Venda de motos elétricas cresce 878% com alta nos combustíveis; Belém segue fluxo

Bateria percorre até 35 quilômetros e economia mensal pode chegar a R$ 150 na comparação com a gasolina

Eduardo Laviano

Parece que tudo está fluindo em direção a um mercado de motocicletas elétricas cada vez mais robusto no Brasil: os altos preços dos combustíveis, o debate sobre a transição verde e a redução da emissão de gases poluentes, grandes empresas criando pontos de carregamento nos centros urbanos e o trânsito cada dia mais caótico das metrópoles. Segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores, só entre janeiro e maio de 2022, o número de emplacamentos saltou 878% em relação ao mesmo período de 2021: foram 3.062 veículos, com preços que variam entre R$ 10 mil e R$ 25 mil e chegam a rodar 35 quilômetros a cada recarga da bateria. Em Belém, a procura por esses veículos também tem aumentado.

image Alessandro Pitanga afirma que tecnologia não avançou na velocidade do desejo das pessoas (Márcio Nagano / O Liberal)

Na opinião do empresário Alessandro Pitanga, a mobilidade elétrica já está, aos poucos, se inserindo no cotidiano das pessoas e gerando curiosidade e interesse.

"No começo existia muito mais perguntas sobre o custo-benefício financeiro. De um ano e meio para cá noto que as pessoas já estão cientes e bem informadas sobre essa parte e chegam para perguntar sobre autonomia, tecnologia e questões técnicos específicas dos modelos. A demanda aumentou e creio que essa é a dificuldade de gente, pois a tecnologia ainda não avançou no nível da necessidade das pessoas", diz ele, que entrou no ramo em 2019. Com a procura alta, Pitanga foi ajustando o catálogo de produtos e passou a comercializar também bicicletas e patinetes elétricos na esteira do crescimento das empresas de micro mobilidade dentro e fora do Brasil. 

Mais do que o aumento do preço da gasolina, que já bateu 31% só em 2022, a escalada das taxas de juros no Brasil também acentuou a demanda, segundo Pitanga. Ele aponta, porém, que a desvalorização do real frente ao dólar e o encarecimento do custo industrial na China pressionaram os preços das motocicletas.

É preciso avaliar objetivos

Ele precisou diminuir a margem de lucro e negociar com os fornecedores para segurar os preços. Segundo o empresário, é importante que o futuro eletromotoqueiro reflita sobre os objetivos da compra, se irá usar para o dia a dia ou só eventualmente e o impacto disso nas finanças.

"Uma moto faz em média 30 km com um litro. A nossa elétrica faz até 35 por carga. E uma carga de bateria na tomada custa R$ 2 reais por dia. Na moto você gastaria R$ 7 reais. No volume do mês, você tem uma economia de R$150 só no combustível. Sem contar que a manutenção da moto elétrica também é bem mais barata que uma moto convencional, que tem que trocar kit de embreagem e afins", aconselha. A análise do empresário se deu antes da redução dos combustíveis

Mesmo com o momento propício para o mercado, Pitanga acredita que a mentalidade política e institucional brasileira ainda precisa progredir mais rumo a incentivos efetivos para os veículos elétricos.

"Existem alguns estados que tem esses benefícios fiscais, como Pernambuco, Santa Catarina e São Paulo, com redução de imposto de importação. Para a gente aqui não não tem benefício nenhum. O lobby das montadoras e do petróleo no Brasil é muito grande. Mas mesmo assim temos as tentativas das empresas privadas. A Caoa com a Cherry agora eletrificou toda a frota, com todos os carros pelo menos híbridos. A Equatorial inaugurou um eletroposto [no Porto Futuro, em Belém], já fomos procurados por um shopping para desenvolver um projeto no estacionamento", celebra. 

Para quem não tem pressa

O engenheiro de computação Luís Pedro Mourinho, de 33 anos, adquiriu uma motocicleta elétrica e se diz feliz com o investimento. Para ele, o ideal seria que a capital paraense já estivesse cheia delas.

"Você pode não sair correndo como uma moto normal, claro, mas se você estiver sem pressa, não tem que pensar duas vezes. Acho que é um investimento que se paga, porque os custos são muito menores. Todo final de semana eu uso. Fico só esperando aparecer algo para fazer para eu pega ela. Por mim eu usaria todo dia", diz rindo. Para conduzir o veículo, Mourinho usa a chamada Autorização para Conduzir Ciclomotores.

Zona cinza na habilitação

Segundo Pitanga, a legislação ainda precisa estar mais bem alinhada entre o governo federal e Estados. "Desde ano passado, já existe uma regulamentação do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) sobre necessidade de Carteira Nacional de Habilitação e licenciamento para veículos a partir de 150 watts, que não podem mais rodar em ciclofaixa e nas vias. Mas o próprio Detran está patinando com isso. Quando você chega lá, mandam tirar a categoria A. Esse benefício que diminui os custos virou uma zona cinza que não sabemos como vai ficar", diz. 

Segundo a resolução do Contran nº 842, de 8 de abril de 2021, ciclomotor é todo veículo de duas ou três rodas, provido de motor de combustão interna, cuja cilindrada não exceda a 50 cm³, ou de motor de propulsão elétrica com potência máxima de 4 quilowatts e velocidade máxima de 50 km/h. A reportagem entrou em contato com o Departamento de Trânsito do Pará, mas não recebeu resposta até o fechamento desta edição. 

Em nota, o Departamento de Trânsito do Estado informou que não dispõe de estatística referente ao quantitativo de motos elétricas no Pará e que esses veículos são fiscalizados nas rodovias estaduais da mesma forma como os demais veículos, porém não há registro de infrações ou acidentes envolvendo esse tipo de frota.

Negócio do momento

O empresário Leandro Cardoso tem 45 anos e trabalhou a vida toda no setor comercial. Desde 2019 ele tem pesquisado bastante sobre mobilidade elétrica, inicialmente focado em Belém, mas observando tendências mundiais do tema. 

Assim como Pitanga, ele observou que o movimento iniciado em São Paulo tinha potencial de se expandir pelo Brasil. A ideia dele sempre foi trazer as motos elétricas diretamente da China para comercializar na região Norte do Brasil. 

"Eles [os chineses] fazem do jeito como você quiser. Comecei várias negociações e encontrei um despachante aduaneiro em Belém que cuida de todas as importações. Só que o custo do frete marítimo é o grande gargalo, especialmente por causa da pandemia. Ano passado era dois mil dólares um container que cabia entre 50 e 60 motos. Hoje está em 18 mil dólares", lamenta. 

Apesar das dificuldades, os negócios vão bem: Cardoso possui uma loja em Belém e outra em Castanhal e se prepara para abrir uma unidade em Santarém e uma loja-conceito focado nos veículos elétricos. 

"O mercado vem crescendo muito rápido onde tem incentivos grandes do governo. O custo do emplacamento não tem diferencial perante as motos a combustão. É o mesmo preço. Isso teria que mudar urgentemente. Eu não poluo com ela, não tenho barulho", argumenta.  Para ele, tão importante quanto as motos em si, é importante que o vendedor ofereça também todas as peças e serviços de manutenção específicos para as motos elétricas.

Se em 2021, quando a loja de Leandro abriu, ele vendia até 12 motos por mês, em 2022 o número saltou para entre 40 e 50, com entregas em todo o estado do Pará. 

"Quem mora em prédio tira a bateria, sobe o elevador e carrega ela na cozinha em qualquer tomada bivolt. A maioria demora entre 5 e 6 horas para carregar. Tem motos que chegam a 80 quilômetros de autonomia por carga", indica ele, que também lembra que os custos de manutenção são quadrimestrais e de no máximo R$80.

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