na Austrália. De última hora, no entanto, aceitou o desafio e rumou a Melbourne, onde desembarcou no dia 31 de dezembro.

Para recuperar ritmo de quadra antes do Australian Open, Nadal fez um movimento pouco usual: disputar um torneio antes do Grand Slam. Dessa forma, o tenista atuou no ATP 250 de Melbourne. Foi sua primeira competição oficial desde agosto passado. Mais uma vez, as respostas foram acima da média, e Rafa faturou o título.

Ainda assim, as incertezas continuavam. Afinal, existiam dúvidas de como Nadal suportaria o desgaste acumulado de jogar consecutivamente partidas de cinco sets durante as duas semanas do Grand Slam, o que não acontecia há sete meses. Em quadra, mesmo avançando de fase, a vulnerabilidade física era evidente: o ritmo diminuía à medida que as partidas avançavam e o adversário crescia na partida. Nadal perdeu o terceiro set nos duelos contra Khachanov (3ª rodada), Shapovalov (quartas de final) e Berretini (semifinal). O mesmo terceiro set que marcou a reação no confronto derradeiro contra Medvedev. 

Após avançar à final, o Touro, como é apelidado, reconheceu que chegar à decisão era um "semi-milagre". Também confirmou que, durante os meses de ausência, cogitou um adeus ao esporte. Uma emoção que agigantou mais a epopeia da conquista de Nadal na Austrália.

"Passei por muitos momentos desafiadores, muitos dias de trabalho duro sem ver uma luz. Tive muitas conversas com minha equipe e com minha família sobre o que poderia acontecer se as coisas continuarem daquele jeito, pensando que talvez fosse uma chance de dizer adeus".

O natural de Manacor não definiu os próximos passos. A busca pelo 22º Grand Slam será na sua casa de festas, no saibro de Paris, onde venceu Roland Garros por 13 vezes. Para os próximos meses, o calendário da ATP tem marcado dois Masters 1000 nos Estados Unidos (Indian Wells e Miami, ambos em quadra dura) e a temporada no saibro, com mais três Masters (Monte-Carlo, Madrid e Roma), além do principal Major. Até lá, Nadal descansará (ou não) com a certeza que mais uma vez superou os próprios limites para finalizar outro capítulo de redenção e resiliência na carreira.

Veja os 21 Grand Slam de Rafael Nadal:

Australian Open - 2
Roland Garros - 13
Wimbledon - 2
US Open - 4

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