Segmento plus size ganha espaço no mercado
Consumidores ainda sentem dificuldades para encontrar peças diferentes e em vários estilos

Até o final deste ano, o mercado plus size, que é voltado para as pessoas gordas, deve crescer cerca de 10%, segundo a Associação Brasil Plus Size (ABPS). Nos últimos três anos, a entidade afirma que houve crescimento de 21% nos segmentos de vestuário para homens e mulheres com sobrepeso. E mesmo com a crise econômica provocada pela pandemia da covid-19, que derrubou as vendas do varejo da moda em 22,7% no ano de 2020, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o mercado plus size mostrou seu potencial e respondeu por uma alta de 10%.
A publicitária Melina Ribeiro de Almeida, de 33 anos, é empresária e atua no ramo da moda feminina há uma década. No início, ela tinha uma variedade de peças, sendo que a maior quantidade era de moda slim, para pessoas magras, e poucos produtos do segmento plus size. Porém, com o tempo, ela percebeu que havia muita demanda desse público e passou a aumentar a quantidade de peças voltadas para mulheres gordas e, há quatro anos, se especializou neste segmento.
“O que me incentivou, primeiro, foi a grande procura. Percebi que havia muita necessidade desse público, tinha escassez no mercado, ainda mais anos atrás, quando me especializei. Infelizmente, ainda existe preconceito, Belém tem poucas lojas plus size. Mas acredito que o cenário já tenha mudado um pouco, a internet ajudou nisso, falamos mais sobre acessibilidade e vemos até lojas que não são especializadas no segmento colocando peças”, diz.
Falta investimento
Segundo a empresária, um dos maiores empecilhos para que mais lojistas atuem no ramo plus size é o investimento, que costuma ser mais alto do que em roupas slim, por terem um tamanho maior. Quanto às lojas existentes, ela critica os preços, que são elevados, e além disso afirma que a maioria das empresas não dispõe de muita variedade de peças.
“O meu diferencial é que trabalho até o número 56, com um valor popular e acessível, que as pessoas podem pagar. Quando comecei a atuar nessa área, as lojas que eu conhecia cobravam R$ 250 em uma peça, nem todos têm condições. Essa questão de preço é bem complicada em Belém. Então eu vim com a proposta de segmentar com um bom valor. Outra vantagem: eu ofereço variedade. No mercado em geral, é difícil encontrar isso na área plus size. Mas eu atendo todas as idades e estilos, tenho roupa para trabalhar, para sair, tenho cropped, tudo em várias cores”, destaca Melina.
A empresária também tem parcerias com modelos plus size locais, que vão até o espaço físico para mostrar as peças nas redes sociais. Dessa forma, ela diz que as consumidoras veem mais “verdade” na marca, porque são corpos reais, de mulheres paraenses, sem edição e com produção própria, e ficam mais abertas a comprar as roupas, mas também a se aceitarem.
Além, da loja física, também é possível comprar de forma online, com delivery, para quem não vê necessidade de experimentar as peças. Nos últimos quatro anos, a empresária viu seu faturamento crescer cerca de 60%, impulsionado também pelas redes sociais. Melina começou trabalhando sozinha e hoje já tem mais duas pessoas na equipe.
Dificuldades
Gastrônoma, Camila Dias, de 25 anos, é uma mulher que vive com sobrepeso e conta que levou muito tempo para se aceitar. “A visão da aceitação foi um processo bem longo que ainda acontece. Há dias em que os comentários me afetam e outros em que eu consigo ignorar e seguir minha vida. Agora, nesse momento, eu me sinto mais forte e mais convicta do que eu acredito e isso tem me ajudado muito, até a tentar ter uma vida mais saudável sem ficar me punindo e me maltratando”, afirma.
Ela diz que o preconceito existe em toda a sociedade, seja nas falas e atitudes das pessoas ou mesmo nos espaços físicos sociais. Camila acredita que é “privilegiada” por caber minimamente em cadeiras, mas sente que os espaços não são pensados para gordos maiores. “Parece que tudo é feito para pessoas magras e isso causa um constrangimento muito grande em quem é gordo. Eu sempre noto olhares e as pessoas não têm vergonha de fazer comentários maldosos sobre os nossos corpos”, conta ela.
Em relação à moda, a gastrônoma também tem dificuldades enquanto consumidora. Para Camila, há uma falta de vontade de acolher esse público. Por conta disso, há dois anos a jovem não compra roupas em lojas físicas e raramente vai aos shopping centers para fazer compras de vestuário - só entra em lojas onde tem certeza de que há o seu tamanho. Quando ela precisa entrar em um estabelecimento onde sabe que terá dificuldades, precisa evitar contato com as vendedoras.
Estilo
Camila também não consegue encontrar peças do seu estilo com facilidade; tem a percepção de que há apenas um estilo disponível para mulheres gordas. “A sociedade regulamenta o que nós, mulheres, devemos vestir. Mulheres jovens têm uma gama de opções, desde as mais comportadas às mais ousadas, e mulheres gordas e maduras devem se vestir de maneira sóbria e comportada. Já tem algumas lojas aqui em Belém mudando isso, mas, ainda assim, sinto que elas estão presas na sobriedade. Então, só compro pela internet, porque lá eu consigo encontrar roupas que têm o meu estilo mais colorido e ousado”, relata a consumidora.
Para a gastrônoma, levando em consideração que 62,3% das mulheres no Brasil estão com sobrepeso, é até “leviano” não levar em consideração que esse público quer, deve e pode vestir-se bem. Na avaliação de Camila, faltam marcas e lojistas que se interessem mais por esse público e busquem modelagens que vestem bem em todos os tipos de corpos. “É importante lembrar que existem mulheres gordas com pouco peito e também com pouco glúteo, e que nós também queremos nos vestir bem, com conforto, nos sentindo lindas e sexys. Por que não?”, questiona a jovem.
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