Restaurantes de Outeiro e Icoaraci registram queda de até 70% na procura por peixes

Casos suspeitos da doença da urina preta alarmaram consumidores e procura inclusive por crustáceos diminui em estabelecimentos

Natália Mello
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O movimento dos restaurantes nos distritos que abrigam balneários bastante procurados na região metropolitana Grande Belém costuma ser intenso, especialmente nos finais de semana, mas a procura por peixes caiu drasticamente após a proliferação de informações a respeito da Síndrome de Haff, popularmente conhecida como doença da urina preta. Em um estabelecimento localizado em Icoaraci, cujo carro chefe da cozinha são os pescados, a retração dessa demanda chega a 70%.

No Pará, a Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa) informou, por meio do Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (CIEVS), que investiga 10 casos suspeitos da síndrome de Haff, sendo Belém (02), Santarém (06), Trairão (01) e Almeirim (01). Um outro caso que havia sido notificado em Belém foi descartado, pelo Laboratório Central do Estado (Lacen-PA) após amostra ter dado positiva para leptospirose.

image João de Barros, proprietário de restaurante, deixou de comer apenas as espécies listadas (Thiago Gomes / O Liberal)

Assim como pescadores e comerciantes, e ainda donos de indústrias, os proprietários de restaurantes veem a falta de informação como um problema. “A notícia se espalhou e nossa venda caiu em torno de 70%. E o nosso restaurante é uma peixaria. A verdade é que muitos clientes não têm a informação concreta do que vem acontecendo, inclusive deixam de comer até camarão. Eu, por exemplo, só deixei de comer os específicos informados, que são tambaqui e pirapitinga. Tínhamos o tambaqui de brasa no cardápio e até tiramos por conta disso”, afirmou João Barros, dono de um estabelecimento localizado na Orla de Icoaraci.

Estoque

O empresário conta que compra em torno de 1,5 toneladas de peixe por semana e, deste total, 150 quilos é para o restaurante. Contudo, com a queda da procura, tem ficado produto no estoque e, para não acumularem prejuízos, junto com o sócio, ele optou por diminuir a quantidade de pescado adquirida.

“Os clientes chegam e perguntam ‘o que você tem que não seja peixe?’. A gente fica preocupado, ainda não chegamos a ter grandes prejuízos, porque nosso produto é fresco, e em grande parte trabalhamos com filhote, pescada amarela, dourada, tínhamos também tucunaré e tambaqui, mas agora estamos sem tambaqui e as pessoas ainda assim estão preferindo pedir carne e frango”, explica.

João relata que, do público que restou do movimento do restaurante (30%), em sua maioria são clientes que não optam por peixes. “As pessoas, pelo menos por aqui, deixaram mais de sair para comer fora de casa, para comer aquilo que não conseguem ver o preparo, o manejo, de onde vem. Creio que é preciso de mais informação precisa para evitar que as informações erradas se espalhem e levem a um colapso”, conclui. 

Até mariscos

Maria Luiza Rodrigues passou os últimos 20 anos dos 54 de vida atuando como cozinheira, e trabalha no restaurante desde a antiga gestão. Ela lembra que, aos domingos, costumava preparar vários pratos com peixe. “Eu trabalhei aqui desde o antigo restaurante ‘Na Telha’ e adoro cozinhar peixe, mas a situação para a gente está difícil, porque o restaurante é grande, e as pessoas estão com medo de tudo. O peixe na telha que é o nosso prato carro chefe parou bem mais de sair pedido. Até os pedidos de marisco diminuíram”, relata.

image Maria Luiza afirma que adora cozinhar peixe, mas diz que "a situação está difícil" (Thiago Gomes / O Liberal)

Em Outeiro, o cenário não é muito diferente. Wanderson Diniz é garçom em um restaurante na Praia Grande, uma das mais movimentadas do distrito. Há sete anos trabalhando no balneário, ele lembra que nos dias de semana a procura era intensa, sempre perto do almoço e, principalmente, depois das 14h. Mas essa realidade mudou nas últimas duas semanas. “Caiu a procura pelo peixe e olha que a gente vende só dourada. Sobrou muito peixe essa semana, até voltar pedido de peixe para a cozinha já voltou, porque a pessoa pediu e se arrependeu. É difícil até porque a gente trabalha com a venda, com o público. A gente continua comendo aqui”, afirma.

A cozinheira do local, Edilene da Silva, tem 39 anos e atua no ramo há três. Ela conta que os peixes são comprados diariamente para abastecer o estoque, mas como tem sobrado, os donos do restaurante diminuíram o volume de compras. “Estamos deixando de comprar mesmo, porque as pessoas deixaram de pedir pratos com peixe. A situação está difícil”, conclui.

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