Pesquisas erram e apresentam resultados diferentes das urnas
Diferença entre Lula e Bolsonaro foi de 5%, mas institutos davam até 14%; também nas disputas nos Estados, votação foi diferente da projeção das pesquisas
Com a conclusão da apuração pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) da votação no primeiro turno, no domingo (2), mais uma vez os institutos de pesquisa foram questionados pela população, com ampla repercussão nas redes sociais, por conta dos erros entre os números apresentados e o resultado final. Parlamentares querem investigar por meio de CPIs e acionando a Procuradoria Geral da República (PGR) e o Ministério Público Eleitoral (MPE) para apurar a metodologia e os resultados que foram divulgados. O Ministério da Justiça também afirmou que irá acionar a Polícia Federal.
O resultado que mais chamou a atenção e gerou as maiores críticas foi sobre a disputa presidencial. Com 100% das urnas apuradas, Luís Inácio Lula da Silva, do PT, obteve 48,43% dos votos. Já o presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro, do PL, conquistou 43,2% dos votos. A diferença entre os dois candidatos que vão disputar o segundo turno, em 30 de outubro, foi de 5,23 pontos percentuais.
Pesquisas da véspera erraram
No entanto, três pesquisas nacionais divulgadas no sábado (1º) apontavam uma diferença entre os candidatos de 14 pontos percentuais. O Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), antigo Ibope, que realizou a pesquisa a pedido da Rede Globo, apontava vitória de Lula no primeiro turno, com 51% dos votos contra 37% de Bolsonaro. Já o DataFolha, do Grupo Folha de São Paulo, apontou Lula com 50% e Bolsonaro com 36%. Os dois institutos registraram a margem de erro em dois pontos percentuais. Já o Ipespe (Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas), colocou Lula com 49% e Bolsonaro com 38%.
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Além desses institutos, que por ter divulgação em grandes veículos de imprensa acabam sendo mais conhecidos, outros também realizaram pesquisas. E também tiveram previsões diferentes do resultado final das urnas. A pesquisa do Instituto Quaest, realizada em parceria com a empresa de investimentos Genial, também divulgado no sábado, apontou vitória de Lula com 49% a 38% contra Bolsonaro, numa diferença de 11 pontos. O Atlas/Intel também indicou, no sábado (1), vitória de Lula no primeiro turno, com 50,30% e Bolsonaro com 41,10%. O PoderData, do Grupo Poder360, registrou, no dia 28, diferença de 10 pontos percentuais entre os candidatos, com Lula com 48% e Bolsonaro com 38%.
Também registraram pesquisas o Idea, contratado pela revista Exame, com divulgação no dia 29. A pesquisa mostrava vitória de Lula por 49% a 38% de Bolsonaro, numa diferença de 11 pontos percentuais. O Instituto MDA, contratado pela Confederação Nacional de Transportes (CNT), também publicou pesquisa no sábado (1) e registrou Lula com 48,3% e Bolsonaro com 39,7%. Entre os nove institutos de pesquisa que realizaram levantamentos nacionais para a presidência, o Instituto Paraná Pesquisas chegou mais perto da votação final, uma vez que indicava vitória de Lula com 47,1% contra 40% de Bolsonaro, numa diferença de 7,1%.
Ministro aciona PF e senador protocola pedido de CPI das pesquisas
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, afirmou na terça-feira (4), ter encaminhado à Polícia Federal (PF) um pedido de inquérito contra instituto de pesquisas eleitorais. Segundo Torres, a requisição para que o trabalho dos institutos seja investigado atende a uma representação protocolada no ministério.
Na segunda-feira (3), o senador Marcos do Val, do Podemos do Espírito Santo, protocolou requerimento para criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar os institutos e empresas de pesquisa de intenção de voto no país. De acordo com o parlamentar o objetivo é verificar a metodologia e os resultados das pesquisas, que foram discrepantes em relação ao apurado. No documento, que precisa de 27 assinaturas de outros senadores, o parlamentar justifica a necessidade de criação da comissão, uma vez que "constatam-se inaceitáveis desvios de balizamento de preferências e percentuais dos diversos candidatos, mesmo em aferições na véspera dos pleitos". Para ele, “é urgente uma investigação técnico-científica isenta, profunda e abrangente de todos os elementos incidentes nessas pesquisas, com ênfase nos elementos sociológicos, matemáticos, demográficos e também político-partidários envolvidos", destaca o documento.
Nas redes sociais, o parlamentar divulgou um vídeo sobre a iniciativa. “Temos grandes questionamentos. Eu também sofri isso. Tinha 5,5% e o outro concorrente tinha 44% na pesquisa. Mas eu fui eleito e ele não foi eleito. Uma diferença enorme e todos nós sabemos que isso influencia muito na decisão do voto na urna, porque muitos brasileiros não querem perder o voto e seguem o que as pesquisas estão dizendo. E estamos escutando muito que as pesquisa entregam conforme o que o cliente deseja. Já encaminhamos para todos os senadores o pedido de CPI e precisamos apenas de 27 assinaturas, para dar início e investigar e entregar ao Ministério Público esse movimento criminal contra as eleições aqui no Brasil”, afirma o senador, que foi eleito em 2018 e não disputou a atual eleição pois detém mandato até 2027. Ainda de acordo
“Observei atentamente as recentes pesquisas eleitorais e mais uma vez constatei que os institutos precisam mostrar dados mais próximos da realidade, para que o eleitor não seja induzido e levado para um falso retrato do momento, o que prejudica de maneira exponencial o processo democrático”, afirmou.
“Assim, diante dos recorrentes erros cometidos pelos institutos de pesquisa, demonstrados em processos eleitorais consecutivos, não poderia ficar inerte. Diante disso, apresentei requerimento para a criação de uma CPI com a finalidade de apurar, mediante exame técnico, os sistemas de realização de pesquisas eleitorais de intenção de voto pelas principais empresas e institutos do País”, disse.
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