Alimentos seguem tendência de alta em 2025 na capital paraense

Alguns produtos, como farinha, feijão, arroz e leite, recuaram de preço em janeiro, de acordo com dados do Dieese/Pa.

Jéssica Nascimento
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A inflação dos alimentos, que têm comprometido o poder de compra da população e afetado a popularidade do governo Lula, deve persistir em 2025. Jorge Portugal, presidente da Associação Paraense de Supermercados (Aspas), ressaltou que fatores climáticos, como chuvas excessivas nas regiões produtoras do Sul e Sudeste, têm afetado a produção agrícola, o que resulta em preços mais altos para itens como café, leite e carne.

Portugal explica que o aumento nos custos de produção é impulsionado também pelo aumento do preço do diesel, que afeta diretamente o transporte rodoviário dos produtos. "O aumento no diesel fez com que o frete subisse, e não há como não repassar esses custos para o consumidor final", explica o presidente da Aspas.

Já o economista Rafael Boulhosa afirma que a má gestão fiscal por parte do governo federal tem sido um dos principais fatores para a tendência de aumento no preço dos alimentos em 2025.

De acordo com o especialista, a falta de equilíbrio fiscal no Brasil tem gerado déficits, levando a uma alta na taxa de juros, que, por sua vez, desestimula investimentos e prejudica a produção nacional. "O governo não terá dinheiro para honrar seus compromissos, e isso afeta a confiança dos investidores, resultando na alta do dólar", afirma Boulhosa.

Já o presidente da Aspas observa ainda que, com o aumento dos custos de produção e transporte, os preços dos alimentos devem se manter altos em 2025. "Não vemos uma queda nos preços, apenas uma tendência de manutenção ou aumento, conforme o cenário econômico e climático", explica Portugal.

Além disso, Boulhosa observa que a valorização do dólar aumenta o custo dos produtos importados e torna as exportações mais atraentes para os empresários. Isso, segundo ele, gera desabastecimento no mercado interno, com produtos como carne, arroz e feijão sendo enviados para o exterior, onde os preços são mais vantajosos.

O economista também aponta que, embora o Brasil tenha enfrentado problemas climáticos que afetaram as safras, a política fiscal e a gestão do câmbio continuam sendo fatores críticos para o aumento dos preços.

Boulhosa chama a atenção, como um complicador para a falta de ações concretas do governo para resolver o déficit fiscal. O economista menciona que o Brasil ainda possui um número excessivo de ministérios e uma estrutura governamental ineficiente, o que contribui para o desperdício de recursos e eleva a inflação. "Enquanto a responsabilidade fiscal não for levada a sério, a população continuará a sofrer com a inflação", afirmou.

Segundo pesquisas do Dieese/Pa (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) do início de 2025, tomate, café e carne foram os alimentos que mais encareceram em janeiro na capital paraense. Eles tiveram aumento de 12,57%, 9,10% e 8,81% no preço médio do quilo, respectivamente, em comparação com dezembro do ano passado. No primeiro mês deste ano, o tomate custou R$ 8,15; o café, R$ 54,57; e a carne, R$ 44,21.

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Quanto aos pescados, a piramutaba e a piracema foram as espécies que ficaram mais caras no mês passado nos mercados de Belém. Conforme o Dieese/Pa, de dezembro de 2024 a janeiro de 2025, os dois peixes encareceram 14,46% e 11,46% respectivamente. O preço médio da piramutaba passou de R$ 11,55 a R$ 13,22. Já a piracema variou de R$ 9,60 a R$ 10,70 no intervalo de um mês.

O açaí também está entre os alimentos com maior alta de preço no início do ano. De acordo com o Dieese/Pa, o preço médio do litro do tipo médio da bebida mais consumida pelos paraenses foi de R$ 22,98, em dezembro do ano passado, para R$ 26,02 em janeiro. O levantamento foi feito em feiras livres, pontos de vendas e supermercados de Belém.

Farinha, arroz, feijão e leite recuam de preço em janeiro

Embora a maioria dos alimentos da cesta básica comercializada em Belém tenha ficado mais cara, alguns produtos apresentaram recuos no primeiro mês do ano. É o caso da farinha, arroz, feijão e leite. Eles ficaram 0,28%, 1,36%, 1,64% e 1,71% mais baratos, respectivamente, entre dezembro de 2024 a janeiro de 2025.

Segundo o Dieese/Pa, o ano começou com o preço médio do quilo da farinha custando R$ 10,79; do arroz, R$ 7,26; do feijão, R$ 6. O preço médio do litro do leite comercializado na capital ficou em R$ 8,04 em janeiro.

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Para Everson Costa, supervisor técnico da instituição de pesquisa, a queda no preço desses alimentos se deve a dois motivos: boa safra e condição climática favorável. Ele acredita que os produtos devem manter a trajetória de preços mais baratos.

“Nós devemos ter para o mês de fevereiro novos recuos no feijão, no arroz. A nossa farinha de mandioca vai depender do que o nosso mercado vai trazer. Por que isso? Porque o inverno amazônico é algo que dificulta a distribuição e as trocas”, diz.

Tendência para pescado é de alta até Semana Santa

Segundo Costa, a trajetória de aumento no preço dos pescados se explica pelo período de defeso, época do ano em que a pesca de determinadas espécies é proibida ou controlada.

“Você tem aqui algumas condicionantes que influenciam não só no tempo maior de captura, no custo maior, mas também na diminuição da oferta”, declara Everson Costa.

O supervisor técnico lembra que o Pará é um dos maiores produtores de pescado do Brasil. Por isso, “a busca pelo pescado aumenta no começo de cada ano e é muito comum porque o preço do pescado se manter elevado, pelo menos até depois da Semana Santa”, explica.

Açaí deve seguir caro até abril

Conforme Everson Costa, “o açaí, infelizmente, ele não tem uma política de defeso, de garantia de preços, não tem uma política que consiga nos dar um diagnóstico ou uma percepção de que alguma ferramenta possa ser utilizada para equilibrar esses preços.” Por isso, o açaí deve seguir com preço alto até meados de abril.

A produção do açaí, na visão do supervisor técnico, é em grande medida artesanal e desorganizada. Além disso, há falta de conhecimento na cadeia produtiva.

“Com a venda e comercialização cada vez mais crescente, sem uma política aqui de tratamento para isso, aquilo que é ofertado aqui dentro do estado acaba sendo penalizado em detrimento do fator exportação”, afirma Costa.

Ele explica que a busca e compra do açaí por outros estados e países ajudam a tornar o produto mais caro. “O mercado está livre. Quem paga mais leva mais”, declara.

Frango pode encarecer até março

Embora seja a proteína mais barata, em comparação à carne e ao peixe, o frango tem tendência de alta em Belém. Segundo Everson Costa, os preços, principalmente nos supermercados, indicam uma continuidade do aumento do preço até março no mínimo.

Para ele, o aumento se deu pelo custo de produção e exportação. “O excesso de calor em algumas áreas produtoras prejudicaram não só os ovos, mas também a produção de frango. Então isso aí traz reflexos direto para o varejo, para o consumidor final. O resultado é o frango mais caro”, explica Costa.

Ovo deve ter novos aumentos

De acordo com o supervisor técnico do Dieese/Pa, a proteína mais barata ainda é a unidade do ovo.

“Quem não consegue comprar o peixe, por mais barato e popular que seja, o ovo vai a calhar e como o frango subiu muito de preço, ainda resta o ovo aqui para tentar compor essa alimentação”, lembra.

Para ele, no Brasil, o calor excessivo somado com o aumento do custo de fabricação e produção foram cruciais para o encarecimento da proteína.

“A ração ficou mais cara, o frete se elevou, os insumos que vêm de fora para cá, para a produção de frango e ovos, também ficaram mais caros. E com isso, a gente teve uma combinação de uma menor oferta, de preços de produção mais elevados e uma alta demanda externa. Resultado disso, uma oferta menor dos ovos no território brasileiro”, detalha.

Embora o Brasil seja autossuficiente na produção dos ovos, isso não foi fator para a queda ou manutenção do preço do alimento no país. “A gente está vendo os Estados Unidos aí pagando o verdadeiro absurdo pelo preço dos ovos e o que essa potência mundial faz? Ela vai comprar os ovos de quem produz mais”, diz.

Chefe de cozinha aponta alimentos mais caros

Eduardo Brito, chefe de cozinha, dono de casa e frequentador assíduo de supermercados, aponta que o feijão, o arroz, o óleo e o café foram os alimentos que mais encareceram no início do ano em Belém. “Tô pagando hoje R$ 7 pelo feijão, R$ 6 pelo café, R$ 8 pelo óleo e R$ 13 pelo café”, diz.

Ele não observou queda significativa no preço de nenhum item que costuma comprar. “Frango e macarrão se mantiveram naquele limite. Nem aumentaram nem baixaram. Não teve alteração pra mim”, revela. O chefe de cozinha compra a bandeja do frango atualmente por R$ 11 e o macarrão por R$ 2,4.

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