Visibilidade da Amazônia gera inovação
Valorização dos produtos locais alavanca empresas da região
Cada vez mais, na Amazônia, empresários procuram entrar nos mercados de consumo a partir de características positivas da região, como a biodiversidade e a culinária original do Norte. Conciliar aumento de vendas, atração de consumidores e desenvolvimento, como forma de melhorar a vida de quem vive a realidade amazônica, são questões que jovens profissionais empreendedores do Pará enfrentam no caminho da consolidação de suas marcas.
Joanna Martins, CEO de uma empresa do ramo alimentício, que trabalha com a criação de alimentos inovadores a partir da gastronomia tradicional da região, afirma que seu negócio já nasceu com o propósito de fomentar emprego e renda locais. “Já tínhamos o olhar de que para fazer o nosso trabalho precisávamos fazer de uma forma que gerasse desenvolvimento na região. E a gente entende que esse desenvolvimento vem especialmente da valorização do trabalho dos pequenos produtores, dos extrativistas, daquelas pessoas que têm o acesso a floresta, mas que nos últimos 500 anos não foram valorizadas e sim exploradas. A Manioca foi criada com o objetivo de reverter esse cenário”, relata.
Como forma de realizar o ideal, a chef e empresária explica que decidiu trabalhar com o conceito de comércio justo, “que é o termo da economia utilizado para dizer que remuneramos nosso fornecedor de forma justa, em comum acordo, na maioria das vezes pagando mais do que o mercado que ele tinha antes pagava. Também apoiamos o produtor em outros aspectos, não apenas pagando, mas incentivando o desenvolvimento dele. A gente tem um programa que leva capacitação, assistência técnica, orientação, conexão com outros mercados. Vamos além do valor pago pelo produto”, reitera.
Um dos produtos que alia tradição e inovação, do “portfólio” de Joana Chagas, é o molho de tucupi preto, que surgiu a partir da ideia de adaptar o produto tradicional aos novos usos contemporâneos. “Apesar de muita gente não conhecer, o molho de tucupi preto é um produto tradicional indígena que estava se perdendo no tempo e na história. Então, resolvemos adaptá-lo ao mercado, porque quando começamos a comercializar o produto concentrado tivemos o retorno de que ele tem o sabor muito forte, muito intenso, por isso, os consumidores estranharam e tinham dificuldade de usar. O desenvolvimento do molho veio da busca de como facilitar o consumo de um produto que é tão saboroso e traz um aspecto cultural muito forte. Fizemos com que ele ficasse mais acessível”, explica.
Para a empresária, é um fato de que a procura por produtos da Amazônia tem aumentado, mas não basta que os produtos sejam “incríveis, saborosos, com qualidades tradicionais. Eles precisam ser atrativos para o mercado consumidor", afirma. "O nosso, no caso, é o Brasil. Então, a partir dessa compreensão, entendemos que era preciso fazer adaptações para que os sabores se tornassem de fato acessíveis, já que em outras regiões as pessoas têm outros hábitos e culturas. Hoje, a gente identifica segmentos, linhas que são interessantes para trabalharmos a partir do que temos disponível, pois apesar de termos uma biodiversidade gigantesca, nem sempre temos fornecedores capacitados, e fazemos produtos focados nos mercados que querem produtos gostosos, saudáveis e práticos”, ensina.
Moda inspirada na Amazônia
A proposta de aliar o mercado de moda e designer com a valorização da cultura amazônica foi o que moveu a bióloga e empresária Layane Maia a criar uma marca de estamparias autorias de moda de praia. “A ideia da marca veio a partir de uma necessidade pessoal (por conta da minha formação em biologia) em levantar a bandeira da conservação e sustentabilidade, pois no momento que começarmos a valorizar esse bioma é que a Amazônia terá mais valor em pé do que derrubada. Temos a maior floresta tropical e maior bacia hidrográfica do mundo. Posso dizer que essa região é uma fonte inesgotável de inspiração e conhecimento a ser compartilhado”, afirma.
Dentre diferentes estéticas utilizadas, por exemplo, um destaque é a estampa criada a partir das cores e formato do boto cor-de-rosa. “Não se pode negar que os olhares do mundo se voltaram para a Amazônia, o que é um excelente sinal para os empresários que utilizam esse contexto. Acredito que uma importante forma de valorizar os negócios locais é através da informação. A partir do momento que os empreendedores se apoderarem do potencial que existe nessa região é que eles irão explorá-lo, pois eu percebo que quem é de fora valoriza e vende mais o nosso peixe que os próprios filhos da terra”, opina.
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