Sem derivar de petróleo, preço do etanol sobe junto com da gasolina

Especialista explica por que o litro de álcool encarece mesmo não tendo petróleo em sua composição

Elisa Vaz

A alta dos preços dos combustíveis derivados de petróleo é sentida diariamente por quem abastece seu veículo. Há algum tempo, uma série de fatores contribui para que esse produto fique mais caro, como a recessão provocada pela pandemia da covid-19 e, mais recentemente, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia – este primeiro país é o terceiro maior produtor de petróleo do mundo, e o conflito fez a gasolina, derivada do produto, ficar mais cara. Na prática, no entanto, mesmo os combustíveis que não têm o petróleo em sua composição, como o etanol, estão expressivamente mais caros para o consumidor.

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Considerada uma opção mais barata para os motoristas, o álcool pode ser produzido de diferentes formas, sendo que a mais comum é pela fermentação de açúcares, encontrados em vegetais como milho, beterraba e, principalmente, cana-de-açúcar, principal matéria-prima do etanol no país e também a base de produtos essenciais na cadeia alimentícia brasileira: açúcar e o álcool utilizado em bebidas alcoólicas. Mas a ausência de petróleo em sua composição não impede que o etanol fique mais caro, e o economista Sérgio Melo, do Conselho Regional de Economia do Pará e Amapá (Corecon-PA/AP), explica que o efeito ocorre devido aos mecanismos de mercado, no qual as variações de oferta e demanda atuam nas alterações dos preços praticados.

“Mais especificamente, a gasolina e o etanol hidratado (aquele vendido diretamente ao consumidor como combustível) se comportam como bens substitutos, ou seja, a alta no preço da gasolina faz diminuir a sua demanda de acordo com as restrições de renda dos consumidores, aumentando a demanda por etanol hidratado e, assim, seu preço”, ressalta. O “efeito substituição”, na prática, pode ser entendido como uma concorrência entre produtos, a qual, dependendo das circunstâncias do mercado, pode interferir na escolha do consumidor, modificando a quantidade demandada e os preços de venda.

Há outros vários pontos que influenciam a oferta e, com isso, o custo do etanol. Um deles é que os produtores, em sua maioria, podem escolher produzir etanol (hidratado ou anidro) ou açúcar com a cana-de-açúcar disponível. O economista avalia que, assim, quando o preço do açúcar se eleva ou o do etanol cai, pode ser mais vantajoso produzir açúcar do que álcool. “Há ainda casos em que é mais vantajoso produzir o etanol anidro, que é misturado à gasolina. Além disso, geadas e secas podem diminuir a oferta de etanol, aumentando o preço”.

Desabastecimento

O alto consumo de etanol no país, por conta da elevação do preço da gasolina, preocupa especialistas quanto ao desabastecimento do produto para a produção de outros itens, especialmente com a queda na produção. Como consta em uma reportagem da Invest News, a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica) aponta que a última safra sofreu uma redução de mais de 80 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por conta do clima, que teve desde geada a focos de incêndio, reduzindo tanto a oferta de açúcar como a oferta de etanol. Com isso, os preços oscilaram e, em alguns momentos, ficou muito mais favorável à gasolina e, em outros momentos, mais favorável ao etanol.

Sérgio Melo afirma que os próprios empresários tendem a elevar o preço do etanol justamente para impedir o desabastecimento. “O preço do etanol é formado a partir das chamadas forças de mercado, ou seja, quando a oferta do combustível se torna muito menor que a demanda, tornando-o escasso, os empresários elevam os preços, o que pode muitas vezes impedir o desabastecimento”, diz.

É importante estimular a produção de álcool no país para diminuir a dependência dos combustíveis fósseis (gasolina e diesel) em razão do aspecto ambiental, na opinião do economista. Afinal, há a necessidade de elevar a sustentabilidade ambiental da matriz energética brasileira. Além disso, uma produção maior poderia atenuar a dependência dos choques de preços internacionais do petróleo, como os que ocorreram em decorrência da pandemia da covid-19 e da guerra na Ucrânia.

Preços

Segundo uma pesquisa do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com base em dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o litro do etanol custava uma média de R$ 6,19 em junho no Pará, enquanto a gasolina era encontrada a uma média de R$ 7,25 no mesmo mês, mostra o órgão. Mesmo sendo, em geral, mais barato que a gasolina, nem sempre compensa abastecer com álcool. O economista Sérgio Melo ressalta que o etanol precisa custar 70% da gasolina para a substituição ser benéfica ao consumidor, já que a gasolina provê maior autonomia aos veículos a cada litro.

Além do mais, uma reportagem de O LIBERAL publicada no dia 8 deste mês mostrou que consumidores de Belém já encontram o litro da gasolina pelo preço de R$ 5,69 em postos de combustíveis. A queda ocorre em meio à publicação do decreto que estabelece um teto de 17% na cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em cima de produtos essenciais no Pará, como os combustíveis. Antes, a alíquota do tributo era de 28% para gasolina e de 25% sobre o etanol.

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Embora as quedas no preço do etanol também tenham ocorrido, Sérgio diz que elas tiveram menor proporção, já que a gasolina tinha alíquota maior. “Atualmente, em apenas dois Estados (Mato Grosso e São Paulo) é vantajoso comprar álcool no lugar da gasolina. Além disso, o etanol possui distribuição menos pulverizada e mais custosa que a gasolina. Por fim, os efeitos climáticos afetaram a safra de cana-de-açúcar deste ano, o que influenciou a oferta de etanol”, pontua.

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Fora a redução do ICMS, outra medida adotada pelo governo é zerar o imposto de importação do etanol até 31 de dezembro como forma de incentivar o mercado. Mas o impacto da medida é quase imperceptível para o consumidor no curto prazo, opina o economista. Ele diz que o etanol de milho dos Estados Unidos é a principal origem das importações de etanol no Brasil e, considerando que os preços de commodities aumentaram com a guerra na Ucrânia, além da baixa participação do etanol importado na oferta nacional, o impacto da medida não deve ser notado.

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